Grave ou absurdo
14/10/2009
O
mais recente episódio político-administrativo rio-grandense envolve a
declaração da governadora Yeda Crusius de que o ambiente institucional
do Estado revela “uma tendência ao golpe”. Por essa alegada razão, a
governadora cancelou uma viagem aos Estados Unidos. Pelas meias
palavras com que a declaração se completou, fica-se sabendo que entre
as possíveis ações golpistas estaria uma eventual tentativa da oposição
ou de associações de servidores de buscar na Justiça a posse do
vice-governador. A questão tem várias pontas. A primeira delas é o
rompimento político e pessoal entre a governadora e seu vice, o
empresário Paulo Afonso Feijó. A segunda, decorrente dessa primeira, é
a negativa sistemática de passar o governo ao vice, inclusive nas
viagens internacionais. Finalmente, aparece a divergência de
interpretação do artigo 81 da Constituição Estadual, que define de
forma dúbia a substituição do titular do Executivo em seus afastamentos.
Nenhuma
dessas questões é nova. É com desgosto que os gaúchos vêm convivendo
com elas desde os primeiros meses da atual administração, quando se
acentuaram as divergências entre a governadora e seu vice. Nesse
período multiplicaram-se também as denúncias e suspeitas contra
integrantes da cúpula governamental, que resultaram numa ação de
improbidade e na abertura de um processo de impeachment na Assembleia
Legislativa, ora em tramitação.
Já
nos posicionamos contrariamente ao impeachment, por entender que
inexistem provas suficientes para justificar uma medida tão
excepcional, que poderia trazer mais danos para o Estado. Porém,
consideramos que o arquivamento do pedido de impedimento, se vier a ser
adotado, como tudo indica, não significa um atestado de idoneidade para
o governo, até mesmo porque prevaleceu na decisão parlamentar motivação
político-partidária semelhante à que mobiliza a oposição política nas
acusações. O melhor, em nossa opinião, é que os eleitores tenham a
oportunidade de decidir essa questão nas urnas, como ocorrerá no ano
que vem, quando as eleições gerais definirão se a governadora merece o
veto popular ou o crédito da continuidade.
Além
disso, há processos judiciais em andamento. E o Judiciário, como os
outros poderes e as demais instituições democráticas, está funcionando
normalmente, com independência e eficiência. Não há razão, portanto,
para se acreditar num golpe em gestação, como alegou a governadora para
justificar o cancelamento da viagem que havia programado ao Exterior.
Se houvesse, seria tão grave, que o próprio Executivo deveria tomar
providências mais concretas, fazendo uso de seu arsenal jurídico e
legal para denunciar e responsabilizar eventuais golpistas. Do
contrário, a não ser que novos fatos sejam revelados, corre-se o risco
de se ver o Rio Grande cair no ridículo.
(Fonte: Editorial Zero Hora)
|
|