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Devagar, muito devagar, por Júlio Mariani*

26/10/2009

O ano político brasileiro vai se encaminhando para o final de forma desanimadora. O Poder Legislativo segue desacreditado, enquanto no Executivo federal um presidente superpopular, mas acometido de soberba, construiu um processo sucessório degradante, que o colocou nas mãos de um jogo de interesses rasteiro. O que se observa é um líder autêntico, amado pelo povo a ponto de suportar uma comparação com Getúlio Vargas, mas cercado de gente pouco expressiva.

A prática política de hoje lembra uma corporação que só interessa aos próprios associados e aos áulicos, em geral oportunistas que buscam empregos públicos e aposentadorias bem-pagos. Já as centrais sindicais viraram caricaturas de si mesmas, pois se limitam a bajular o governo e a pedir vantagens ainda maiores para os trabalhadores das estatais.

Se por um lado o país vem exibindo certo vigor econômico, por outro a miséria visível não cessa de crescer. É curioso que justamente um governo originário da esquerda mostre tanta proficiência macroeconômica e tão exígua preocupação social. O cenário das cidades está cada vez mais inundado de moradores de rua, a rede pública de saúde é grotesca, o sistema escolar é precário, as estradas que não cobram pedágio estão caindo aos pedaços, a lei penal e as forças policiais se mostram incapazes de reduzir a níveis civilizados o crime em geral e sobretudo o tráfico de drogas, hoje o grande desafio nacional. Estudo recente mostrou que 60% dos desempregados do país são jovens entre 21 e 40 anos. Associado ao tráfico, esse dado revela uma condição explosiva que nivela as grandes cidades brasileiras aos locais mais inseguros do planeta.

Tudo o que foi referido no plano nacional vale para o Rio Grande, governado de maneira claudicante dentro de uma sequência interminável de crises. A bandeira do atual governo, o déficit zero, é uma bobagem contábil construída sobre cortes de recursos inaceitáveis. Como o cobertor é curto, declara-se a cabeça coberta enquanto os pés estão de fora. Para não ir muito longe, bastaria lembrar a situação desesperadora em que se encontra a quase totalidade da rede estadual de rodovias.

Os políticos não estão se dando conta da profundidade e da extensão do abismo que se cava entre eles e o eleitorado. O resultado é que cedo ou tarde serão surpreendidos por fatos que terão ao menos o mérito de arrancá-los da dormência.

*Jornalista

(Fonte: Zero Hora)

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