Um
dia após o sepultamento do pedido de impeachment na Assembleia
Legislativa, a governadora Yeda Crusius (PSDB) convocou a imprensa para
uma coletiva no Palácio Piratini.
Em tom de
desabafo, a governadora admitiu ter cometido "alguns erros políticos",
entre eles a aquisição de sua casa na rua Araruama, em Porto Alegre,
logo após a eleição de 2006.
"Deveria ter
previsto que, mesmo que tenha sido de modo legal, limpo, transparente,
com cada passo registrado em cartório, traria desconfiança."
Yeda voltou a
afirmar que o negócio, de R$ 750 mil, envolveu a venda de dois
apartamentos - um deles ao pai do ex-secretário-geral de Governo Delson
Martini, Delacy Martini - e um carro, a Delson Martini.
"Paguei R$
500 mil em recursos próprios e à vista. Esse dinheiro veio da venda de
um apartamento em Brasília, outro em Capão da Canoa, e do meu carro. O
restante foi pago em prestações, tudo registrado em cheque, recibo e no
Imposto de Renda. Todas as investigações provaram não haver relação
entre a casa, a minha função pública e o Detran. O Ministério Público
já atestou que foi legal, assim como o Tribunal de Contas do Estado",
salientou, rebatendo a denúncia de que a transação teria sido feita com
recursos de caixa-2."É o meu único patrimônio físico. A casa própria é
um sonho de todo brasileiro, e sou uma brasileira. Era o meu sonho",
concluiu.
Revigorada
também pela vitória no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região,
que na semana passada excluiu seu nome da ação de improbidade
administrativa movida pelo Ministério Público Federal (MPF), disse que
errou na escolha do vice, Paulo Afonso Feijó (DEM).
"Não tive
sucesso quando tentei trocá-lo ainda durante a campanha. Infelizmente
hoje temos uma triste situação, acompanhada diariamente por todos, em
que o vice-governador decidiu praticar uma oposição contínua, feroz e
ativa."
Além de
criticar a atuação de Feijó, Yeda afirmou que vai "continuar
trabalhando dobrado" e pediu "desculpas por esse erro, que tem trazido
constrangimento à sociedade gaúcha".
Acompanhada
por todos os membros do primeiro escalão do Executivo e também pelo
presidente estadual do PSDB, deputado federal Cláudio Diaz, a
governadora falou por quase uma hora, auxiliada por um discurso de
várias páginas.
Reconheceu
que nas últimas semanas evitou a imprensa e, mais uma vez, anunciou o
início de uma "nova fase" do governo. "É o encerramento de um período
muito difícil para nós, de acusações injustas. Tenho sido atacada,
inclusive com violência, desde o início da gestão. Talvez pelos nossos
acertos", observou.
Após, foram
feitas apenas seis perguntas de veículos sorteados previamente.
Questionada sobre as compras realizadas pela Casa Civil para a sua
residência particular, entre elas a de móveis infantis, Yeda garantiu
que está "tudo dentro das regras". Antes, ela havia mencionado que,
como no Palácio Piratini não há condições de moradia, pediu "um local
de trabalho digno aos brigadianos que cuidam da minha segurança". E
completou: "Tivemos que vestir as casas oficiais".
Tucana garante ter o apoio de José Serra para a reeleição
Na coletiva
de ontem, a governadora Yeda Crusius (PSDB) deu a entender que será
candidata à reeleição em 2010. E, mesmo com rumores de que o
pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra, teria
preferência pelo representante do PMDB no Estado, assegurou que conta
com o apoio do governador de São Paulo. "Os sinais que me vêm pela
mídia são de quem gostaria de ter o apoio do José Serra. Eu posso
garantir que já tenho."
Sobre a
fraude no Detran, Yeda disse que, assim que soube do esquema, no final
de 2007, tomou as medidas cabíveis. "Demiti a diretoria e abri
sindicância. Uma governadora não erra quando alguém de seu governo
erra. Mas erra quando, ao saber, não toma providências. Eu tomei",
reforçou.
Apesar de
tanto a decisão da Assembleia quanto a do TRF não terem entrado no
mérito da denúncia de que a chefe do Executivo gaúcho teve participação
no desvio de R$ 44 milhões do Detran, Yeda disse que, juntas, elas
representam um "divisor de águas" para a gestão tucana e são "atestados
das instituições". "Agora me sinto livre para andar pelo Rio Grande.
Sofri muitas vezes em silêncio. Sabia que a verdade prevaleceria."
