A hora da modernização dos serviços públicos, por Mateus Bandeira
09/11/2009
A
governadora Yeda Crusius divulgou o Plano de Valorização do Serviço
Público. Ele busca, essencialmente, a melhoria da qualidade dos
serviços prestados à sociedade. Resgata, num sentido mais amplo, dois
valores básicos da democracia: valorização dos serviços públicos
essenciais e justiça com os que menos ganham. Pelos novos critérios, o
servidor será premiado pela capacitação, qualificação e desempenho
funcional. Como ocorre em todas as dimensões profissionais.
Mudar
a forma de avaliar a gestão pública requer tempo, exige mudança de
cultura e é um processo gradativo. Mais do que isso, significa a
introdução de um novo enfoque. A nova visão não deve ficar mais
restrita à necessidade de reajustes salariais lineares, mas à justa e
correta recompensa aos servidores que se dedicam à melhoria da
produtividade do serviço público. O mundo é assim, em todos os
segmentos. Precisamos acompanhar as tendências mundiais.
O Rio
Grande precisa enfrentar esse debate. Precisa avaliar o crescimento dos
gastos de pessoal de todos os poderes, como também os gastos
previdenciários, sob pena de não conseguir atender às demandas
relevantes por novos investimentos. Precisamos ter clareza de que cada
real gasto com um desembargador será um real a menos para um brigadiano
ou professor. Essa é, de forma clara e simples, a realidade.
Por
isso, temos defendido que é preciso avaliar criteriosamente a
repercussão de cada novo reajuste, especialmente quando se destina a
categorias já bem remuneradas. No mesmo patamar do princípio
constitucional da autonomia de poderes e órgãos, está o princípio da
harmonia entre estes poderes, sempre prejudicada quando o crescimento
privilegia apenas alguns.
Creio que todo trabalhador, seja da
iniciativa pública ou privada, merece uma remuneração digna e tem toda
legitimidade para buscar seus reajustes. Mas não podemos esquecer que,
no caso do setor público, esses recursos são finitos e oriundos de uma
única fonte, que é basicamente a arrecadação de tributos da população.
E essa população também almeja ter – da mesma forma com legitimidade –
suas demandas atendidas. Para que possamos reduzir as brutais
diferenças salariais que vigoram no serviço público é preciso
persistência ao longo de anos em políticas de reajustes que privilegiem
efetivamente os mais baixos salários, notadamente na educação e
segurança pública.
Por
envolver esse amplo leque de interesses e uma necessária mudança de
cultura, o plano que a governadora Yeda anunciou e deverá encaminhar à
Assembleia privilegia estas categorias, com medidas que representam não
apenas ganhos de curto prazo – ainda que substanciais –, mas também uma
perspectiva de longo prazo. Estão associadas, ainda, à preservação do
ajuste fiscal, porque distribui os resultados de uma gestão fiscal
responsável com os servidores. Este é conceito da “matriz da
Segurança”, agora estendido à educação, e do bônus equivalente ao 14º
salário.
Para o futuro, é preciso avançar nas mudanças, dar
novas perspectivas aos servidores, pois premiar de forma igual a todos
sem distinção é um conceito ultrapassado. É preciso destacar da massa
aqueles que se superam, que trabalham na busca de metas, que geram
resultados pelo desenvolvimento pessoal e pela melhoria do setor
público. Isso só poderá ser feito com uma análise criteriosa e seletiva
em cada carreira, dependendo das especificidades de cada uma,
envolvendo os servidores nessa discussão.
Estamos
pavimentando esta mudança com a preparação do marco legal e a criação
de uma nova carreira, estruturada nestas bases: uma carreira de gestor
público, que altera o quadro dos atuais técnicos em planejamento.
É
um passo pequeno se considerado o tamanho do Estado e a imensa demanda
por melhorias que existem de forma quase que generalizada, mas é o
início da discussão e da possibilidade de se colocar em prática uma
nova mentalidade que se consolida em vários países do mundo.
*Secretário de Estado do Planejamento e Gestão
(Fonte: Zero Hora)
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