O direito à verdade, por Ivar Pavan*
18/08/2009
Os
últimos acontecimentos relacionados ao esquema de corrupção no Detran e
revelados pela Operação Rodin têm levado os gaúchos à perplexidade. É a
maior crise política da história recente do Rio Grande do Sul. A
gravidade dos fatos é indiscutível, assim como a correção da decisão de
instalar uma comissão parlamentar de inquérito na Assembleia. A CPI
será fundamental para ajudar a dar conhecimento a toda a sociedade
gaúcha sobre a extensão dos problemas. Tenho a convicção de que a mesma
será conduzida com a maior seriedade pelos deputados que a compõem. A
sociedade gaúcha tem o direito de saber a verdade.
Como
presidente, não me cabe estabelecer um julgamento prévio em torno dos
temas que serão alvo da investigação parlamentar. No entanto, as
informações obtidas a partir da ação do Ministério Público Federal
sinalizam para um outro problema também da maior gravidade que não pode
passar despercebido: a deterioração da qualidade das autoridades do
nosso Estado nos últimos anos. A leitura da transcrição das conversas
telefônicas entre os cidadãos, de altos dirigentes estaduais, revela a
ausência total do interesse público, uma completa desqualificação, um
verdadeiro desrespeito à cidadania, a ausência para a atividade pública.
Diálogos
que sugerem a divisão de recursos em telefonemas dados às vezes de
dentro do próprio Palácio Piratini e de outros órgãos públicos são
abundantes nas 1.238 páginas da denúncia do MPF. Conversas permeadas
por palavrões, intrigas e maledicência. Quem quer que leia uma parte
sequer deste extenso documento pode constatar que a gestão pública de
nosso Estado está contaminada por um grande desprezo não só do
interesse público como também por regras mínimas de boa educação.
Este
tipo de comportamento nos permite compreender o desgaste da imagem das
instituições políticas junto aos cidadãos. Independentemente do
resultado final da CPI e das investigações do MP e da Justiça sobre os
atos de corrupção, não tenho dúvida de que a sociedade deve condenar
duramente esta total falta de responsabilidade e espírito público
revelada por autoridades de nosso Estado. Estas constatações fortalecem
a nossa convicção de que uma tarefa central dos cidadãos e dos
políticos responsáveis de nosso Estado e de nosso país é a de trabalhar
no sentido da renovação dos representantes do povo e dos gestores
públicos.
*Presidente da Assembleia Legislativa
(Fonte: Zero Hora)
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