Qual é o limite do lucro?
13/06/2011
Se por um lado o Governo Tarso quer confiscar parte do salário de uma gama de servidores estaduais, por outro é possível constatar que quando se fala em lucro o céu é o limite. Ou será que a Azaleia deixou o Rio Grande do Sul porque corria mesmo o risco de quebrar? Será que a empresa calçadista não fez as malas atrás de uma lucratividade ilimitada?
Essas e outras perguntas foram suscitadas pelo presidente da AJURIS, João Ricardo dos Santos Costa. O magistrado foi um dos palestrantes da reunião-almoço promovida pelo Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco) - Delegacia Sindical em Porto Alegre, nesta sexta-feira (10/6).
"O que vale mais hoje em dia: o lucro ou o salário? O capital ou a força do trabalho? Este é um parâmetro para o debate que demonstra a total falta de simetria entre os dois. Ainda mais quando um terço do orçamento público é direcionado às isenções fiscais, o que prova que os salários são diminuídos em detrimento do lucro", disse ele, na abertura da palestra.
Também presidente da União Gaúcha em Defesa da Previdência Social e Pública, João Ricardo lembrou que isto se deve ao mito de que são os contribuintes que pagam o chamado déficit previdenciário. "A Previdência é um direito social, pois o Estado desconta parte dos vencimentos para dar assistência aos trabalhadores quando eles não têm mais condições de exercer a atividade laboral."
Traçando um paralelo com a situação de crise na União Europeia, ele afirmou que o modelo de Estado mínimo fez com que os governos não tivessem como reagir na Europa. "Enquanto isso, o Governo social-democrata que se instalou no Rio Grande do Sul apresenta um projeto de apequenamento do Estado e ainda fala no risco de nos transformarmos em Portugal. O risco que corremos é de termos o mesmo fracasso dos europeus que adotaram este modelo. Essas políticas e essa visão de Estado é que têm levado pobreza a várias nações", alertou.
O maior risco, segundo ele, é a implantação de um sistema de Previdência Complementar. "Se aproveitam de uma concepção equivocada de que a Previdência está falida, de que ela é deficitária. Esse dogma é um importante discurso, pois a Previdência brasileira é uma das maiores do mundo. É como se fosse um pré-sal para os grandes fundos de pensão que estão quebrados. Então se vende aqui a ideia de que, com a privatização, todos os problemas financeiros do Estado serão resolvidos e o Governo poderá voltar a investir, o que não é verdade."
Também citou os Estados Unidos. "Economistas norte-americanos têm feito comparações com os sistemas adotados na Europa. A constatação é de que o modelo privado deles onera mais as empresas do que os similares europeus. Mas o discurso aqui é outro, de que as empresas serão desoneradas. No entanto, o Governo dos EUA teve que cobrir o rombo dos fundos privados e ainda acolher várias camadas da população que ficaram desassistidas", explicou.
O Brasil, por outro lado, não sofreu tanto com a crise financeira, ressaltou João Ricardo, por ter um sistema de seguridade social estável e que evitou a estagnação da economia. "É por isso que não temos que debater apenas os salários, mas também o lucro. Salários têm teto, assim como as aposentadorias, pois têm um limite. Já para o lucro, qual é o limite?", questionou.
Para o presidente da AJURIS, só com uma visão mais aprofundada sobre o lucro é que será possível perceber que não é aceitável que uma grande corporação se estabeleça em um país que não cumpre com as obrigações constitucionais e ainda receba uma alta soma de recursos públicos por meio de isenção fiscal. "Esse tipo de reflexão é importante para mostrar que todos têm de ser convocados para dar sua parcela de contribuição para a melhoria do nosso País."
"Se não mudarmos as concepções atuais, não saíremos do mesmo discurso de sempre, que coloca os servidores como responsáveis pelo passivo previdenciário. Devemos desviar o olhar dos salários, para olhar o lucro, de uma forma que possamos estabelecer uma simetria entre eles", concluiu João Ricardo.
O evento do Sindifisco Nacional - realizado na Federasul - contou também com a palestra do tesoureiro do Sindicato dos Empregados do Comércio, Luiz Carlos Barbosa. Representando o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), ele seguiu na mesma linha do presidente da AJURIS. "Quando se fala em desoneração da folha salarial da iniciativa privada, a intenção é mexer na Previdência de uma forma paralela. É o que podemos chamar de lobo em pele de cordeiro, pois vendem para a sociedade a ideia de que mais empregos serão criados com isso", afirmou.
Barbosa propôs que o Brasil crie novos impostos para garantir a sustentabilidade econômica. Citou o caso do projeto de lei que institui o tributo sobre grandes fortunas, que está parado no Congresso, e também uma taxa progressiva sobre o lucro do mercado financeiro.
(Fonte: Ajuris)
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