Estado deve administrar estradas
28/01/2010
Decisão do Tribunal de Contas manda o Piratini fiscalizar
as rodovias pedagiadas que pretendia devolver ao governo federalPassados
cinco meses desde o início da tentativa de devolução pelo Estado de
estradas pedagiadas ao governo federal, o Tribunal de Contas do Estado
(TCE) determinou que a governadora Yeda Crusius retome a fiscalização de
trechos que são alvo de empurra-empurra entre os palácios do Planalto e
Piratini.
Na sexta-feira, o conselheiro Cezar Miola expediu uma
medida cautelar com validade imediata para evitar que motoristas sejam
prejudicados pela falta de controle de cerca de 1,6 mil quilômetros de
rodovias de seis dos sete polos concedidos no Estado. A ideia é que o
Piratini se responsabilize até que haja um entendimento sobre quem tem
de acompanhar a execução dos contratos. A Agência Estadual de Regulação
dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) e o
Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) também foram
intimados para que atuem. Uma das preocupações é evitar que o conflito
sobre competências entre esferas do governo gere o abandono de
estradas.
Miola também
determinou que não seja pago qualquer valor a concessionárias de
rodovias, que alegam a existência de um desequilíbrio
econômico-financeiro na prestação dos serviços previstos no contrato,
uma vez que a forma de cálculo é questionada. Conforme o relatório de
357 páginas, elaborado por técnicos, os supostos valores devidos,
apurados em aproximadamente R$ 470 milhões, em números atualizados,
baixariam para cerca de R$ 200 milhões, desconsiderando apenas um dos
itens questionados por auditores. Miola acolheu a sugestão dos técnicos
de que é necessário refazer a metodologia de cálculo da prestação de
serviços.
O impasse sobre a responsabilidade em relação aos
trechos surgiu após a governadora anunciar a transferência do bolo que
inclui estradas estaduais e federais. Yeda confirmou a decisão de
denunciar o convênio, que mantinha com a União, no dia 20 de agosto. Um
mês depois, o Estado deixou de fiscalizar as rodovias alegando que a
responsabilidade agora caberia ao governo federal. O
Ministério dos
Transportes se recusa a receber os polos e a dívida cobrada pelas
concessionárias. Não há consenso sobre qual é o tamanho da conta e se
ela realmente existe.
A medida do conselheiro foi motivada pelas
conclusões dos técnicos depois de uma auditoria operacional iniciada em
12 de novembro de 2008. Esse levantamento serve para avaliar o
desempenho de programas, serviços e ações do governo estadual. Técnicos
do TCE constataram que as estradas não estão sendo fiscalizadas por
nenhum órgão.
Com uma amostragem de rodovias registrada em fotos,
verificou-se a má conservação. Com a mudança de parâmetros de qualidade
definidos nos contratos, houve aceitação pelo Estado de defeitos nas
estradas que poderiam ser classificados até como péssimos.
Segundo
o relatório, também não há um programa de investimentos em obras de
conservação desde 2004. Toda a documentação de 11 anos envolvendo os
contratos passaram pelo pente-fino do TCE. O relatório será julgado pelo
plenário do tribunal, que decidirá se
mantém ou não a cautelar. O secretário de Infraestrutura, Daniel
Andrade, disse ontem à noite que o assunto está sendo analisado.
marciele.brum@zerohora.com.br MARCIELE BRUMA decisão | A medida cautelar é uma forma de o TCE evitar de
forma imediata um eventual risco de lesão ao patrimônio público. | Cabe ao relator do caso determinar ações de
proteção do erário até a questão ser julgada em definitivo. |
Uma
história de conflitos | DEZEMBRO DE 2008 | - A queda de braço entre Estado e União por conta
dos polos de pedágios chega ao ápice. O Piratini pretendia prorrogar,
sem licitação, as concessões rodoviárias por mais 15 anos em troca de
obras. | - Como havia rodovias
federais no pacote, Yeda precisava de aval do Planalto, que rejeitou a
proposta. No dia 11 de dezembro, um dia após a União firmar posição
contrária à prorrogação dos contratos, a governadora decide retirar o
projeto da Assembleia. | AGOSTO DE 2009 | - Yeda transfere o controle de seis dos sete polos
concedidos. A decisão é saudada pelas concessionárias. O ministro dos
Transportes recusa a devolução. | SETEMBRO DE 2009 | - Um mês depois de anunciar a devolução dos polos
de pedágios, o governo gaúcho formaliza a medida junto ao Planalto. O
impasse deixa as rodovias gaúchas sem fiscalização. O ministro volta a
negar que a União venha a assumir o controle.
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(Fonte: Zero Hora)
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