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Papel do PP é garantir a governabilidade, avalia Goergen

13/07/2009

por Guilherme Kolling e Gisele Ortolan


O Partido Progressista iniciou neste final de semana uma série de encontros municipais para definir a sucessão na sigla e a estratégia para as eleições de 2010. O presidente do PP no Rio Grande do Sul, deputado estadual Jerônimo Goergen, acredita que prevalecerá a tese da candidatura própria, amparada por uma aliança que garanta competitividade. Ele aposta que a disputa ao Piratini será vencida por uma terceira via, que una proposta administrativa com capacidade de articulação política.
A decisão do PP será tomada no congresso estadual em 26 de setembro. Até lá, pelo menos, o partido permanece na base aliada do governo Yeda Crusius (PSDB), no qual o papel do PP, segundo Goergen, é garantir a governabilidade, especialmente neste momento de crise política. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, o parlamentar observa que a turbulência no Palácio Piratini poderia ter sido evitada se houvesse mais habilidade política do Executivo.

Jornal do Comércio - Se o PP optar pela candidatura própria na convenção de setembro, o partido deixa o governo do Estado?
Jerônimo Goergen - O que for decidido pela base, faremos. Podemos construir um nome para governador e a candidatura própria poderá significar desembarque do governo. Mas não vamos priorizar o tema da saída ou não do governo. Nem seria leal fazer isso, visto que estamos no Executivo.

JC - Qual sua avaliação dos 30 meses de governo?
Goergen - Lamento que no campo político não esteja melhor. Por exemplo, o conselho político se consolidou nos partidos da base aliada como algo que não atinge a sua finalidade.

JC - É decorativo?
Goergen - É uma reunião de trabalho, mas sem peso decisório. Não estou mais indo, pois o último acordo que eu fiz não foi cumprido. Se for uma reunião de trabalho, eu vou. Sou o presidente do maior partido do Rio Grande do Sul, não vou expor o PP em uma reunião, para depois ver no jornal que o conselho decidiu outra coisa.

JC - É resultado do perfil centralizador de Yeda?
Goergen - Não acho seu estilo fácil para conduzir a articulação política, mas respeito. Acabamos convivendo por achar que o foco da gestão é o correto. Por isso estamos no governo.

JC - Como integrante do conselho político, qual sua avaliação dos casos de Ricardo Lied e Walna Villarins Menezes, assessores de Yeda?
Goergen - Cabe a eles terem o bom senso de se afastarem, até para evitar o constrangimento da governadora. Não estou dizendo que alguém tem culpa, mas é hora de eles pedirem o afastamento. A sociedade está numa onda que não é boa, nem para o PT nem para o P-Sol.

JC - O senhor acha que há denuncismo?
Goergen - Há um execesso. O P-Sol pediu o impeachment, nem esperou o Ministério Público que, para mim, já deveria ter se manifestado. O povo não admira quem faz denúncias como está sendo feito. Não está sendo bom nem para a oposição. Há uma vontade grande de derrubar um governo que, no aspecto gerencial, faz a diferença e só não faz mais porque está sendo obrigado a concentrar sua energia em conduzir esse problema político, o que não tem habilidade para fazer.

JC - Por que o governo não encontra esse caminho?
Goergen - Por causa do perfil da governadora, que é de não dividir com os partidos da base aliada. Isso dificulta o contraponto.

JC - Na Assembleia quem faz o contraponto é o líder do governo, Pedro Westphalen, do seu partido.
Goergen - Pedro é uma grande revelação. A união da bancada acontece em função da sua liderança. Ele cumpre a tarefa. Mas isso teria sido bem mais fácil se houvesse autonomia e uma Casa Civil com mais autoridade. Não é crítica ao (chefe da pasta) José Alberto Wenzel (PSDB), mas à Casa Civil. Foi assim com Cézar Busatto (PPS) e Luiz Ferando Záchia (PMDB). A falta de autoridade gerou problemas que, às vezes, nem eram tão grandes e ganharam proporção. Isso se transformou na crise atual.

JC - Mas a CPI na Assembleia não sai, mesmo com denúncias a toda semana.
Goergen - Falham os dois lados: quem denuncia e não traz provas e o governo, que não acerta na forma de reagir. A CPI é um processo político legítimo da oposição. Mas hoje tudo está sendo investigado. E o PP tem o líder do governo na Assembleia. Temos que dar governabilidade ao Rio Grande do Sul e não vamos assinar a CPI.

