As
autoridades federais começam hoje o processo de desativação dos
incentivos dados para enfrentar a crise financeira num dos setores
decisivos da economia, o da produção e consumo de automóveis. A medida
e seus reflexos deixam lições importantes. Para impedir a propagação
dos efeitos sociais e econômicos da crise sobre o país, o governo da
União determinou a redução da alíquota do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para automóveis novos, mantendo a venda e a
produção em alta e impedindo que o desemprego se ampliasse, como tendia
a ocorrer nos primeiros meses da crise global. Posteriormente, medida
idêntica foi adotada para a produção de bens da linha branca.
O
êxito conseguido pelas medidas merece reflexões que vão além da simples
constatação de que foram eficazes e mantiveram aquecido o mercado de
automóveis e de eletrodomésticos. A adoção de impostos mais baixos como
política destinada a estimular o consumo – e não de restringi-lo – é,
por si só, a confirmação de que está nas mãos dos governos a
possibilidade de incentivar a cadeia produtiva e o comércio. Ao
fazê-lo, os governos não estarão praticando uma política de renúncia
fiscal, mas agindo exatamente no sentido contrário. Impostos menores
levarão a um consumo maior e, portanto, na prática, a uma ampliação da
própria arrecadação. De quebra, com a produção em crescimento, abre-se
na economia a possibilidade de mais empregos. Não é outra a opção
majoritária dos países desenvolvidos: ao deixarem baixos os impostos
sobre o consumo, estimulam o comércio e a produção, mantêm a
arrecadação e fazem girar a roda do crescimento.
A
lógica de uma política fiscal inteligente e estimuladora aponta, por
isso, para alíquotas baixas na área do consumo. Entre os efeitos do
imposto baixo, nenhum é negativo. A experiência brasileira de
enfrentamento da crise precisa ser discutida com o objetivo amplo de
entender que baixar impostos não significa necessariamente uma perda de
arrecadação. Ao contrário, ela pode ser usada, em crises e
especialmente fora delas, como uma ferramenta de política econômica.
Se, para o consumo, a produção e o emprego se manterem num momento de
crise, foi necessário apelar para o mecanismo da redução da alíquota do
IPI, por que tal medida não pode ser usada com mais eficácia em perío-
dos de normalidade econômica?
Os
governos são, na maioria das vezes, vorazes no sentido de criar novos
impostos e de reduzir alíquotas, vendo nessa reivindicação da sociedade
uma perda de receita e de poder. A realidade mundial e a experiência
com o IPI reduzido no Brasil mostram o contrário. No momento em que o
país discute a adoção de uma reforma tributária e em que não surgem
avanços significativos, a questão da carga de impostos, especialmente
sobre o consumo, merece um capítulo especial. Há espaço para que
governos, parlamento e empresários apliquem as lições aprendidas no
combate aos efeitos da crise financeira.