A governadora
também lembrou que a juíza federal da 3ª Vara de Santa Maria, Simone
Barbisan Fortes, não aceitou o pedido de bloqueio de seus bens nem o
seu afastamento.
"Sei que os
segmentos radicais da oposição não vão parar. Mesmo que não haja uma
única prova contra a governadora, não há gravações, atos, decretos, lei
ou despachos que indiquem qualquer coisa errada."
Para oposição, suspeitas de corrupção não foram afastadas
O
pronunciamento da governadora Yeda Crusius (PSDB) após o arquivamento
do pedido de impeachment também repercutiu na Assembleia Legislativa. O
vice-líder da bancada do PT, deputado Raul Pont, disse ontem que a
governadora tentou promover sua "autovitimização" para sensibilizar a
opinião pública.
Ele diz que o
resultado da votação de terça-feira já era esperado em razão da maioria
governista na Casa. Entende, no entanto, que o fato não significa que
as suspeitas de participação de Yeda em fraudes tenham sido afastadas.
"O
arquivamento aconteceu a despeito das evidências que mostram que, no
mínimo, a governadora se omitiu", afirmou, ao acrescentar que não há
vitórias para Yeda e sua base comemorarem, "a menos que considerem a
fraude no Detran, a fraude do relatório que concluiu pelo arquivamento
do impeachment e a fraude apurada pela Operação Solidária como motivos
para celebrações", criticou.
Gilmar
Sossella (PDT) lamentou a decisão do plenário dizendo que o que estava
sendo votado era a admissibilidade do processo, não o afastamento da
governadora. "Ficou a sensação para a sociedade de que nada existiu,
mesmo quando se sabe que R$ 44 milhões foram surrupiados do Detran."
Com o fim do
processo, a estratégia da oposição será explorar as denúncias contra o
governo tucano na CPI da Corrupção. Sossella informa que os deputados
já começaram a análise dos documentos que envolvem a Operação Solidária
e devem apresentar os elementos nas próximas sessões. "Temos certeza de
que muitos fatos ainda não foram revelados", afirma.
Outra
estratégia é tentar, na Justiça, validar os requerimentos para
convocação de testemunhas que tenham obtido quatro votos favoráveis na
CPI. Ontem foi entregue um mandado de segurança ao Tribunal de Justiça
para assegurar as oitivas de 16 pessoas cujas convocações haviam sido
rejeitadas pelos governistas.
O líder da
bancada do PSDB, Adilson Troca, avaliou que o arquivamento corrigiu
"injustiças cometidas contra a governadora". "Foi acertada a decisão da
Assembleia", elogiou. Troca sustenta que a oposição tem atacado Yeda
sistematicamente em razão do ótimo desempenho de sua gestão.
"Mira na
governadora para tentar enfraquecer o governo. Se as denúncias não
tivessem sido feitas, Yeda teria hoje 80% de aceitação em virtude do
excelente trabalho que vem desenvolvendo. A oposição não tem outra
saída. Resta à população fazer a análise, ver se o que eles anunciaram
será provado. Se não provarem, a sociedade precisa se revoltar, pois
durante todo mandato fizeram acusações sem provas, prejudicando muito a
administração e o Estado", defende.
Paulo Feijó pede que governistas aprovem sua ida à CPI
O
vice-governador Paulo Feijó (DEM) reagiu às declarações da governadora
Yeda Crusius (PSDB) através de nota. Ele questionou por que os
integrantes da base aliada na CPI da Corrupção da Assembleia
Legislativa não querem que ele seja ouvido e pediu aos governistas que
aprovem requerimento que prevê seu depoimento na comissão.
"O DEM não
tolera suspeitas de corrupção. Assim, tem sido favorável às CPIs. Não
podemos permitir que haja qualquer dúvida com relação a qualquer
questionamento entre o que é público e o que é privado", contra-atacou.
Feijó ainda
observou que o DEM foi aliado de primeira hora da então candidata Yeda
Crusius, "inclusive quando setores do partido da governadora eram
contrários ao lançamento de seu nome para concorrer ao governo". Também
salientou que a escolha dele como vice foi conjunta entre os partidos
da coligação original (PSDB, PPS e DEM).
O
vice-governador afirmou ainda que se colocou à disposição para
contribuir sempre que chamado. E aproveitou para alfinetar Yeda:
"Quantas pessoas foram excluídas ou substituídas no atual governo?
Quais as razões destas mudanças? Qual o elemento desagregador?",
questionou.