O Estado e o desafio de equilibrar as contas
19/05/2015
Editorial - Jornal do Comércio
Pronto, o Rio Grande do Sul chegou ao limite da irresponsabilidade quanto aos cuidados com as finanças. O que aconteceu em nível do Tesouro Nacional, tudo indica, está bem pior aqui no Estado.
Por isso, precisamos implantar uma autêntica teologia da educação financeira para que, não amanhã ou depois, mas em um futuro razoável consigamos praticar algo elementar, gastar apenas o que é arrecadado, de todas as formas, dos setores produtivos, dos empregados públicos e particulares, e girar a roda da economia com investimentos, gerando empregos e, com eles, dando segurança social e nivelando melhor as pessoas.
Não em classes, nas quais, como é tradição no País, os mais pobres sofrem mais, pagam mais e não percebem, passando de pais para filhos, de avôs para netos, uma sensível melhoria de vida como desejam. Chegamos ao parcelamento dos vencimentos do funcionalismo e ao atraso do pagamento da vultosa parcela de R$ 280 milhões mensais para a União, além de fornecedores, e chegando à sensível área da saúde pública, quando as entidades filantrópicas reclamam que ainda têm verbas de 2014 para receber.
O governo atual pretende lançar um programa de 100 metas, o qual, logo em seguida, foi criticado por muitos, fazendo trocadilho com um governo "sem metas". No entanto, sem dinheiro, o que adianta anunciar metas se as eventuais promessas não serão cumpridas?
Por isso, precisamos mudar o rumo das finanças públicas no Estado, não aceitando somente retirar dinheiro de outras fontes que não as estipuladas em lei. Mesmo sabendo que, adiante, o dinheiro terá que ser devolvido, com juros e correção monetária, faz-se uso dele sem parcimônia. O significado etimológico de teologia vem de theos, palavra grega que significa Deus, e logos, ou palavra, estudo ou tratado. Assim, teologia sempre seria o estudo das coisas de Deus. Mas, no mundo atual, bastante materialista, onde o poder e o dinheiro, erradamente, mas às vezes, estão acima do pragmatismo e até mesmo da moral, é fundamental voltarmos à contagem do que se arrecada e do que se gasta, equilibrando ambos os valores.
Neste mês, será aplicado o parcelamento dos vencimentos no Rio Grande do Sul, para contrariedade de milhares de servidores. Mesmo que o corte atinja os que mais recebem, livrando os de menor recursos, entidades classistas do funcionalismo reclamaram. Claro, é atitude antipática, não a ideal, mas pode-se perguntar, na situação em que as finanças gaúchas chegaram ao limite da irresponsabilidade nos gastos: o que se pode fazer, além de ajustes rigorosos? Para quem deixar o emocionalismo de lado, provavelmente não haverá solução e, segundo se depreende do que as autoridades fazendárias estaduais falaram, em 2015 não haverá melhora. É profundamente lamentável que o Estado fique de joelhos, sem condições de fazer mais e melhor. Porém, os mais velhos devem se lembrar de secretários da Fazenda que alertavam, há mais de 30 anos, que a situação não estava boa.
É chegado o momento de todos os poderes buscarem o corte de tudo o que não for indispensável. E também, por uma questão de solidariedade, que esse parcelamento não fique apenas no Executivo, mas também seja assumido pelo Legislativo e o Judiciário. Não resolverá a questão financeira. Porém, o exemplo marcará, quem sabe, a etapa fundamental para que o Rio Grande do Sul supere o descalabro financeiro, pelo menos até o final de 2016, conforme previsões.
(Fonte: Jornal do Comércio, 19 de maio de 2015)
|