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Aversão à transparência

18/08/2009
Um ano depois de ter sido anunciado pelo governo estadual, o chamado Portal da Transparência deverá ser lançado oficialmente hoje com informações oficiais dos três poderes. O repetido adiamento da iniciativa e as divergências em relação aos conteúdos que serão colocados à disposição dos cidadãos revelam o quanto a democracia e o respeito ao contribuinte ainda podem desenvolver-se. E o quanto uma questão tão óbvia ainda encontra resistência por quem historicamente não adquiriu o hábito de prestar contas à população. Essa aversão à transparência reflete um pouco da nossa tradição patrimonialista, uma herança da qual temos – no Rio Grande e no Brasil – dificuldade de nos apartar.

Assim, vencidas as principais dificuldades políticas e compatibilizados os distintos interesses, a instituição de um portal de transparência com dados dos poderes estaduais representa um avanço de inegável valor democrático. A estruturação dos sistemas administrativos dos governos alcançou, no início do século 21, uma complexidade tal que muito dificilmente o cidadão comum tem capacidade e nível de informação suficientes para acompanhar a gestão dos recursos públicos. Neste sentido, é dever das administrações de todos os poderes colocar as informações à disposição da sociedade, especialmente num momento em que a tecnologia dá essa chance de maneira que é fácil e não é onerosa para a sociedade. Ao fazer esse gesto, os governos obedecem àquele princípio de publicidade na gestão pública, que além de estar expresso na Constituição (art. 37), integra o próprio bê-á-bá da democracia e o bom senso da política. Cabe aos cidadãos, pelo voto ou por outras demonstrações de sua vontade, exercerem o controle das gestões dos poderes públicos.

Por isso, o Portal da Transparência do governo gaúcho, reunindo dados do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, deve ser acompanhado pelos cidadãos com atenção e responsabilidade, até mesmo para que ele sirva de instrumento para ajudar os administradores no uso zeloso dos recursos dos contribuintes. Se a transparência fosse a regra, certamente o país não estaria discutindo neste momento a enxurrada de atos secretos da Mesa do Senado, nem se escandalizaria, como ocorre com frequência, face a denúncias de mau uso de verbas oficiais, a práticas de nepotismo, a superfaturamento de obras, etc. Por isso também, é indispensável que os dados relevantes dos poderes, inclusive os valores pagos a servidores e os recursos investidos ou gastos em outros itens da administração, sejam disponibilizados de maneira ampla, sem restrições, como se faz nas democracias mais sólidas e nas administrações mais responsáveis.


(Fonte: EDITORIAL ZERO HORA)

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