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Fim do impeachment

21/10/2009

A governadora Yeda Crusius se viu livre ontem do fantasma de sofrer impeachment. Em uma sessão tensa, com incidentes e muitas movimentações de bastidores, a Assembleia decidiu, por 30 votos a 17, encerrar o assunto e barrar o afastamento de Yeda.

Atarde que deveria ser lembrada pelo impeachment que não vingou teve no arremesso de um tomate e em uma cabeçada os ingredientes do seu prato feito. Enquanto os deputados da base governista contabilizavam votos, preocupavam-se em manter quórum e contemplavam a passagem do tempo na sessão que enterrou a possibilidade de afastar a governadora Yeda Crusius, os corredores, gabinetes, plateia e até o banheiro do Legislativo gaúcho fervilhavam.

Eram 15h, e a tarde que viria a ser agitada estava morna no plenário. Nove sonolentos deputados assistiam ao Grande Expediente. Do banheiro logo abaixo da plateia, veio um grito. Poucos ouviram. O estudante petista Henrique Portoluza, o Pulga, 25 anos, saiu para a rua, rampa acima, escoltado por três seguranças. Ele se queixava de ter levado uma cabeçada no nariz ao sair do banheiro. Seus adversários o acusaram de gritar “cocoricó” para a deputada Zilá Breitenbach (PSDB). O fato é que Pulga, 25 minutos após depor no setor de segurança, se recompôs e passou a tarde aplaudindo seus deputados, entre os 80 companheiros que se posicionavam à direita, de frente aos 80 governistas, à esquerda.

No saguão, um grupo de 26 alunos da Escola Anita Garibaldi, de Cruzeiro do Sul, passava, da porta dos fundos para a da frente. As três professoras que os acompanhavam aceleravam a marcha na medida em que se davam conta do clima pesado.

– Vamos visitar o Solar dos Câmara – dizia uma delas, assustada.

Na entrada do plenário, uma guerra de pareceres: assessores da oposição sustentavam serem necessários dois terços de votos. Governistas olhavam com desdém. Era, mesmo, um terço.

Ao lado, um outro grupo, com assessores do PT, do PDT e do PP esboçavam um banco de apostas. Uns diziam que a sessão duraria até as 18h30min. Outros, até as 20h. Um terceiro, com cara de cansado, garantia que as discussões só se encerrariam às 21h. Enfim, estava certo quem apostou nas 18h30min. O grupo heterogêneo também passava o tempo prevendo quanto tempo falaria o deputado Raul Carrión (PC do B), “nosso Fidel”, segundo um deles. Todos cravaram: ele falaria durante uma interminável hora. Erraram. Falou durante 40 minutos.

A sessão não avançou noite adentro por uma questão de estratégia governista. O combinado era que os deputados da situação evitariam os discursos. Os oposicionistas falariam tudo o que tinham para dizer, começaria a votação e o impeachment estaria encerrado.

Os deputados da oposição imploravam para o processo ir adiante, alegavam que a comissão especial não realizou sequer uma reunião, que não houve investigação para se chegar a um resultado. Eram interrompidos por vaias vindas da direita e aplausos vindos do lado esquerdo.

– Vocês são corruptos! Vocês são corruptos! – gritou Raul Pont (PT), olhando para a esquerda, ao encerrar seu discurso.

Carrion, de repente, atravessou o plenário e foi até a claque situacionista.

– Vocês me vaiaram muito? – indagou.

A resposta foi uma risada irônica de quem sabia estar perto do triunfo.

Do outro lado, nervosismo. O estudante Márcio Duarte apelou: jogou um tomate, cujo alvo seria o deputado Coffy Rodrigues (PSDB). Errou o alvo e foi carregado da plateia.

Aí, foi a vez de a deputada Stela Farias (PT) subir ao púlpito, esbravejar e, ao descer, escancarar duas páginas de reportagem da revista Isto é, negativa a Yeda.

Os deputados situacionistas se aprumaram e fizeram uma correria para estar no plenário quando a oposição pediu verificação de quórum, às 17h. Como vários fumavam, tomavam café ou conversavam no saguão, voltaram esbaforidos para evitar a surpresa de ver a sessão encerrada por um erro tão básico. O deputado Nelson Marchezan Jr. (PSDB) desceu da plateia, onde conversava com aliados, quase tropeçou nas escadas, mas garantiu presença. Aliviado, foi à sala onde colegas projetavam o resultado que estava por vir. Saiu de lá escandalizado:

– Pô, tem um baita cartaz que diz que é proibido fumar. E é proibido fumar em locais fechados.

O fumo, o cafezinho e a conversa no saguão eram formas de afastar a tensão. Até que ela se esvaiu, com a vitória garantida e a salva de três foguetes do lado de fora.

leo.gerchmann@zerohora.com.br

LÉO GERCHMANN
Como votaram os deputados
A favor do arquivamento:
- PSDB
Adilson Troca
Coffy Rodrigues
Jorge Gobbi
Mauro Sparta
Marchezan Jr.
Paulo Brum
Pedro Pereira
Zilá Breitenbach
- PP
Adolfo Brito
Francisco Appio
Frederico Antunes
Jerônimo Goergen
João Fischer
Marco Peixoto
Pedro Westphalen
Silvana Covatti
- PMDB
Alberto Oliveira
Alceu Moreira
Álvaro Boessio
Edson Brum
Gilberto Capoani
Sandro Boka
- PTB
Abílio dos Santos
Aloísio Classmann
Iradir Pietroski
Luis Augusto Lara
- PDT
Giovani Cherini
Kalil Sehbe
- PPS
Luciano Azevedo
- PRB
Carlos Gomes
Contra o arquivamento:
- PT
Adão Villaverde
Daniel Bordignon
Dionilso Marcon
Elvino Bohn Gass
Fabiano Pereira
Marisa Formolo
Raul Pont
Ronaldo Zülke
Stela Farias
- PDT
Gerson Burmann
Gilmar Sossella
Paulo Azeredo
- DEM
Marquinho Lang
Paulo Borges
- PSB
Heitor Schuch
Miki Breier
- PC do B
Raul Carrion



(Fonte: Zero Hora)

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