O desabafo e a verdade
22/10/2009
É
compreensível e até saudável que a governadora Yeda Crusius venha a
público para comentar o arquivamento do pedido de impeachment pela
Assembleia Legislativa. Também é louvável que ela admita ter cometido
erros, como a compra da casa logo depois de eleita e até mesmo a
parceria com um vice que a combate, ainda que o primeiro equívoco tenha
sido resultante muito mais da falta de transparência do que
propriamente da oportunidade. Também caberia alinhar entre os erros a
falta de uma política de comunicação clara e eficiente. Até por isso, a
manifestação da chefe do Executivo tem que ser colocada na sua devida
dimensão: ao contrário do que afirmou, seu governo não tem sido marcado
pela visibilidade dos atos, como a população gaúcha gostaria. O ideal é
que não houvesse uma denúncia de improbidade, da qual foi retirada
unicamente por estar no juízo errado, nem um pedido de impeachment, do
qual se livrou rapidamente porque conta com maioria na Assembleia. A
verdade é que ambas as decisões, a da Justiça e a do parlamento, não
representam um atestado de inocência e nem de idoneidade do governo.
Das
decisões desses dois fóruns – soberanas e democráticas –, cabe o
respeito por parte da sociedade e o acatamento das lições que elas
deixaram. O próprio governo deve ser o primeiro a colher os
ensinamentos dessa etapa da história política e dos processos, a
começar pela necessidade de prestar contas de seus atos de maneira
transparente e profissional, deixando a arrogância de lado.
Depois
do arquivamento do pedido de im- peachment e da exclusão do nome da
governadora do processo de improbidade que tramita em Santa Maria, é
importante que o governo coloque a administração do Estado como
prioridade única. A tradição de acirramento político, característica
que na maioria das vezes prejudica o Rio Grande, precisa dar lugar a um
processo mínimo de convergências em relação aos desafios que devem ser
enfrentados. As explicações sobre as acusações pendentes e a CPI que
ainda está em funcionamento devem ser entendidas como episódios que não
podem paralisar a administração de um Estado que precisa plantar ou
replantar as bases para o crescimento econômico e social. A perda de
posições na comparação com outras unidades federativas é a evidência
que retrata essa persistente e longa deterioração de nossos índices, a
começar pelos da educação. Um Estado que leva a divergência política ao
extremo de prejudicar o andamento da administração só poderá complicar
ainda mais sua recuperação e retardar a retomada do dinamismo
necessário para enfrentar com eficácia os desafios do presente e do
futuro.
Por
isso, junto com o desabafo da governadora e com a obrigação da verdade
em relação aos atos dos agentes políticos, governo e oposição devem
preocupar-se com o destino do Rio Grande e de sua população.
(Fonte: Zero Hora)
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