Discurso do presidente do Afocefe na abertura do 15º Sefaz Debate
23/03/2015
Sirvam, também, as façanhas dos outros de modelo à nossa
terra
O hino rio-grandense, tão cantado com orgulho e
altivez, traz uma notória estrofe: “sirvam nossas façanhas de modelo a toda
terra”.
Inspirado, por certo, no ideário farroupilha, passou também
a traduzir o orgulho dos gaúchos por um Estado que se distinguia pelo progresso
proporcionado pela educação de qualidade; pela produtividade rural; pela
excelência dos seus rebanhos; pela qualidade da mão-de-obra, que tocava uma
vigorosa industrialização; pelos feitos esportivos de suas duas principais
forças futebolísticas; e pela reputação de seus políticos.
Essa distinção, inclusive, determinou a presença de
gaúchos na ampliação das fronteiras agrícolas de diversos estados. Vizinhos,
como Santa Catarina e Paraná, ou longínquos, como Mato Grosso, Goiás, Bahia,
Pará e até Roraima; o mesmo acontecendo em outras áreas, como a política, que
notabilizou pela referência nacional gaúchos como Assis Brasil, Flores da
Cunha, Osvaldo Aranha, Getúlio Vargas e Leonel Brizola.
Passaram-se os anos, e muito daquilo que era realidade
reduziu-se a slogans. Hoje o Rio Grande do Sul perde, no cenário nacional,
posições nos quesitos básicos de desenvolvimento social, político e econômico.
O viés da inovação e desbravamento demonstrado em outros
tempos acabou por contaminar nossa capacidade de recepcionar práticas bem
sucedidas desenvolvidas fora de nossos limites territoriais.
A tradição de não reeleger governadores, por exemplo,
vista por alguns como virtude de um povo politizado e contestador, tem imposto
ao Rio Grande um “marcar passo” em relação a outros Estados, que proporcionam
aos seus gestores o tempo necessário para sedimentar e consolidar projetos
fundamentais ao seu desenvolvimento. Aqui, a cada quatro anos volta-se ao ponto
de partida, abandonando boas iniciativas, muitas vezes em fase de
implementação.
Nas finanças públicas, esse fenômeno também é percebido.
De forma recorrente os governadores que assumem, assombram a população com
dados que retratam uma situação caótica. Para enfrentar uma gama de despesas,
inevitavelmente crescentes, contam com recursos que se escasseiam. Acenam com a
austeridade, em outras palavras, redução de serviços públicos que, nas áreas
prioritárias, já são precários.
Fala-se em dívida, fala-se em cortes de despesa, fala-se
em fontes alternativas, mas quase nada se fala sobre as fontes tradicionais de
receita. Será que estão esgotadas? E as outras terras, os outros Estados,
também entendem assim?
O Afocefe Sindicato, para responder esta questão, saiu a
campo e deparou-se com outras realidades. Constatação: as fontes tradicionais
de receita não estão esgotadas.
O nosso Estado, focando aumento de arrecadação em um
único projeto proporcionado pela evolução digital, o controle das informações prestadas pelos
contribuintes, ou monitoramento virtual, reduziu os controles físicos das
operações de circulação de mercadorias, fonte real (fato gerador) do ICMS, sem
nunca ter havido um trabalho técnico consistente, de profundidade, que sustentasse
tal medida. O Posto Fiscal de Guaíba foi fechado sem resistência a um argumento
que, em realidade, o justificava: “as empresas da metade sul estariam sendo
prejudicadas pela fiscalização”. Não vou gastar o precioso tempo de vocês para
explicar o óbvio, que fiscalização não prejudica as empresas, ao contrário, as
protege.
“A Nota Fiscal Eletrônica resolve tudo” é o que dizem.
A nota fiscal é virtual, mas a mercadoria é real, é
tangível. A circulação de documentos por meios eletrônicos não garante a execução
da operação comercial equivalente, ou seja, o confronto entre a informação
virtual e a operação física é insubstituível.
Outros Estados, e hoje aqui será evidenciado, apostaram
no aumento da percepção de risco; revisaram práticas de controle de trânsito
utilizando tecnologia de ponta. Ninguém é tolo em ir contra ao avanço
tecnológico.
Fomos conhecer experiências exitosas. Muito bem
recebidos, e gostamos do que vimos, no Ceará, em Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Paraíba. Também no Rio de Janeiro. Hoje estamos trazendo para a discussão
local algumas das façanhas desses Estados: fiscalização integrada, presença mais
visível do Estado. Enfim, vimos superação de corporativismo, quebra de
paradigmas, mais auscultação da sociedade.
Obrigado aos amigos que atenderam nosso apelo para que
viessem expor seus “cases”.
Antes de buscar fontes alternativas de receita, antes de
propor aumento de alíquotas (lembram do aumento da alíquota de combustíveis,
que em outros tempos escancarou a ineficiência fazendária?), antes de reduzir a
prestação do serviço público, cabe vitalizar a fiscalização do trânsito de
mercadorias, garantindo o aumento da arrecadação corrente, com processos
modernos, com servidores capacitados e em número suficiente. Investimentos que
retornam ao Erário em prazos curtos.
Reafirmamos assim, com convicção, que a nomeação de
Técnicos Tributários da Receita Estadual não representa aumento de despesa. Nem
a de Auditores Fiscais. Aliás, nomeá-los possibilita fechar os verdadeiros
corredores de sonegação com equipes de emprego rápido, dando resposta imediata
à fraca sensação de risco percebida até pelos sindicatos empresariais que nos
visitaram, e demandam mais fiscalização ostensiva ao Governo.
O que defendemos é a intensificação de operações como a “parada
obrigatória”, de dois dias atrás, com ampla divulgação pela imprensa. Ultimamente
os meios de comunicação muito se repetiam na divulgação das dificuldades do
Estado.
Buscar, e copiar, modelos desenvolvidos em outros Estados
não irá nos diminuir. O que nos diminui é a ineficiência em combater a
sonegação, o que nos diminui é o orgulho retrógrado, o que nos diminui é a
incapacidade de garantir, no mínimo, a manutenção do status quo.
A sociedade quer ação, quer trabalho, quer economia
pulsante. Os Técnicos Tributários querem espaço para trabalhar.
Sirvam, portanto, para isso, também as façanhas dos outros, de modelo a nossa terra.
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