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Crise e commodities definem ICMS para 2011

13/10/2010
A oscilação das commodities, principalmente de petróleo, e a crise internacional foram decisivas no aumento, para uns, e redução, para outros, da fatia do bolo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) gaúcho para 2011. Dos dez maiores Índices de Participação dos Municípios (IPM), apenas Canoas (terceiro do ranking), Cachoeirinha (nono) e Santa Cruz do Sul (décimo) elevaram suas cotas. Subprodutos do petróleo e fumo são as maiores fontes de arrecadação do trio. Já Caxias do Sul e Gravataí (segundo e quarto no IPM) sentiram o impacto da menor demanda industrial. Divulgado no final de setembro pela Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), o índice pode ainda ser alterado caso prefeituras encontrem erros na geração das informações. Mesmo sem ter exame da nova distribuição de recursos, o subsecretário da Receita Estadual, Júlio César Grazziotin, disse, em nota, que maior arrecadação (a alta nominal foi de 20% em 2009), efeito em parte do combate à sonegação e modernização da máquina, melhorará o retorno aos caixas municipais. Em Canoas, o secretário da Fazenda, Marcos Bósio, comemora a recuperação, já que o IPM havia recuado por dois anos consecutivos (2009 e 2010). O segundo Produto Interno Bruto (PIB) do Estado sente o peso de ter 40% da receita do ICMS atrelado a um único contribuinte - a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap). Os preços recordes do petróleo esfolaram o faturamento da planta e corroeram as finanças em 2008, diluindo o impacto inclusive da duplicação da operação em 2007. Com o recuo do barril no ano passado e lucro recorde da Refap, a prefeitura equilibrou o resultado do IPM, que tem 75% de sua composição oriunda do Valor Adicionado Fiscal (VAF) e é calculado com base em 2008 e 2009. “A Refap volta a representar o que historicamente sempre foi, mas buscamos outras fontes”, adianta Bósio, indicando rigor na checagem dos dados lançados pelas empresas para efeito da apuração do VAF como estratégia para melhorar o índice.  Gravataí, que alavancou sua posição no ICMS graças à montadora da General Motors saindo da oitava posição na fatia do retorno do tributo em 2000 para quarta desde 2009, perdeu um pouco de recursos ante menores vendas de carros no final de 2008 e começo de 2009. A redução do IPI no ano passado ajudou a amenizar o rombo e manteve o IPM apenas 0,02 abaixo do de 2010 – caiu de 3,01 para 2,99.  O secretário da Fazenda do município, Alex Borba dos Santos, não perde tempo lamentando perdas e já projeta alta de 10% de ICMS em 2010, além de contar com a poupança certa no futuro: a planta automotiva aumentará a produção em 65% no final de 2012. “Nossa preocupação é como preparar a cidade para novos saltos”. Economia emergente, a cidade portuária, que recuou 0,1 no índice para 2011, ainda não colhe os frutos dos investimentos recentes no polo naval. Segundo o secretário da Fazenda local, Edes Andrade Filho, o reflexo é pequeno já que o cálculo do IPM não capta a nova atividade. A parada na produção da Refinaria Riograndense (antiga Ipiranga), em 2008, foi maior causa da queda. A empresa contribui para 22% da arrecadação. “Quem vê de fora acha que o caixa está bombando, mas a construção de plataformas não gera resultado imediato. Os frutos, a gente só colhe depois”, ressalta Andrade, que cita isenções fiscais como fator de menor receita. Enquanto isso, a despesa com mais obras públicas, escolas e e postos de saúde só crescem. O gestor se consola ante prognósticos que colocam Rio Grande como terceiro PIB  gaúcho em cinco anos. No grupo de elite do IPM, Triunfo, sede do Polo Petroquímico, caiu para sexto, atrás de Osório. Teve troca de posições entre Novo Hamburgo e Rio Grande, que passou a capital do calçado, também vítima da crise, com queda de exportações.
