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Assembleia não sabe o que fazem 55% dos CCs

18/01/2010

Dezenas de assessores de deputados são pagos pelo Legislativo para trabalhar fora do parlamento



O que faz um assessor de deputado? Em boa parte dos casos, só quem sabe é o deputado. São 657 cargos em comissão desempenhando essa função na Assembleia gaúcha – o que representa 55% do total de CCs da Casa –, mas a administração do Legislativo não tem controle algum sobre o que fazem. Dezenas de assessores estão longe do parlamento, alguns sob o guarda-chuva de entidades, outros atuando no Interior.

Em dezembro, a controvérsia ganhou fôlego quando um assessor do deputado Jerônimo Goergen (PP) foi flagrado, em uma reportagem da RBS TV, dando expediente na sede do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Oscar Gress, que raramente comparecia ao gabinete parlamentar, foi exonerado por Goergen logo após o caso vir à tona.

O silêncio dos colegas incomodou o deputado. Ele esperava uma manifestação da presidência, atestando que aquela era uma prática legal e corriqueira, prevista em resolução interna.

– A Assembleia precisa ter coragem de assumir suas próprias regras perante a sociedade. Se isso é inviável, talvez seja o momento de revê-las – diz Goergen, que ainda mantém três assessores no Interior.

O Ministério Público de Contas torce o nariz: reconhece a legalidade da assessoria fora da Casa, mas defende controle formal sobre a carga horária e as funções que os CCs desempenham.

– Muitos assessores exercem outras atividades. Alguns são vereadores no Interior e, até pelo baixo salário, trabalham assessorando deputados. O sujeito pode ser dono de um mercado e assessorar também – afirma o líder da bancada do PMDB, Gilberto Capoani.

Presidente da Assembleia, o deputado Ivar Pavan (PT) defende que cada parlamentar responda pela própria equipe (leia entrevista nesta página). O líder da bancada do PDT, Adroaldo Loureiro, junta-se ao presidente para defender CCs fora do gabinete. Para o pedetista, eles seriam “imprescindíveis” para um mandato sintonizado com a sociedade. Loureiro tem dois assessores em Santo Ângelo.

– De que adiantam 10 ou 12 assessores fechados em uma sala, longe da população? – questiona o deputado, reconhecendo que os CCs também representam uma “estrutura de busca de apoio, simpatia e voto”.

Diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo protesta:

– Esses assessores são cabos eleitorais, ponto. Por que a sociedade tem de pagar isso? Se os deputados querem ficar próximos de suas bases, que paguem com o próprio dinheiro.

Procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino não se opõe à prática de assessores atuarem fora, mas cobra da Assembleia “um resultado palpável”. Conforme ele, o Legislativo precisa elaborar uma forma de avaliar o desempenho dos funcionários.

– Vamos analisar a possibilidade de abrir inspeção. A Assembleia precisa justificar a relação dos assessores com a atividade parlamentar.

O problema seria resolvido com relatórios, registro de reuniões e audiências em atas, por exemplo. A proposta divide deputados.

– Quanto mais transparência, melhor – diz o líder da bancada petista, Elvino Bohn Gass.

– Criar mais burocracia para a atividade parlamentar? É desgastante – contesta Capoani.

(Fonte: Zero Hora)

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