E o déficit público, continua zero?
08/11/2009
Dúvidas
sobre a manutenção do equilíbrio das contas públicas gaúchas cresceram
com a proposta do governo para elevar salários na segurança e no
magistério. Mal surgiram os primeiros sinais de recuperação de receita,
depois da crise global, há pressões por reajustes de categorias melhor
remuneradas. Há temor de que a realidade das últimas quatro décadas, de
rombos no orçamento, volte a dominar o Rio Grande do Sul.
No
debate sobre a ameaça de implosão prematura do déficit zero, conquista
mais reconhecida do governo Yeda, os projetos de reajuste para soldados
da Brigada Militar e do magistério são vistos apenas como faísca
distante. É o conjunto de quase uma dezena de propostas de elevação de
gastos com pessoal que está ou entrará em análise na Assembleia
Legislativa que oferece pólvora suficiente para uma detonação.
Para
cuidadosos observadores das contas públicas gaúchas, aumentos para o
magistério e os brigadianos, além de “justos e necessários”, cabem no
orçamento, até por representar gasto modesto. O problema estaria nos
reajustes de categorias que já “ganham muito”, conforme um profundo
conhecedor das despesas do Estado, como os propostos para Tribunal de
Justiça, Ministério Público, Procuradoria-Geral do Estado, Fazenda e
Defensoria Pública. Além de custo mais alto, ameaçam gerar um efeito
cascata incontrolável, para um Estado já sobrecarregado com a folha de
pagamento. Oito possibilidades de elevação de despesa estão em
discussão.
–
Somos defensores da melhoria de salário dos brigadianos e dos
professores, em lugar dos aumentos que houve até agora. Todas as
solicitações de reajuste à Assembleia foram aprovadas. É óbvio que
corremos risco de que, se não houver crescimento econômico nos próximos
anos, volte o desequilíbrio – avalia José Paulo Cairoli, presidente da
Federação das Associações de Comércio e Serviços do Estado (Federasul).
Foi
de Cairoli, no final do ano passado, a primeira advertência de que o
bom resultado fiscal de 2008 poderia ser exceção em vez de regra,
porque obtido graças ao bom crescimento até setembro, interrompido pela
crise financeira global. Quase duas centenas de funcionários do
Tribunal de Contas, responsável por fiscalizar os gastos, ganham mais
do que o teto, destaca o empresário.
–
Teve déficit zero, não ajuste fiscal, que só se realiza quando há
reformas. O Estado não fez nenhuma reforma até agora. Enquanto isso não
ocorrer, viveremos constantemente sob pressão. Há um equívoco na visão
estratégica, na forma como a questão está sendo tratada – insiste
Cairoli, esclarecendo que as mudanças devem incluir redução de custos e
gastos de Estado, não só do Executivo mas de todos os poderes.
Em
Santa Catarina, lembra o empresário, as folhas de novembro, dezembro e
do 13º salário serão pagas entre os dias 26 de novembro e 10 de
dezembro. Lá, foi feito ajuste estrutural, diferentemente do Rio Grande
do Sul, onde todos os orçamentos foram elevados. Até para parlamentares
da base de apoio com visão crítica da condescendência na concessão de
aumentos para categorias bem remuneradas, como o presidente da Comissão
de Finanças da Assembleia, Nelson Marchezan Jr., não há motivo para
inquietação com reajuste a professores e brigadianos:
–
Essa preocupação é hipócrita. O impacto é pequeno e vai atender a 18
mil soldados e 32 mil professores. Em três anos, a Assembleia aprovou
R$ 390 milhões para juízes, promotores, desembargadores, conselheiros e
servidores do Tribunal de Contas, delegados e defensores. E vai votar
até o final do ano mais R$ 450 milhões para categorias que, digamos
assim, recebem salários mais justos. E essa é uma despesa fixa,
permanente, irreversível, não volta mais. É para o resto da vida.
Além
dos projetos de reajuste que tramitam agora no Legislativo, há uma
proposta de reestruturação das carreiras da Fazenda. Mateus Bandeira,
secretário do Planejamento que expressou contrariedade com esse e
outros projetos de responsabilidade do Executivo, assegura que ao menos
o da Fazenda não representa impacto fiscal, e que o dos demais está
sendo negociado para ser diluído em alguns anos.
–
Não prejudicar o ajuste fiscal foi um dos princípios dos projetos para
magistério e segurança pública. Esses reajustes estavam programados. O
que gera desequilíbrio é o aumento dos outros poderes, que têm
autonomia para administrar seus orçamentos mas precisam ter consciência
de que tudo sai da mesma fonte. Vamos ver se a Assembleia, ao votar,
terá coragem e bom senso – desafia Bandeira.
(Fonte: Zero Hora)
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