Teto de papelão
07/07/2010
Desde
outubro de 2007, os gaúchos vivem uma ilusão: a de que os supersalários
do Executivo foram cortados pelo governo. Em 27 de outubro daquele ano,
Zero Hora publicou uma reportagem com o título Piratini passa tesoura
nos supersalários do Executivo. O texto informava, com base em
entrevista do então secretário da Fazenda, Aod Cunha, que todos os
salários acima de R$ 22.111,25 tinham sido cortados em respeito à
aplicação do teto.
A medida saneadora era tratada por Aod como um
ato de coragem, que resultaria em economia de R$ 1,6 milhão por ano com
o corte do excedente. A tesoura atingia 10 servidores ativos e 24
inativos, a maioria da própria Secretaria da Fazenda. O campeão era um
agente penitenciário de R$ 43.829, que tinha perdido quase metade do
salário com um canetaço.
Nos dias seguintes, parte dos atingidos
recorreu à Justiça para evitar os cortes, ganhou liminar no Tribunal de
Justiça, mas o governo sempre sustentou que conseguira derrubar as
decisões em Brasília e esperava o julgamento do mérito.
Eis que o
Tribunal de Contas do Estado, maior celeiro de marajás da administração
pública gaúcha, resolveu fazer um pente-fino nas folhas de pagamento de
todos os poderes e descobriu que a história estava mal contada. Antes
de chegar ao Executivo, o TCE divulgou os salários que extrapolam o teto
na própria casa, no Tribunal de Justiça, no Ministério Público e na
Assembleia. Ontem, revelou que na análise de 67,1 mil matrículas já
foram identificados 86 servidores, ativos e inativos, ganhando mais do
que R$ 24 mil. O teto estadual de hoje, com o último reajuste dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, é de R$ 24.117,62.
Que fim
levaram os cortes alardeados? Alegando que desconhece os resultados da
auditoria, a Secretaria da Fazenda não quis se manifestar. A assessoria
garantiu que a secretaria “tem aplicado o teto salarial do Executivo
desde outubro de 2007, salvo exceções obtidas por servidores na
Justiça”.Uma das exceções é o marajá-mor, que tem estorno no
contracheque, sim, mas de apenas R$ 6 mil. Não fosse por isso, estaria
ganhando mais de R$ 50,4 mil por mês.
(Fonte: Rosane de Oliveira - Zero Hora)
|