Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter
garantido ontem que a Receita atua 'dentro da normalidade', cerca de 60
auditores fiscais, 24 deles em São Paulo, pediram exoneração de cargos
de chefia em protesto contra a demissão da ex-secretária Lina Vieira e
suposta ingerência política na instituição. As exonerações em massa,
que podem aumentar nos próximos dias, aprofundam a crise na Receita e,
segundo servidores do alto escalão, já estariam comprometendo o
trabalho do Fisco.
Na segunda-feira, 12 altos dirigentes da instituição, inclusive
superintendentes regionais, deixaram os cargos. As exonerações
acentuaram também o racha entre aliados de Lina Vieira, quase todos
sindicalistas com trânsito no PT, o grupo dos ex-secretários Everardo
Maciel e Jorge Rachid e antigos aliados do secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Nelson Machado. O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, e o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, tentaram conter a
sangria com a rápida nomeação de dois novos superintendentes em
substituição aos demissionários do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.
As medidas, no entanto, não foram suficientes. As brigas internas estão
longe de um fim. 'Ao assumir o comando da Receita, Lina Vieira trocou
todos os cargos de confiança em todo o país, o que nunca tinha
acontecido antes na história da Receita', afirmou Everardo.
Aliados de Rachid e Everardo acusam o grupo de Lina de oportunismo
político. O grupo da ex-secretária estaria pedindo exoneração e fazendo
críticas a ingerências políticas para conquistar apoio interno e, mais
tarde, voltar aos antigos cargos de chefia. Os demissionários rebatem
com o argumento de que perderam espaço na instituição porque davam
prioridade à fiscalização dos grandes grupos econômicos e financeiros.
Mantega diz que é 'balela'. |