De novo o engodo do déficit zero, por Elvino Bohn Gass*
29/01/2010
Em meados de 2009, o jornal Folha de S. Paulo
publicou um ranking em que o Rio Grande do Sul aparecia como o Estado da
federação que menos investia em saúde. Segundo o jornal, apenas 5,3% da
receita, em 2008, ao invés dos 12% previstos pela Constituição. Na
ocasião, sustentamos que aquela informação, divulgada por um jornal sem
qualquer vínculo com a oposição ao governo gaúcho, era a prova de que o
chamado “déficit zero” não passava de um engodo. Quer dizer: que sentido
tem proclamar com efusividade que um governo gasta menos do que
arrecada se nem mesmo os investimentos básicos em saúde e educação são
realizados?
Ocorre que, desprovido de qualquer realização
positiva, o governo tucano resolveu fazer propaganda do que não faz,
isto é, tenta transformar uma negatividade de seu governo – o fato de
que não investe nem mesmo o que a Constituição obriga em saúde e
educação – numa positividade, o déficit zero. Muitos dos leitores
provavelmente já tenham visto a proclamação disso em outdoors e
em inserções
pagas na televisão e no rádio, além, obviamente, de notícias largamente
divulgadas através dos jornais. Infelizmente, a manipulação dos números
pode servir para constituir símbolos, mas não resolve o problema
financeiro do Estado.
O equilíbrio fiscal é um objetivo
importante para qualquer governo. Mas o problema do Rio Grande do Sul
nesta área, como em tantas outras, é estrutural; não se resolve da noite
para o dia, nem mesmo no período de um governo, como querem fazer crer
os “mandraques” do Piratini. O problema é que o simples corte de gastos
transforma o déficit financeiro em déficit de serviços públicos, criando
um passivo social que em algum momento precisará ser enfrentado, quando
então a realidade deficitária do Estado se imporá frente à propaganda
cara e aos argumentos baratos.
O argumento de que o propalado
déficit zero permite a ampliação dos investimentos do Estado não passa,
também, nesse caso, de uma falácia, que seria risível se não fosse
trágica para os
gaúchos. Nos últimos três
anos, os investimentos do governo tucano têm sido, em média, a metade do
que é anunciado, com alarde, no início de cada ano. No comparativo,
trata-se do governo que menos investiu nos últimos 20 anos. Uma vergonha
para um governo que chega ao seu último ano insistindo num engodo. Uma
lástima para os gaúchos e para as gaúchas. *Líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa
(Fonte: Zero Hora)
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