Atualmente
deixam de entrar nos cofres do governo estadual mais de R$ 1 bilhão
anuais devido a programas de renúncia fiscal. O valor representa quase
uma arrecadação mensal do governo estadual. A cifra, informada ontem
pelo secretário estadual da Fazenda, Ricardo Englert, inclui desde
redução de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
para micro e pequenas empresas, o Simples Gaúcho, até incentivos para
atrair empresas baseado no adiamento do pagamento de parte do tributo a
ser gerado, caso do recente anúncio do investimento de R$ 1,4 bilhão da
General Motors na ampliação da produção de carros em Gravataí. Somente
os contratos firmados dentro do Fundopem somam entre R$ 200 milhões e
R$ 300 milhões de renúncia, dimensionou Englert.
O secretário
apontou ontem, na Federasul, que o porte do investimento da montadora
na planta gaúcha determinou o tratamento diferenciado à companhia. Mas
também condicionou a decisão ao impacto da aplicação para a cadeia
produtiva do empreendimento. Demais empresas que escolhem o Rio Grande
do Sul para novas operações ou ampliações são beneficiadas pelo
Fundopem, com limite de financiamento de 75% do ICMS e dependente de
critérios de localização e geração de empregos. A GM também é
contemplada pelo fundo.
Englert descartou redução no ritmo das
concessões de benefícios, mesmo com queda na arrecadação estadual, sob
efeito da crise econômica. Na terça-feira passada, secretários
anunciaram revisão de investimentos para contrapor a receita menor.
“Os contratos se referem a imposto que não existe. Vamos compensar a
queda da arrecadação com intensificação da fiscalização e do combate à
sonegação”, projetou o secretário, que falou sobre política de
desenvolvimento do Estado e a negociação com a GM no evento Tá na Mesa,
promovido pela Federasul, em Porto Alegre. Entre 2007 e abril de 2009,
o governo aprovou 45 projetos pelo Fundopem, que somam investimento de
R$ 785 milhões.
O governo enviou projeto de lei à Assembleia
Legislativa alterando as regras do programa Fomentar, pacote de
incentivo fiscal em vigor desde 1996 e criado para atrair a fábrica da
GM. Em vez de adiar o recolhimento de 100% do ICMS, a nova proposta
prevê comprometimento de 75%, a serem pagos pela empresa somente depois
de dez anos do começo da produção, prevista para 2012, e durante 12
anos. Na nova negociação, Englert admitiu que a GM chegou a pedir novo
empréstimo, a exemplo de 1996 quando o Estado repassou R$ 253,3 milhões
à montadora, e adiamento integral do pagamento do imposto estadual.
Englert indicou que o recurso será emprestado pelo Banrisul, no valor
de R$ 344 milhões, a serem pagos em sete anos com carência de dois
anos. O secretário não revelou as taxas de correção, mas assegurou que
seguem padrão do mercado financeiro.
A empresa também queria a
assinatura de protocolo, com compromisso e concessões do governo,
adotado em 1997. Desta vez, as regras de utilização do incentivo serão
definidas em protocolo a ser assinado após a aprovação do PL pelos
deputados. O secretário assegurou que a concessão de incentivo estará
condicionada à fabricação de 150 mil unidades por ano e geração de mil
empregos diretos. O projeto enviado ao Legislativo não deixa claro essa
dependência. A GM anunciou no dia 15 o terceiro investimento no Estado.
A planta está estruturada hoje para produzir 230 mil veículos. O novo
aporte elevará em 65% a capacidade.
O caso GM
Benefícios e condições previstos
•
1997: contrato assinado com o governo de Antonio Britto para
implantação da fábrica em Gravataí, para produção de 120 mil carros por
ano – modelo Celta.
Investimento da empresa: R$ 400 milhões.
Incentivos:
- Empréstimo para investimento: recursos do caixa do governo estadual.
Valor
financiado: R$ 253.296.000,00 com juros de 6% ao ano, sem correção
monetária. Carência para pagamento: cinco anos. Prazo para quitação:
dez anos. Valor que deixará de ser pago devido à ausência de correção
monetária: cerca de R$ 123 milhões.
- Financiamento pelo Fomentar:
criado para contemplar o incentivo fiscal para a GM. Financiamento de
100% do ICMS gerado. Tempo de fruição: 15 anos (com produção de carros,
a partir de abril de 2000). Carência: 10 anos, com amortização em 12
anos. Sem juros e correção monetária.
- Fundopem: começo no mês seguinte ao término do Fomentar. Fruição: oito anos
Cálculo: 75% do ICMS devido pela empresa, limitado ao investimento fixo da empresa.
- Obras de infraestrutura:
rede de energia elétrica, gás e saneamento, desapropriações e
implantação de acessos, totalizando R$ 141 milhões, custeados pelo
Estado.
• 2004: contrato assinado com o governo de Germano
Rigotto para ampliação da produção em mais 130 mil veículos por ano –
modelos Prisma. Valor do investimento da empresa: US$ 240 milhões
(cerca de R$ 500 milhões) e geração de 1,5 mil empregos. Incentivos:
ampliação de benefícios concedidos. Decreto possibilita liquidar
valores do empréstimo, com desconto de juros seguindo a taxa Selic.
• 2009:
ampliação da produção em mais 150 mil carros, com geração de mil
empregos diretos. Investimento integra pacote de R$ 2 bilhões, sendo R$
1,4 bilhão na planta gaúcha. Serão produzidos dois novos modelos, a
partir de 2012. Contrato ainda não foi assinado com o governo de Yeda
Crusius. Incentivos:
- Empréstimos: R$ 344 milhões pelo
Banrisul, com carência de dois anos e sete anos para quitação, segundo
taxas de mercado que não foram revelados pelo banco e empresa. Mais R$
700 milhões serão buscados no Bndes, sendo R$ 200 milhões a serem
contratados pelo Brde, que assumirá o risco da operação.
- Fomentar:
financiamento de 75% do ICMS gerado a partir do começo da produção.
Projeto de Lei enviado à Assembleia Legislativa altera atual regra do
programa e é adaptado ao novo investimento. Carência: dez anos.
Amortização: 12 anos, sem juros e correção monetária. Fica suspenso o
benefício durante a fruição do Fumdopem.
- Infraestrutura: não há previsão de custeio pelo Estado.