Auditores presos por fraude serão afastados por 120 dias, diz Prefeitura de São Paulo
13/11/2013
COMENTÁRIO AFOCEFE:
O AFOCEFE Sindicato se orgulha de sempre ter defendido o
controle social sobre a administração tributária, segundo preceitos da Lei de
Responsabilidade Fiscal. O poder relativo corrompe relativamente. O poder
absoluto corrompe absolutamente.
Afastamento será publicado no Diário Oficial da Cidade, diz nota. Auditor Luís Alexandre Magalhães já havia sido afastado na terça-feira (5).
Os auditores fiscais suspeitos de participar de um esquema para fraudar
a cobrança do Imposto Sobre Serviços (ISS) de construtoras serão
afastados por 120 dias de seus cargos, informou a Secretaria de
Comunicação da Prefeitura de São Paulo, por meio de nota à imprensa, na noite desta sexta-feira (8).
Segundo o comunicado, o "afastamento dos servidores será publicado no
Diário Oficial da Cidade". "O auditor Luis Alexandre Cardoso Magalhães
já havia sido afastado no último dia 5. Eles são suspeitos de fraudar
até R$ 500 milhões em Imposto Sobre Serviços (ISS) cobrado sobre
empreendimentos imobiliários recém-construídos", completou.
O ex-subsecretário da Receita Municipal, Ronlison Bezerra Rodrigues, o
ex-diretor do Departamento de Arrecadação e Cobrança Eduardo Horle
Barcellos, ex-diretor da Divisão de Cadastro de Imóveis, Carlos Di Lallo
Leite do Amaral, estão detidos na carcageram do 77º distrito policial,
em Santa Cecília, região central da capital, desde 30 de outubro.
O agente de fiscalização Luís Alexandre Cardoso Magalhães também havia
sido preso no último dia 30, mas foi libertado na segunda-feira (4)
depois de assinar um acordo de delação premiada.
No final da tarde desta sexta-feira, os três funcionários foram levados
em um carro da Polícia Civil para o Instituto Médico Legal (IML) para
fazer exame de corpo de delito. Em seguida, retornaram para a delegacia
onde seguem presos.
O promotor Roberto Bodini descartou, nesta sexta-feira, pedir a
manutenção da prisão dos três auditores da Prefeitura. "Entendemos que o
tempo de prisão temporária cumpriu a finalidade", afirmou Bodini.
Segundo ele, a investigação do Ministério Público (MP) de São Paulo "não
é pessoal, não é política e não é partidária".
Kassab
O promotor Roberto Bodini disse nesta sexta-feira que vai investigar a
declaração de Ronilson Bezerra Rodrigues de que o secretário e o
prefeito com quem trabalhou, Gilberto Kassab (PSD), "tinham ciência de
tudo".
"Primeiro a gente tem que saber o que é o tudo. Precisamos saber se,
além de ter ciência, havia conivência e depois saber se havia intenção
de auferir vantagem", disse o promotor.
Para ele, a declaração de Ronilson é uma prova, mas falta aprofundar as
investigações. "Vou avançar no 'tudo", vou avançar no 'tinha ciência'.
Se necessário for, vou ouvir o secretário e o prefeito."
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afimou, também nesta sexta, que é preciso ter "cautela"
em relação às gravações telefônicas. "Não posso comentar. Está
instaurado no Ministério Público. Temos que ter cautela em relação a
isso. Está em boas mãos. As investigações estão andando", disse Haddad.
Bodini disse ainda que não vai pedir a manutenção da prisão dos três
auditores por suspeita de fraude no ISS. "Entendemos que o tempo de
prisão temporária cumpriu a finalidade", diz Bodini. Segundo ele, a
investigação do Ministério Público (MP) "não é pessoal, não é política e
não é partidária".
Escutas
Em telefonema gravado no dia 18 de setembro, com autorização da
Justiça, Ronilson reclama, com outra fiscal, que saiu no Diário Oficial
que ele está sendo investigado, dentro da Prefeitura.
