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O COLAPSO DAS FINANÇAS - Editorial Zero Hora

04/04/2013

Ao lançar mão dos depósitos judiciais para pagar suas contas, o governo do Estado renova o atestado de falência da gestão financeira do setor público gaúcho, avalizado por sucessivas administrações. São muitos os argumentos utilizados pelo Executivo para recorrer a um procedimento com suporte legal, mas precariamente sustentado quando confrontado com as práticas da boa administração. Depósitos judiciais são recursos à espera de um veredicto, não pertencendo, por antecipação, a nenhuma das partes envolvidas. O que o Piratini faz é apropriar-se, mesmo que temporariamente, de verbas que não lhe pertencem, sempre sob a desculpa, já utilizada em governos anteriores, de que enfrenta uma situação emergencial.

         Desacertos mantidos por décadas, com breves interrupções, desautorizam os defensores da tese de que a falta de dinheiro é um arrocho transitório, provocado por circunstâncias anormais, como a queda na arrecadação em decorrência de uma seca, por exemplo. A urgência só existe porque o desencontro entre receita e despesa nunca foi combatido pelo Estado como questão estrutural, apesar dos inúmeros estudos realizados nesse sentido. Na origem do descompasso, está o inchaço estatal, a defasagem dos métodos de administração e o distanciamento do setor público da economia real. O Estado, no Rio Grande do Sul, configurou-se há muito tempo como um ente alheio às lições das atividades privadas. É assim que as deficiências gerenciais acabam por punir, com os altos custos de manutenção do governo, toda a sociedade. Custeia-se o funcionamento de uma máquina pública incapaz de levar adiante promessas de investimentos e de manter um nível razoável de qualidade nas áreas básicas da educação, saúde e segurança.

          Socorrendo-se de depósitos judiciais, o Piratini submete-se a um constrangimento que vem ajudando a ampliar, ao conceder reajustes salariais fartos a algumas categorias e ao ignorar a necessidade de racionalizar despesas de custeio. Reconheça-se que o Executivo também vem sendo boicotado em algumas das medidas saneadoras que tentou instituir, como o aumento da alíquota da contribuição previdenciária. Sem mudanças no modelo de gestão e sem a solidariedade dos demais poderes, a administração continuará recorrendo a recursos que não são seus, não como atitude pontual, mas como prática incorporada às suas rotinas.

         No mesmo dia em que se anunciou que o governo avançava mais uma vez nos depósitos, o próprio Executivo assistiu, impotente, ao reajuste de subsídios do Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Tribunal de Contas, por vinculações legais com a esfera federal. Quando se sabe que o Rio Grande do Sul é incapaz de assegurar o piso nacional ao magistério, causa perplexidade que algumas categorias detenham prerrogativas tão diferenciadas. São privilégios que, mesmo sustentados pela legislação, mas agregados à ineficiência e à omissão, ajudam a explicar por que o Estado só se mantém com a ajuda de um dinheiro que não é seu.


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