Valor simbólico
09/10/2009
Para o bem e para o mal, a política é feita de símbolos. Ontem, o
governo de Yeda Crusius ganhou um símbolo do que pode ser definido como
a dificuldade em separar o público do privado ou de entender os limites
do poder concedido pelo voto. Trata-se de um inocente pufe verde-kiwi
de couro sintético, comprado na loja Tok & Stok por R$ 105. Valor
irrisório para o orçamento do Estado, para o salário da governadora ou
mesmo para o total da nota fiscal (R$ 6.005).
O problema não é o
valor, mas a simbologia. Cercada de assessores de escassa visão
política, Yeda considerou legítimo mobiliar a casa recém-comprada com
recursos públicos, por entender que sua propriedade era uma “casa de
governo”. Seria razoável que comprasse móveis e utensílios necessários
ao exercício do governo, mas a lista de compras divulgada até agora
revela que pelo menos parte da casa foi mobiliada com dinheiro do
contribuinte.
No caso dos móveis da Tok & Stok, a Cage
chegou a cobrar um orçamento e recebeu como resposta que o preço se
justificava pela falta de bem similar. Uma carta encaminhada ao
contador-geral revela a falta de preocupação com os trâmites da
burocracia estatal. Para acabar com a cobrança dos auditores, a carta
diz que “os bens escolhidos estavam em liquidação, segundo informação
de Sua Excelência”.
A oposição sustenta que não foram comprados
com dinheiro público apenas o piso emborrachado da garagem e os móveis
para o quarto dos netos. Cita seis luminárias de R$ 1 mil da Casa das
Pantalhas, porcelanas e roupas de cama, entre outros itens.
Professora
aposentada da UFRGS, Yeda poderia ter mobiliado a casa com o próprio
salário, mas entendeu de apresentar a conta ao contribuinte. Faltou um
conselheiro que lhe mostrasse o peso de um símbolo. Faltou visão para
entender que o fato de o Tesouro bancar casa, comida e roupa lavada dos
inquilinos do Piratini não significa licença para comprar o que sugerem
os decoradores de ambientes.
(Fonte: Rosane de Oliveira - Zero Hora)
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