O
crescente gasto com pessoal do setor público e investimentos reduzidos
foram alvo do balanço de fim de ano do presidente da Federação das
Associações Comerciais do Estado (Federasul), José Paulo Cairoli,
ontem, na sede da entidade, em Porto Alegre. Cairoli mostrou
preocupação com a manutenção do ajuste fiscal no Estado, ante evolução
maior de despesas, principalmente de órgãos como Judiciário e
Ministério Público, e defendeu pacto com agenda mínima para o próximo
ano.
"Não defendo estado mínimo, mas uma estrutura necessária para
atender às demandas da sociedade", esclareceu o dirigente. Cairoli
declarou apoio a projetos que alteram carreiras de servidores, como a
da Brigada Militar e professores, mas condicionou mudanças ao apoio
popular. Os gastos com pessoal crescem em torno de R$ 1 bilhão ao ano
desde 2000. No governo federal, a despesa pulou de R$ 391 bilhões em
2008 para R$ 456 bilhões nos primeiros 10 meses do ano. No mesmo
período, os investimentos saíram de R$ 20 bilhões (2008) para R$ 24
bilhões.
O presidente da Federasul teme que o ajuste fiscal esteja em risco
frente ao aumento das despesas com pessoal, nas esferas federal e
estadual. "Gastos excessivos em momento de crise vitaminam o déficit e
comprometem o investimento", contrastou o dirigente. Para 2010, a
preocupação da Federasul é com o aumento da conta com pessoal e do
déficit público. O assessor econômico da federação, André Azevedo,
ressaltou que o déficit fiscal do governo federal saiu de 1,5% para
3,2%, 1,7 ponto percentual maior. "A evolução dessa conta será o grande
problema para 2010 e 2011", preveniu o economista.
No confronto de despesas do governo estadual, Azevedo apontou que a
área de pessoal que consumia R$ 5,2 bilhões em 2000, passou a R$ 12,1
bilhões este ano. Os gastos totais serão de R$ 15,5 bilhões, 2,1% acima
dos R$ 15,2 bilhões de 2008. O Judiciário elevou gastos de R$ 1,2
bilhão, no ano passado, para R$ 1,4 bilhão em 2009, alta de 16,14%.
Cairoli disse que o Rio Grande do Sul crescerá em 2009 menos que o
Brasil que, por sua vez, recupera-se da crise num ritmo mais lento do
que se imaginava. O PIB brasileiro deverá apresentar em 2009 uma
variação próxima a zero e o gaúcho inferior a zero. O comércio
varejista no País apurou um desempenho positivo de 4,4% até setembro. O
Piauí teve melhor crescimento, perto de 15%, seguido por Rondônia e
Roraima. O comércio gaúcho ficou no 23º lugar, com avanço de 1,5%.
Para Azevedo, a expansão de crédito, empregos e massa salarial deve
manter a performance positiva do varejo para 2010. A desoneração de
impostos de veículos e eletrodomésticos foi apontada como decisiva para
o avanço de 1,3% do PIB no terceiro trimestre do ano, ante o mesmo
período de 2008. Cairoli alertou para a necessidade de aumentar
investimentos em infraestrutura ante previsões de maior investimento de
empresas, que exigirão qualificação de rodovias, aeroportos e portos.
Já o ano eleitoral, segundo o presidente da Federasul, pode abrir
caminho para gastos de pouca qualidade. Cairoli defendeu ainda medidas
para acelerar a criação de empregos, como desoneração da folha de
salários. Para o presidente da federação, o governo federal poderia
propor a medida por meio de Medida Provisória.
Maioria dos empresários espera aumento de receita
Os empresários brasileiros estão otimistas e esperam crescimento dos
negócios em 2010, conforme a pesquisa Panorama Empresarial 2010,
divulgada ontem pela consultoria Deloitte. O levantamento mostra que
95% das empresas preveem aumento de receitas no próximo ano, enquanto
apenas 1% delas empresas projetam queda.
Os dados mostram ainda que, para 69% das empresas pesquisadas, 2009
terminará com ganhos de receita. Apenas 23% das companhias indicaram
que haverá retração do faturamento ao fim deste ano, apesar dos efeitos
da crise econômica no Brasil. "Em que pese a turbulência, 2009 está
saindo melhor que a encomenda. E as empresas também esperam crescimento
das receitas em 2010", afirmou José Paulo Rocha, responsável técnico
pela pesquisa.
Entre os setores da economia com maior potencial de crescimento, os
empresários apontaram o de petróleo e gás, com 19% das respostas, e o
da construção civil, com 17%. Estes são justamente os setores que vêm
sendo favorecidos por novas descobertas de reservas e por incentivos do
governo.
Na pesquisa, a Deloitte ouviu 573 empresas que, juntas, representam
receita de R$ 500 bilhões (17,3% do PIB em 2008). De acordo com o
levantamento, 10% das empresas são de capital aberto e a idade média
das companhias é de 30 anos.
De acordo com a pesquisa, o corte de custos será o maior desafio
para as empresas brasileiras no ano que vem: 67% das empresas apontaram
que o gerenciamento de custos será um desafio, enquanto 53% citaram a
concorrência com outras empresas brasileiras. Para encarar a situação,
as empresas planejam investir, principalmente, em novos produtos e
serviços, em talentos e na inovação. Os dados da pesquisa da Deloitte
mostram que 64% das empresas vão priorizar o desenvolvimento de
produtos e serviços, 46% vão se voltar para a retenção de funcionários
e 45% pretendem incentivar a inovação.