Quem paga a conta da crise?
22/09/2009
Marcus Vinícius de Almeida As
turbulências provocadas pela crise econômica mundial também têm afetado
negativamente os cofres de nossos municípios. Por um lado, a
desaceleração no ritmo da economia refletiu na redução do poder
aquisitivo da população e no aumento do índice de desemprego. Por
outro, a arrecadação municipal recuou bruscamente em função da menor
movimentação financeira e da diminuição dos repasses federais do Fundo
de Participação dos Municípios (FPM); do ICMS, estadual, e das receitas
municipais. Em linhas gerais, os recursos do FPM
são obtidos por meio do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), sendo transferidos proporcionalmente aos
municípios de acordo com o tamanho de sua população. Trata-se de um
instrumento importantíssimo para a sustentação orçamentária das esferas
municipais de poder, especialmente quando nos referimos a comunidades
menores. Para combater os efeitos da crise, o
governo federal anunciou medidas de redução das alíquotas do IPI,
desonerando automóveis, eletrodomésticos e materiais de construção. A
decisão mostrou-se efetiva: ficou comprovado, na prática, que o corte
de impostos aqueceu as vendas de indústrias afetadas pelas tribulações
do mercado. Contudo, a ação acabou definhando o FPM e,
consequentemente, onerando os caixas dos municípios. O fundo é a
principal fonte de receita em 305 municípios gaúchos, representando
mais da metade dos recursos transferidos a 61% das administrações
municipais do Estado. Para corrigir a distorção
provocada pela redução do IPI, o governo federal liberou, em maio deste
ano, R$ 1 bilhão para os municípios brasileiros, com objetivo de manter
em 2009 o nível do FPM do ano anterior. Desse montante, R$ 59,4 milhões
foram destinados ao Rio Grande do Sul. A verba acabou se esgotando em
julho e a situação agora volta a preocupar: a tendência para o segundo
semestre é de queda ainda maior, em razão da arrecadação do IR ser
inferior à da primeira metade do ano. A solução do
imbróglio passa pela aprovação de nova medida provisória destinada a
complementar o FPM. Para evitar situações semelhantes no futuro, é
imperativa a definição de regras mais claras e restritivas na concessão
de benefícios fiscais que, como consequência, acabem por diminuir o
repasse de recursos aos municípios. A população
precisa saber que as benesses da desoneração tributária foram
concedidas no âmbito federal, enquanto o corte de recursos precisou ser
feito pelos gestores locais. Note-se, portanto, que o pesado ônus
administrativo e político da atual crise está sendo pago, injustamente,
pelas comunidades e prefeituras. Eis um vício institucional que nosso
país precisa vencer. presidente da Famurs
(Fonte: Correio do Povo)
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