Respostas ao Fórum
27/01/2010
Ao
participar da edição que marca os 10 anos do Fórum Social Mundial em
tom de despedida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu
cobranças dos organizadores do evento, exaltou as conquistas sociais do
seu governo, e tentou reaproximar-se definitivamente dos movimentos
sociais que sustentam o maior encontro da esquerda mundial.
No
seu último Fórum Social Mundial em Porto Alegre como presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva se preparou para fazer um discurso
de despedida e defender a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como sua
sucessora. Mas, num palanque despido de seu séquito político, acabou
também enfrentando questões levantadas pela organização do evento.
Lula
chegou ao Gigantinho acompanhado de seis ministros – entre eles Dilma e
Tarso Genro (titular da Justiça e candidato ao Piratini) –, mas teve de
subir ao palco sem seus auxiliares, às 20h40min. A organização preferiu
um palanque mais enxuto, composto apenas por quatro cadeiras e sem a
presença dos candidatos
petistas. Para justificar a decisão, o apresentador Cândido Grzybowski
disse que a atividade seguia as normas do conselho internacional e era
“autogestionada”, o que significa, no jargão do Fórum, que o formato dos
eventos é definido pelas organizações sociais.
Além de Lula e
Grzybowski, estavam no tablado a ativista uruguaia Lilian Celiberti e o
presidente da CUT, Artur Henrique. Os três integrantes do Fórum foram os
primeiros a falar. Artur Henrique fez campanha aberta a Dilma, e Lilian
defendeu a maior participação das mulheres na política. Antes do
discurso de Lula, Grzybowski retomou o microfone e fez quatro questões
ao presidente (veja quadro), quebrando por alguns instantes o clima de
paz e amor em relação a Lula.
Presidente pouco falou de
eleição
Num discurso voltado a provar que seus dois mandatos
respeitam o espírito do Fórum, Lula falou por 41 minutos. Passou por
diversos temas relacionados ao evento, como os avanços
sociais, a condução da economia durante a crise
econômica mundial, a crítica ao comportamento das nações ricas e a
solidariedade com a África. Não deixou de responder aos questionamentos
de Grzybowski fazendo uma provocação. Ao dizer que vai ampliar a ajuda
ao Haiti e que planeja visitar o país em 25 de fevereiro, Lula afirmou
que o Fórum deveria eleger a ajuda aos atingidos pelo terremoto como
meta:
– Vocês poderiam dedicar um ano de solidariedade de todos
os participantes do Fórum ao povo na reconstrução do Haiti. Não tem nada
pior do que terminar uma reunião como essa com um catatau de decisões
que vai ficar na nossa mesinha de cabeceira.
O presidente fez
poucas referências eleitorais. Sem citar o nome de Dilma, disse que será
substituído por uma “pessoa com o mesmo compromisso, talvez com mais
capacidade”. No tradicional cumprimento às autoridades, citou primeiro o
ex-governador Olívio Dutra, Dilma e Tarso, ovacionados pelo público. Já
o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), adversário de Tarso na
campanha, ficou entre os
últimos da lista e foi vaiado pela plateia. Ainda assim, saiu do
Gigantinho satisfeito com o formato da cerimônia.
– Foi bom não
ter manifestações políticas – disse Fogaça em relação à composição do
palco.
O evento teve pelo menos um momento de ligeira tensão
política. A situação se deu no aeroporto Salgado Filho, onde o
presidente foi recebido pela governadora Yeda Crusius (PSDB), que não
foi até o Gigantinho. Ao sair do aeroporto, ela falou sobre as vaias
recebidas a sua saudação no primeiro dia do Fórum.
– Foi depois
dos aplausos, guerra de torcida. Não gosto de vaia, não vaio e não gosto
de ser vaiada.
As
cobranças | 1)
PAPEL DO BRASIL NO HAITI | Mestre de cerimônia da solenidade do Fórum que recebeu
Lula ontem, o sociólogo Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), levantou questões
ao presidente sobre quatro temas. Abaixo as respostas de Lula: | “Aprovamos o envio de mais 900 soldados
brasileiros porque ensinamos ao mundo que uma missão de paz pode ser uma
força de paz sem ter ingerência nas decisões políticas ao praticar
violência contra os inocentes que moram naquele país”. | 2) QUESTÃO AMBIENTAL APÓS O
FRACASSO DE COPENHAGUE | “Levamos
uma proposta de até 2020 diminuir a emissão de gases do efeito estufa
entre 36% e 39% e reduzir o desmatamento da Amazônia em 80%. Olha, isso
pesou para os países ricos, que ficaram surpresos”. | 3) A INTERLIGAÇÃO CULTURAL DA
AMÉRICA LATINA | “Sabemos,
depois que chegamos ao governo, que há uma diferença fundamental entre o
que um governante sonhou a vida inteira e o que um governante conseguiu
realizar no seu governo. Isso serve de lição para quem vier depois de
mim, serve para o José Mujica, Evo Morales, Rafael Correa, para o
presidente Chavéz, para todos”. | 4) O DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS, APÓS A POLÊMICA | “Saio do governo com a certeza de que grande parte
do que fizemos só foi possível ser feita porque foi construída pela
sociedade civil. Lembro que o Paulo Vanucchi organizou uma conferência
dos portadores de deficiência visual. Havia uma briga na imprensa se o
cachorro poderia entrar no elevador, no shopping, no ônibus e na igreja.
Para mostrar que o cachorro era os olhos do portador de deficiência,
enchi o Palácio do Planalto de
pessoas com deficiência com seus cães guias para mostrar que, se o
cachorro poderia entrar no palácio do governo, poderia entrar em
qualquer lugar”. |
(Fonte: Zero Hora)
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