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Yeda admite erros políticos

22/10/2009


Governadora falou sobre compra da casa e escolha do vice


Livre do pedido de impeachment, chefe do Poder Executivo desabafou Claudio Fachel/JC

Livre do pedido de impeachment, chefe do Poder Executivo desabafou Foto: Claudio Fachel/JC

 

Um dia após o sepultamento do pedido de impeachment na Assembleia Legislativa, a governadora Yeda Crusius (PSDB) convocou a imprensa para uma coletiva no Palácio Piratini.

Em tom de desabafo, a governadora admitiu ter cometido "alguns erros políticos", entre eles a aquisição de sua casa na rua Araruama, em Porto Alegre, logo após a eleição de 2006.

"Deveria ter previsto que, mesmo que tenha sido de modo legal, limpo, transparente, com cada passo registrado em cartório, traria desconfiança."

Yeda voltou a afirmar que o negócio, de R$ 750 mil, envolveu a venda de dois apartamentos - um deles ao pai do ex-secretário-geral de Governo Delson Martini, Delacy Martini - e um carro, a Delson Martini.

"Paguei R$ 500 mil em recursos próprios e à vista. Esse dinheiro veio da venda de um apartamento em Brasília, outro em Capão da Canoa, e do meu carro. O restante foi pago em prestações, tudo registrado em cheque, recibo e no Imposto de Renda. Todas as investigações provaram não haver relação entre a casa, a minha função pública e o Detran. O Ministério Público já atestou que foi legal, assim como o Tribunal de Contas do Estado", salientou, rebatendo a denúncia de que a transação teria sido feita com recursos de caixa-2."É o meu único patrimônio físico. A casa própria é um sonho de todo brasileiro, e sou uma brasileira. Era o meu sonho", concluiu.

Revigorada também pela vitória no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, que na semana passada excluiu seu nome da ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal (MPF), disse que errou na escolha do vice, Paulo Afonso Feijó (DEM).

"Não tive sucesso quando tentei trocá-lo ainda durante a campanha. Infelizmente hoje temos uma triste situação, acompanhada diariamente por todos, em que o vice-governador decidiu praticar uma oposição contínua, feroz e ativa."

Além de criticar a atuação de Feijó, Yeda afirmou que vai "continuar trabalhando dobrado" e pediu "desculpas por esse erro, que tem trazido constrangimento à sociedade gaúcha".

Acompanhada por todos os membros do primeiro escalão do Executivo e também pelo presidente estadual do PSDB, deputado federal Cláudio Diaz, a governadora falou por quase uma hora, auxiliada por um discurso de várias páginas.

Reconheceu que nas últimas semanas evitou a imprensa e, mais uma vez, anunciou o início de uma "nova fase" do governo. "É o encerramento de um período muito difícil para nós, de acusações injustas. Tenho sido atacada, inclusive com violência, desde o início da gestão. Talvez pelos nossos acertos", observou.

Após, foram feitas apenas seis perguntas de veículos sorteados previamente. Questionada sobre as compras realizadas pela Casa Civil para a sua residência particular, entre elas a de móveis infantis, Yeda garantiu que está "tudo dentro das regras". Antes, ela havia mencionado que, como no Palácio Piratini não há condições de moradia, pediu "um local de trabalho digno aos brigadianos que cuidam da minha segurança". E completou: "Tivemos que vestir as casas oficiais".

Tucana garante ter o apoio de José Serra para a reeleição

Na coletiva de ontem, a governadora Yeda Crusius (PSDB) deu a entender que será candidata à reeleição em 2010. E, mesmo com rumores de que o pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra, teria preferência pelo representante do PMDB no Estado, assegurou que conta com o apoio do governador de São Paulo. "Os sinais que me vêm pela mídia são de quem gostaria de ter o apoio do José Serra. Eu posso garantir que já tenho."

Sobre a fraude no Detran, Yeda disse que, assim que soube do esquema, no final de 2007, tomou as medidas cabíveis. "Demiti a diretoria e abri sindicância. Uma governadora não erra quando alguém de seu governo erra. Mas erra quando, ao saber, não toma providências. Eu tomei", reforçou.

Apesar de tanto a decisão da Assembleia quanto a do TRF não terem entrado no mérito da denúncia de que a chefe do Executivo gaúcho teve participação no desvio de R$ 44 milhões do Detran, Yeda disse que, juntas, elas representam um "divisor de águas" para a gestão tucana e são "atestados das instituições". "Agora me sinto livre para andar pelo Rio Grande. Sofri muitas vezes em silêncio. Sabia que a verdade prevaleceria."

