O dilema do ajuste fiscal gaúcho, por Roberto Balau Calazans*
15/04/2010
Desde 2004, as contas públicas consolidadas do
Rio Grande do Sul apresentam sucessivos superávits primários, tendo em
2008 atingindo seu maior valor desde 1970. A partir de 2007, houve um
ajustamento pelo lado da receita e da despesa, que melhorou sobremaneira
as contas públicas em 2008. A crise econômica internacional mudou o
comportamento da economia mundial e afetou o desempenho das contas
públicas em 2009. Contudo, manteve-se o equilíbrio das contas públicas.
O
atual governo adotou o choque fiscal para equilibrar as contas públicas
e encurtou o tempo para o seu ajustamento. Todavia, o ajuste
intertemporal é mais longo do que se esperava, pois o Estado ainda
convive com restrições estruturais devido ao enorme peso do passado
(previdência e dívida) que carrega. Os efeitos do ajuste em curso são
promissores, mas ainda estão assentados no controle dos gastos públicos.
Passados
vários anos de ajustamento, cabe refletir até quando a execução da
política fiscal baseada, principalmente, em baixos níveis de
investimentos, controle de pessoal e custeio e gastos com educação,
saúde e segurança comprimidos não prejudica o desenvolvimento da
economia local e a capacidade de prover bens públicos. A austeridade
será “sem fim”, já que as restrições estruturais permanecem, havendo uma
contradição entre elevar as taxas de investimento e garantir melhores
condições salariais para boa parte do funcionalismo?
Muito já foi
feito por sucessivos governos, e estamos mais maduros para avaliar os
rumos da política fiscal e renovar o princípio da responsabilidade
fiscal. Dada a restrição orçamentária atual, a eficiência da prestação
dos serviços públicos pressupõe a valorização dos servidores,
focalização nas funções educação, saúde e segurança e o investimento
como variável de ajuste. De outra parte, a melhoria da prestação de
serviços, combinada com a ampliação dos investimentos estaduais, é
sustentável com déficit público (o que não se quer), ou com a queima do
patrimônio público (já tentado), ou com maior eficiência tributária,
como tem alertado o Banco Mundial.
Como os recursos são escassos,
estamos diante de um dilema de decisão estratégica. Um longo período de
crescimento do PIB estadual ajudaria a resolver boa parte do problema.
Todavia, esse tem crescido abaixo da média nacional.
A evasão
fiscal limita o desempenho da arrecadação tributária, bem como a ação
corretiva do Estado no sentido de atender as políticas sociais, o que
vem gerando distorções na alocação das dotações orçamentárias. Na
situação atual, mais investimento implica mais déficits ou superávits
reduzidos devido à rigidez do orçamento público. Cabe, pois, definir
como os investimentos serão financiados e os servidores valorizados.
*Economista
(Fonte: Zero Hora)
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