Enquanto
o site Transparência RS evita divulgar salários de servidores, sob o
argumento de que isso atentaria contra a privacidade dos funcionários
públicos, uma decisão da prefeitura de São Paulo para dar publicidade
aos vencimentos obteve liminar favorável no Supremo Tribunal Federal
(STF).
Lançado há dois meses, o portal paulistano De Olho nas
Contas é um dos poucos do país a publicar a relação dos 162 mil
servidores com os vencimentos. A repercussão entre os funcionários do
Executivo paulistano foi imediata. Sindicatos recorreram à Justiça, e o
caso foi parar no STF.
No dia 8 de julho, o presidente da Corte,
ministro Gilmar Mendes, suspendeu duas liminares do Tribunal de Justiça
(TJ) de São Paulo contrárias à divulgação dos dados. O ministro
sustentou que as decisões que determinam a suspensão da divulgação da
remuneração vinculada ao nome de cada servidor “geram grave lesão à
ordem pública”. Mendes, que também destacou a criação dos portais de
transparência, afirmou que os dados fornecidos pela prefeitura de São
Paulo permitiram constatar o pagamento de salários acima do teto. “A
constatação pelos cidadãos e pelos órgãos estatais de indícios de
possível violação ao teto remuneratório dos servidores públicos abre
importante margem de ação para o controle social e para o controle
oficial”, sustentou o ministro no texto. O mérito será analisado pelo
plenário.
Piratini optou por resguardar intimidade de servidores
Procurador
de carreira, o secretário de Transparência, Francisco Luçardo, explicou
que a decisão do Piratini de não revelar nomes de servidores com os
respectivos salários no portal – www.transparencia.rs.gov.br –
resguarda o direito constitucional dos servidores de manter sua
intimidade.
– O dinheiro é público, o servidor é público, mas a pessoa é privada – afirmou.
A questão é controversa entre especialistas. O jurista Ives Gandra Martins considera constitucional a publicação dos
vencimentos na internet e lembrou que a publicidade é um dos
cinco princípios fundamentais da administração pública:
–
Revelar como o governo está gastando com os servidores públicos, que
são servidores dos contribuintes, me parece algo absolutamente
constitucional.
E complementou:
– Eu, como administrado e cidadão, tenho direito de conhecer o emprego de todo tostão e todo centavo da administração pública.
O
professor de Direito Constitucional da PUCRS Alexandre Mariotti
cosidera necessário calcular se é mais adequado expor a privacidade das
pessoas ou limitar em certa medida a informação ao público.
–
Embora exista o direito constitucional à informação, não vai ao ponto
de saber em detalhes quanto determinado servidor público ganha, ainda
que se trate de dinheiro público – considera Mariotti.
O governo
gaúcho promete para o próximo mês a divulgação da tabela de cargos e
salários e a composição dos cargos em comissão (CCs), sem associar ao
nome dos servidores, no Transparência RS.
aline.mendes@zerohora.com.br
ALINE MENDES