“Orçamento real” e o real orçamento, por Adão Villaverde*
22/09/2009
Quando
se elege um gestor público, a ele se atribui a plenitude do ato de
governar e a população lhe confere uma tripla responsabilidade: a
fiscal, a social e a da indução do desenvolvimento. Se analisarmos de
forma rigorosa a peça orçamentária para 2010 que o Executivo gaúcho
enviou ao Legislativo, veremos o quanto essas três dimensões estão
desconectadas e desprovidas das reais necessidades e demandas do
Estado. O chamado “equilíbrio fiscal” só é atingido devido a cortes nas
áreas sociais, não evidenciando nenhuma capacidade renovadora de gestão
na área das contas, e sim a irresponsável via de reduções na prestação
dos serviços e obrigações públicas.
Isto salta aos olhos quando
verificamos o quanto está planejado para ser aplicado em educação e
saúde. Do mínimo de 35% da Receita Líquida de Impostos e Transferência,
previstos pela Constituição para a educação, estão sendo propostos 26%.
A diferença de nove pontos percentuais equivale a não aplicar R$ 1,47
bilhão.
Se formos verificar o que realmente está sendo proposto
para a saúde, encontraremos 5,4%, ao invés dos 12% exigidos
constitucionalmente pela emenda federal. Logo, a diferença é a não
aplicação de R$ 1,09 bilhão.
Somando-se
essas diferenças, significa deixar de prever R$ 2,56 bilhões no
orçamento em educação e saúde. De onde se pode depreender que
exatamente estes valores irão parar, como num passe de mágica contábil,
em outras rubricas. Inclusive naquilo que hoje, depois do engodo do
“déficit zero”, está sendo alardeado como o “pulo do gato” para 2010,
qual seja, os R$ 1,6 bilhão em investimentos.
O governo deveria
explicar qual é o real truque de como saltar de investimentos de R$ 400
milhões (49% do orçado) em 2007, de R$ 660 milhões (52% do orçado) em
2008 e de um valor pífio, até junho deste ano, de apenas R$ 257 milhões
(19% do orçado), para estes propagandeados R$ 1,6 bilhão, exatamente
quando a crise mundial rebate também aqui no RS e a arrecadação cai.
Com
tudo isto, parece, mais uma vez, que o orçamento realmente existente
está longe daquele real que o RS necessita. Ainda esperamos um tempo em
que ele se consolide como um verdadeiro instrumento de planejamento e
metas de políticas públicas de nossos gestores para seu povo. Deixando
de ser mero artifício para sustentar discursos desprovidos de razões
práticas, superando a surrada lógica de orçar um determinado valor,
empenhar somente sua metade e executar uma ínfima parte daquilo
proposto inicialmente.
*Professor, engenheiro e deputado estadual (PT)
(Fonte: Zero Hora)
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