Em entrevista por telefone, na tarde de ontem, Tarso Genro comentou a aprovação de 80% que seu governo recebeu dos entrevistados pelo Ibope. A pesquisa foi publicada na edição dominical de ZH. Mas ele acredita que sua popularidade cairá em breve. Tarso promete enviar à Assembleia, até o final do mês, um pacote de projetos que incluirá o pontapé inicial para a reforma na previdência. E afirma que o plano de carreira dos professores, alvo de controvérsia, não é inalterável.
Zero Hora – Os 80% de aprovação do seu governo, registrados pelo Ibope, fazem aumentar seu compromisso com os eleitores?
Tarso Genro – Acredito que esse índice, em primeiro lugar, parte do impulso da vitória eleitoral no primeiro turno. Mas passa também pelo diálogo social ampliado que estamos desenvolvendo e pelas primeiras medidas que tomei. Entre elas, a anistia da dívida para pequenos agricultores e o debate profundo que a educação receberá no Conselhão. Mas é um índice de aprovação que, na minha opinião, não se manterá.
ZH – Por quê?
Tarso – A gente se sente reconfortado e compensado, mas a tendência é de que esse índice diminua. Até porque, ao alcançarmos um índice desses, ele só pode mudar para menos. Um governo enfrenta percalços e, muitas vezes, a demora para algumas soluções baixa a expectativa das pessoas. Se no final do governo eu chegar a 60% de bom e ótimo, estarei extremamente feliz. Essa expectativa proporciona uma motivação extrema para trabalhar. Sinto um misto de felicidade e compromisso.
ZH – Esse respaldo lhe dá mais força para enfrentar assuntos espinhosos, como o da previdência?
Tarso – Dá mais força, sim. É uma expectativa da sociedade que o governo responda a questões-chave que atrasam o Rio Grande. A qualidade da educação é um tema espinhoso, como também é espinhosa a criação de políticas de indução ao crescimento econômico, que passam por uma reforma na previdência.
ZH – E essa reforma começa quando?
Tarso – Nos próximos dias, vamos enviar um pacote de medidas à Assembleia. Não enviaremos a reforma em si, mas uma moldura da previdência que precisa ser discutida em um primeiro momento, para depois fazermos a reforma. Gostaríamos que o pacote chegasse ao parlamento ainda na primeira quinzena, mas não será possível. Chegará até o fim do mês.
ZH – Que medidas esse pacote vai abranger?
Tarso – Não posso antecipar. Ainda estamos discutindo.
ZH – O que os gaúchos podem esperar de concreto dos seus próximos cem dias de governo?
Tarso – A aplicação rigorosa do nosso programa de governo. Costumo redigir, para depois entregar à equipe e aos secretários, as diretrizes das próximas semanas. Para os próximos 60 dias, temos três tarefas centrais. A primeira é o aprofundamento investigativo da força-tarefa para a remodelação do Daer. A segunda é a institucionalização e organização técnica do plano de governo através do controle da Secretaria-Geral.
ZH – Antes de o senhor revelar a terceira, o que esta segunda tarefa representa na prática?
Tarso – O modelo de controle que instalaremos para acompanhar nossos projetos e garantir, obrigatoriamente, o cumprimento de metas. É uma modelagem tecnológica que nos permitirá acompanhar todos os dias o andamento desses projetos. E a terceira tarefa é o cumprimento das cláusulas do acordo com o Cpers.
ZH – O senhor se comprometeu a não mexer no plano de carreira dos professores e se disse contra a meritocracia. Por quê?
Tarso – A questão do plano de carreira é sagrada para os servidores. Então, qualquer alteração precisa ser negociada com eles. Não se trata de uma decisão arbitrária do governador. Mas vamos aguçar mecanismos de favorecimento do mérito. Não é verdadeira esta visão.
ZH – Então, ao contrário do que está no documento entregue ao Cpers, o governo pode mexer no plano dos professores?
Tarso – O que nos comprometemos é que jamais mexeríamos no plano de carreira de maneira arbitrária, sem negociação com os professores. Afinal, a meritocracia pode ser aplicada através de exclusiva vontade e arbítrio de um gestor, capaz de colocar as pessoas na rua, como ocorre nas empresas privadas. Sobre a valorização do mérito no magistério, isso nós vamos debater com os professores.
ZH – A implantação do piso nacional do magistério ainda é um compromisso até 2014?
Tarso – Sim, permanece.
ZH – A pesquisa demonstra alta aprovação ao senhor, mas revela uma avaliação negativa sobre a atuação do governo em áreas como saúde, segurança e situação das estradas. Que avaliação o senhor faz desse resultado?
Tarso – São avaliações do Estado atual. É impossível que esse índice tivesse sido alterado com apenas 90 dias de governo.
ZH – O que o senhor planeja para reverter essa imagem ruim na área da saúde (de acordo com o Ibope, 52% avaliaram como ruim ou péssima)?
Tarso – Temos uma série de programas. Depois, posso dar uma entrevista detalhada sobre isso.
ZH – Não precisa detalhar, pode resumir.
Tarso – Já estamos iniciando, por exemplo, a implantação das Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, conseguindo e liberando recursos nossos. E já começamos a recuperação dos hospitais.
ZH – E quando começa a retomada das obras nas estradas estaduais?
Tarso – Já retomamos. Já liberei R$ 22 milhões por mês para este objetivo.
ZH – Mas R$ 22 milhões por mês é um orçamento muito tímido para recuperar as estradas.
Tarso – É tímido, mas a maioria das obras deve ocorrer a partir da liberação dos recursos (dos empréstimos do BNDES e do Bird). O prazo para isto é novembro, mas vamos tentar para antes a liberação.