“É um absurdo. Paula, tinha que chamar o secretário e o prefeito
também, você não acha? Chama o secretário e o prefeito que eu trabalhei.
Eles tinham ciência de tudo”, afirma Ronilson, que é acusado pelo
Ministério Público de comandar o esquema de corrupção.
A investigação já descobriu depósitos na boca do caixa em conta pessoal
de Ronilson Bezerra, ex-subsecretário da receita da gestão Gilberto Kassab, eleito pelo DEM e hoje no PSD.
Com dinheiro da propina, Ronilson Bezerra Rodrigues teria comprado pelo
menos 11 apartamentos e escritórios em São Paulo, Minas e Rio, além de
cabeças de gado para uma fazenda em Minas. Até agora, os promotores não
encontraram nenhuma prova de que Kassab soubesse da corrupção.
Kassab nega
Em nota, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab repudiou o que
chamou de "tentativas sórdidas" de envolver o nome dele em suspeitas de
irregularidades contra funcionários públicos municipais admitidos, há
anos, por concurso.
Kassab declarou que essa atitude tem objetivo escuso, exclusivamente
para atingir a imagem e a honra dele. Por fim, Kassab lembrou que a
investigação preliminar do esquema de propina começou em setembro de
2012 - e que só não terminou porque a gestão dele chegou ao fim. Ainda
segundo a nota, essa apuração foi transferida para a administração
atual.
O ex-secretário de Finanças de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, afirmou
que as acusações do auditor fiscal Ronilson, de que tinha ciência do
esquema, são absolutamente infundadas. Mauro Ricardo lembrou que
Ronilson foi investigado e exonerado do cargo de confiança ainda na
gestão de Kassab.
Entenda como funcionava a fraude
Segundo a investigação da Controladoria Geral do Município (CGM) e do
Ministério Público (MP), um grupo de auditores e fiscais fraudava o
recolhimento do Imposto sobre Serviços (ISS). Ele é calculado sobre o
custo total da obra e é condição para que o empreendedor imobiliário
obtenha o “Habite-se”.
O foco do desvio na arrecadação de tributos eram prédios residenciais e
comerciais de alto padrão, com custo de construção superior a R$ 50
milhões. Toda a operação, segundo o MP, era comandada por servidores
ligados à subsecretaria da Receita, da Secretaria de Finanças. O grupo
pode ter desviado cerca de R$ 500 milhões da Prefeitura.
Foram detidos na quarta-feira (30) o ex-subsecretário da Receita
Municipal Ronlison Bezerra Rodrigues (exonerado do cargo em 19 de
dezembro de 2012), Eduardo Horle Barcellos, ex-diretor do Departamento
de Arrecadação e Cobrança (exonerado em 21 de janeiro de 2013), Carlos
Di Lallo Leite do Amaral, ex-diretor da Divisão de Cadastro de Imóveis
(exonerado em 05 de fevereiro de 2013) e o agente de fiscalização Luis
Alexandre Cardoso Magalhães.
Além dos quatro, são investigados Fábio Camargo Remesso e o auditor
fiscal Amilcar José Cançado Lemos. Apesar da suspeita de envolvimento,
nenhum dos dois foi detido. Remesso foi exonerado no sábado (2). Ele
era assessor da Coordenação de Articulação Política e Social, da
Secretaria Municipal de Relações Governamentais. Já Lemos foi afastado e
deve ser exonerado na terça-feira (5).
Além do processo criminal, todos investigados serão alvos de processo
administrativo disciplinar. Uma comissão processante avalia se devem ser
demitidos.
A Justiça determinou o bloqueio dos bens dos quatro suspeitos detidos
inicialmente. Já foram localizados uma pousada de luxo em Visconde de
Mauá, apartamento de alto padrão em Juiz de Fora (MG), barcos,
automóveis de luxo. Há ainda indícios de contas ilegais em Nova York e
Miami, além de imóveis em Londres.
(Fonte: G1)
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