Capital perde espaço, mas consolida polo de serviços
Ao perder espaço na divisão do bolo do ICMS, Porto Alegre, que mantém liderança com 11,17 no IPM para 2011 (quase 20% abaixo da fatia de 13,91 de 2000), consolida sua nova economia. A afirmação da Capital como polo de serviços, que confinou a atividade industrial a alguns guetos nas zonas Norte e Sul e a 1% do PIB (2007), é turbinada pela ascensão da renda do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), que teve crescimento real (descontada a inflação) de 57% entre 2000 e 2009. De R$ 277 milhões anuais, a receita pulou para R$ 434 milhões. O secretário da Fazenda local, Urbano Schmitt, atesta que o tributo caminha para ser a principal fonte de arrecadação municipal, hoje 14% da receita, encostando nos 15% do ICMS. “Os serviços são a economia do futuro. O que ocorre aqui é tendência nas grandes capitais”, valoriza. O setor responde por 87% da riqueza gerada na cidade. O esvaziamento da indústria de transformação porto-alegrense é provado pelo aumento irrisório de 1,9% no Valor Adicionado Fiscal (VAF) do setor dentro do ICMS da Capital em 2009, enquanto o resultado do ramo no Estado avançou 17,5%. O recuo na cota do imposto total para 2011, abaixo dos 11,46% de 2010, implicará R$ 13,5 milhões a menos no caixa público, expondo outra fragilidade: o VAF foi negativo em R$ 600 milhões na média de 2008 e 2009 (que define o IPM), devido a vendas menores que estoques, fato considerado corriqueiro por Schmitt pela maior dependência a varejo na geração do imposto estadual. Para contornar, o secretário aponta reforço da fiscalização, com adoção de recursos de tecnologia, para cobrar melhor o que é mais farto, o ISS.  A construção civil lidera na eficiência de geração de caixa do imposto de serviços, com alta de 167% entre 2005 e 2009. O economista do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado (Sinduscon-RS) Marco Túlio Kalil Ferreyro vincula o desempenho ao boom recente da atividade. Não há dado do peso do ISS nos custos do setor, mas o volume de negócios, que quase triplicou, é boa medida. Ferreyro cita que as construtoras venderam 6,2 mil imóveis em 12 meses, até agosto deste ano, ante 2,2 mil em 2006. Os números poderiam ser maiores, e os tributos também, se a aprovação de empreendimentos na área técnica fosse mais ágil.
Sistema justo de divisão, porém tem desonerações exageradas
Do total de ICMS arrecadado (que somou R$ 15,1 bilhões em 2009), 25% é distribuído às 496 localidades. O IPM é obtido de uma cesta de variáveis, que incluem o Valor Adicionado Fiscal (VAF) do ICMS (peso de 75%), população (7%), área territorial (7%), propriedades rurais (5%), atividade primária (3,5%), indicadores sociais (1,7%) e  VA per capita (0,8%). Com exceção do VA fiscal, que se baseia em resultados de 2008 e 2009, os demais se referem ao ano passado. O professor de finanças da Pucrs e economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Alfredo Meneghetti considera a composição uma das mais justas entre os estados e que assegura menor concentração da riqueza. Os dez maiores detêm 34% da distribuição.  “Permite que economias em desenvolvimento tenham mais impulso”, justifica Meneghetti, que só lamenta a crescente porção de desonerações que impedem maior receita. Em estudo, o professor de finanças estimou que os benefícios que encurtam a arrecadação podem consumir 38% do caixa potencial. Outro problema na eficiência do tributo estadual é o descompasso na evolução do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho e a receita do ICMS. Entre 1970 e 2009, o PIB avançou 282,3% e a arrecadação do tributo, 217%. Anos de 1980 e 1988, 1990 e pós-Plano Real foram os vilões nesta desproporção. “O Estado vem tendo cada vez menos capacidade de se impor para transformar a expansão da base econômica em receita fiscal”. (Fonte: Jornal do Comércio)

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