A governadora também lembrou que a juíza federal da 3ª Vara de Santa Maria, Simone Barbisan Fortes, não aceitou o pedido de bloqueio de seus bens nem o seu afastamento.

"Sei que os segmentos radicais da oposição não vão parar. Mesmo que não haja uma única prova contra a governadora, não há gravações, atos, decretos, lei ou despachos que indiquem qualquer coisa errada."

Para oposição, suspeitas de corrupção não foram afastadas

O pronunciamento da governadora Yeda Crusius (PSDB) após o arquivamento do pedido de impeachment também repercutiu na Assembleia Legislativa. O vice-líder da bancada do PT, deputado Raul Pont, disse ontem que a governadora tentou promover sua "autovitimização" para sensibilizar a opinião pública.

Ele diz que o resultado da votação de terça-feira já era esperado em razão da maioria governista na Casa. Entende, no entanto, que o fato não significa que as suspeitas de participação de Yeda em fraudes tenham sido afastadas.

"O arquivamento aconteceu a despeito das evidências que mostram que, no mínimo, a governadora se omitiu", afirmou, ao acrescentar que não há vitórias para Yeda e sua base comemorarem, "a menos que considerem a fraude no Detran, a fraude do relatório que concluiu pelo arquivamento do impeachment e a fraude apurada pela Operação Solidária como motivos para celebrações", criticou.

Gilmar Sossella (PDT) lamentou a decisão do plenário dizendo que o que estava sendo votado era a admissibilidade do processo, não o afastamento da governadora. "Ficou a sensação para a sociedade de que nada existiu, mesmo quando se sabe que R$ 44 milhões foram surrupiados do Detran."

Com o fim do processo, a estratégia da oposição será explorar as denúncias contra o governo tucano na CPI da Corrupção. Sossella informa que os deputados já começaram a análise dos documentos que envolvem a Operação Solidária e devem apresentar os elementos nas próximas sessões. "Temos certeza de que muitos fatos ainda não foram revelados", afirma.

Outra estratégia é tentar, na Justiça, validar os requerimentos para convocação de testemunhas que tenham obtido quatro votos favoráveis na CPI. Ontem foi entregue um mandado de segurança ao Tribunal de Justiça para assegurar as oitivas de 16 pessoas cujas convocações haviam sido rejeitadas pelos governistas.

O líder da bancada do PSDB, Adilson Troca, avaliou que o arquivamento corrigiu "injustiças cometidas contra a governadora". "Foi acertada a decisão da Assembleia", elogiou. Troca sustenta que a oposição tem atacado Yeda sistematicamente em razão do ótimo desempenho de sua gestão.

"Mira na governadora para tentar enfraquecer o governo. Se as denúncias não tivessem sido feitas, Yeda teria hoje 80% de aceitação em virtude do excelente trabalho que vem desenvolvendo. A oposição não tem outra saída. Resta à população fazer a análise, ver se o que eles anunciaram será provado. Se não provarem, a sociedade precisa se revoltar, pois durante todo mandato fizeram acusações sem provas, prejudicando muito a administração e o Estado", defende.

Paulo Feijó pede que governistas aprovem sua ida à CPI

O vice-governador Paulo Feijó (DEM) reagiu às declarações da governadora Yeda Crusius (PSDB) através de nota. Ele questionou por que os integrantes da base aliada na CPI da Corrupção da Assembleia Legislativa não querem que ele seja ouvido e pediu aos governistas que aprovem requerimento que prevê seu depoimento na comissão.

"O DEM não tolera suspeitas de corrupção. Assim, tem sido favorável às CPIs. Não podemos permitir que haja qualquer dúvida com relação a qualquer questionamento entre o que é público e o que é privado", contra-atacou.

Feijó ainda observou que o DEM foi aliado de primeira hora da então candidata Yeda Crusius, "inclusive quando setores do partido da governadora eram contrários ao lançamento de seu nome para concorrer ao governo". Também salientou que a escolha dele como vice foi conjunta entre os partidos da coligação original (PSDB, PPS e DEM).

O vice-governador afirmou ainda que se colocou à disposição para contribuir sempre que chamado. E aproveitou para alfinetar Yeda: "Quantas pessoas foram excluídas ou substituídas no atual governo? Quais as razões destas mudanças? Qual o elemento desagregador?", questionou.


(Fonte: Jornal do Comércio)

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