Está mais difícil comprar suplementos alimentares e anabolizantes clandestinos no Rio Grande do Sul. A retirada de circulação de quase três toneladas desses produtos nesta semana tende a reduzir em mais de 50% o mercado gaúcho.
A estimativa é baseada nas apreensões em 127 locais de venda. Para se ter ideia do tamanho do nocaute aplicado pela Polícia Civil, o número de estabelecimentos regulares, em dia com a legislação, chegaria a 10 no Estado, quase metade em Porto Alegre.
A projeção de queda na oferta também leva em conta a quantidade de presos (46) — sendo que mais de uma centena de pessoas será indiciada. Parte por tráfico de drogas — por vender substâncias consideradas entorpecentes —, outra por formação de quadrilha e também por crimes contra as relações de consumo, a saúde pública e a ordem tributária.
A ação policial — deflagrada nos últimos dias com a aproximação da temporada de calor no RS, quando o consumo cresce na busca pela boa forma — asfixiou o comércio ilegal em 16 cidades. Elas estariam conectadas em forma de uma rede, cuja descoberta foi possível com o auxílio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça em 29 linhas, das quais partiram 20 mil ligações. A facilidade de negociar e a procura, em especial de jovens, têm estimulado o crescimento de vendas dessas substâncias.
— Qualquer um está vendendo. Tem até mochileiro que busca anabolizantes em Santana do Livramento (na fronteira com o Uruguai) para revender em Porto Alegre — afirma o delegado Fernando Soares, da Delegacia do Consumidor (Decon), responsável pela investigação.
Os anabolizantes apareciam em prateleiras de lojas, farmácias e academias e também via sites e telefones. Só em Porto Alegre foram identificados 73 locais de venda, parte deles em moradias. Cerca de 10 pontos funcionavam como revendedores e outro como distribuidora com até laboratório de manipulação.
Maior parte dos produtos irregulares é importada
A imensa maioria das substâncias é importada — em geral, o consumo desses produtos é proibido no Brasil, em razão de riscos à saúde. O esquema mais profissional envolve pelo menos uma transportadora de grande porte estabelecida na zona norte da Capital (o nome não foi divulgado porque o caso tramita em segredo de Justiça).
Os anabolizantes eram transportados sem nota fiscal e, parte deles, remetida aos clientes mais distantes via correio. Aliás, foi por meio de uma inspeção da Receita Estadual no Posto de Distribuição dos Correios, na Avenida Sertório, na zona norte da Capital, em junho do ano passado, que o esquema começou a ser desarticulado.
Mesmo reduzindo a concorrência desleal, a ofensiva policial, de certo modo, acaba refletindo no mercado oficial.
— Abala a credibilidade no ramo legal, pois a grande maioria das pessoas acha que todos agem do mesmo modo — lamenta um empresário regularmente estabelecido na Capital que pediu para seu nome não ser divulgado.
RISCOS À SAÚDE
+ Considerados medicamentos, os anabolizantes são prescritos por médicos em tratamento de saúde — como, por exemplo, em doentes que precisam recuperar massa muscular — e só podem ser vendidos com apresentação de receituário médico.
+ Complementos alimentares são úteis para repor deficiências do organismo sob orientação de médico ou nutricionista, embora não seja exigido receituário médico.
+ De acordo com pesquisas, o consumo de suplementos e anabolizantes sem controle médico ou com substâncias proibidas pode levar à morte por doenças como hipertensão arterial, trombose cerebral, tumores no fígado, câncer de próstata, câncer nos rins, aumento de pelos no corpo feminino, queda de cabelo e doenças cardíacas.
+ Silvio Cardozo da Silveira, diretor-administrativo do Sindicato dos profissionais em Educação Física do Estado, alerta que, além de riscos à saúde, o consumidor também é vítima de propaganda enganosa, pois existem casos em que a quantidade de proteína é 70% menor do que a indicada no rótulo
+ Entre os itens apreendidos há casos de produtos contendo componentes cuja venda é proibida no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que não foram registrados pelo órgão.
+ Também foram recolhidos substâncias vendidas por estabelecimento sem licença legal e sem respeitar a legislação contendo rótulo em idioma estrangeiro.