Sob pressão de varejistas, diferencial de alíquota para MPEs optantes do Simples foi rejeitado por 3
A Assembleia
Legislativa aprovou na noite de ontem por unanimidade o fim da cobrança
do Diferencial de Alíquota (Difa) para micro e pequenas empresas (MPEs)
optantes do Simples Nacional. A arrecadação com a alíquota de 5% sobre
produtos comprados fora do Rio Grande do Sul gera por ano cerca de R$
200 milhões, segundo a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz). O Projeto
de Lei 376/2013 alterou a legislação do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) impedindo a aplicação do Difa, com
vigência provavelmente em 2014, caso seja sancionado.
A
decisão, que aguardará ainda a sanção, só poderá ser questionada na
Justiça por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin). Fontes
da própria Sefaz admitem que a proposta altera a lei. Lojistas de
diversas regiões do Estado mantiveram vigília de dez horas para
assegurar que os parlamentares não adiariam a votação. Não deram trégua
nas galerias do Legislativo. “Foi um presente de Natal da Assembleia aos
pequenos lojistas. O Parlamento devolveu esperança e Justiça a 77 mil
empresas”, comemorou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de
Porto Alegre (CDL-POA), Gustavo Schifino.
Durante o
dia, o deputado Frederico Antunes (PP), autor da proposta, convocou
abertamente os lojistas a permanecerem nas galerias. “Tem de sustentar o
pessoal aqui até o fim do dia, até limpar a pauta.” A votação teve 37
votos unânimes em favor do fim do Difa. O PL insere um dispositivo que
impede o retorno do diferencial. Em setembro, a Assembleia tentou
derrubar os 5% por meio de um decreto legislativo, que não foi
reconhecido como legal pela Fazenda, que continuou a exigir o
recolhimento do imposto. A atitude gerou confusão. Segundo a Federasul,
40% das MPEs pagaram o tributo, e o restante depositou em juízo ou
deixou de pagar.
A longa espera até a decisão
ocorreu devido à fila de projetos para apreciação do Legislativo antes
do recesso, que começa na semana que vem. O PL, com origem na Mesa
Diretora, que acelerou em fim de novembro a inclusão na pauta da
proposta baseada em proposição de Antunes (PP), acabou sendo beneficiado
por alteração na ordem de apreciação da sessão. O deputado da base
governista Raul Pont (PT) reforçou que o Legislativo não pode retirar
receita do Executivo. “É equivocado, é ilegal. Empresas que não querem
pagar que saiam do Simples, onde elas já têm tratamento diferenciado”,
reagiu Pont.
A CDL-POA, a Federasul, a
Fecomércio-RS e a Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo
(AGV) se uniram no Movimento Chega de Mordida!, lançado na metade do ano
e que conseguiu derrotar o governo estadual, que se mantém contra a
extinção da alíquota. Por seis meses, o movimento manteve queda de braço
com o governo estadual, principalmente com interlocutores da Fazenda.
Em dezembro, o governo acionou duas medidas para tentar desmobilizar as
entidades. Na sexta-feira passada, eliminou juros e multas para MPEs no
programa de renegociação de dívidas - o Em Dia 2013. Na segunda-feira,
reuniu entidades no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e
propôs a criação de uma lista de exceção, que isentaria do Difa as
mercadorias sem oferta local.
A tese do governo e
da Federação das Indústrias (Fiergs) é que o fim da alíquota provocará o
fechamento de empresas devido a perdas de vendas, além de ingresso
maior de importados do leste asiático, como da China. A lista não
emplacou e colheu discordância de lojistas e até da indústria. “Seria
muito burocrático de aplicar na prática”, justificou a vice-presidente
da Federasul, Simone Leite, que apontou a abertura das entidades em
ouvir e buscar uma solução. A Fiergs prefere a redução do ICMS para
produtos locais, receita adotada no Paraná. Mas o secretário adjunto da
Sefaz, André Paiva, avisou que o governo paranaense elevou outros
tributos.
De Passo Fundo, lojistas vieram em peso.
A presidente do Sincomércio, Sueli Morandini Marini, disse que o setor
não tem como concorrer com redes maiores pagando os 5%. “Vendo
confecções, e a indústria gaúcha não tem variedade, é mais roupa para
frio”, exemplificou Sueli. A dirigente da região do Planalto lembrou que
os pequenos lojistas estão sofrendo também com a concorrência das
vendas pela internet. Simone Leite avaliou que os deputados estão bem
informados sobre o impacto e considera que o ingresso com Adin pode não
ocorrer. “O ano que vem tem eleição, acho difícil”, projetou a dirigente
da Federasul. Ela apontou ainda o novo foco da mobilização do setor: a
revisão dos patamares de preços de referência para a substituição
tributária. Segundo Simone, os preços médios de venda usados para
aplicar o sistema implantado estariam acima da realidade de operação dos
negócios.