JC - O PP vai apoiar projetos do Executivo como o da reforma das carreiras?
Goergen - Não há o menor ambiente político para enfrentamentos mais polêmicos na Assembleia. A pesquisa do governo vai dizer uma coisa, mas a prática é outra. Quero reconhecer méritos do governo para seguirmos ajudando na governabilidade. Mas não estamos sendo aproveitados para dar contribuições. Não falo com Yeda sobre política há muito tempo.

JC - Não serão votados projetos polêmicos, a CPI não deve sair... Qual será a pauta da Assembleia no semestre?
Goergen - Vamos discutir o orçamento, temos a discussão do Código Ambiental. Mas a Assembleia não está preparada para fazer um debate que vem errado desde o início, com a politização e radicalização do Cpers. As deficiências políticas geraram esse ambiente. E a Casa não vive um bom momento.

JC - A crise no Executivo afeta o Legislativo?
Goergen - Claro. Porque o nosso papel é fiscalizar. Estamos fazendo isso. Cada um no seu campo político. A oposição tem legitimidade ao querer a CPI e nós temos a responsabilidade de conduzir a governabilidade. O governo se obriga a concentrar forças na sua defesa, mais do que em uma estratégia política. E a oposição também vai ser cobrada (na eleição). O eleitor conhece quem é quem no jogo.

JC - Essa gestão será cobrada pela transparência?
Goergen - A transparência é cobrada hoje. O candidato que quiser enfrentar a eleição terá que ter mais do que ética. Aliás, isso virou plano de governo no Brasil, quando deveria ser algo intrínseco às pessoas. Há incoerências. O PT aqui defende 12% do Orçamento na Saúde, mas quando era governo não fez. Posso apostar que não serão os nomes que estão aí os que vão concorrer ao governo, pois já entram num processo de desgaste.

JC - O senhor se refere a Yeda, Germano Rigotto (PMDB) e Tarso Genro (PT)?
Goergen - E até José Fogaça (prefeito de Porto Alegre, PMDB).

JC - Há possibilidade de uma outra alternativa?
Goergen - Há espaço para um nome diferente. O eleitor não vê com bons olhos a disputa que está se traçando.

JC - O senhor destacou a parte da gestão no governo. Quais foram os avanços?
Goergen - Não tínhamos discussão sobre gestão no governo. Tivemos Olívio Dutra (PT), com sua posição ideológica: ou era do PT ou não era do Rio Grande do Sul - faz 10 anos que ele mandou a Ford embora. Depois veio Rigotto, na posição de paz e amor. Harmonizou as relações políticas, mas não fez o enfrentamento estrutural. No aspecto gestão, o mérito é de Yeda.

JC - Rigotto diz que também implementou gestão.
Goergen - Se fez, não soube vender. Hoje, ele teria dificuldade de enfrentar Yeda em um debate sobre gestão. E ela colocou esse debate para a próxima eleição.

JC - Pesa o fato de o Rio Grande do Sul não ter histórico de reeleição?
Goergen - Os governantes têm inviabilizado suas reeleições. Então, entre sair desse projeto que era novo e voltar ao que se tirou, porque não era bom, abre-se espaço para a terceira via. Sempre foi assim. Saiu Antonio Britto (PMDB), elegeu-se Olívio, porque Britto não era bom. Depois ia tirar o PT para eleger Britto de novo? Não. Então, foi a vez de Rigotto, que não fez, e aí teve a Yeda. E vai tirar Yeda para por Rigotto de novo?

JC - Então, para o senhor, se repete o cenário que aconteceu em 2002 e 2006?
Goergen - Não é por ser uma tradição do Rio Grande. Os últimos governos têm errrado de tal forma que se inviabilizam. A governadora Yeda tem condições de botar a bola no meio-campo. Mas, é preciso habilidade que, até agora, ela demonstrou não ter.

JC - O senhor acha que se Yeda vencer a crise política é o nome mais forte?
Goergen - Ela poderia ter evitado a crise. As coisas vêm piorando. As pesquisas começam a aparecer e o eleitor se orienta, o processo político se antecipa. Os que passaram tentam aumentar o problema. Como a gestão falhou nos outros governos, é melhor para eles que no dela não dê certo. Descaracterizar o debate em cima da gestão é bom para quem já passou.

JC - Como seria construída uma nova alternativa?
Goergen - Não ter um nome pronto acaba sendo uma vantagem, pois podemos construir uma alternativa. O diretório nacional sinalizou que queria uma candidatura própria com coligação.

JC - Quais seriam as possibilidades?
Goergen - Na prática, hoje não se afasta o diálogo com qualquer partido. Já falei com Rigotto, com Berfran Rosado (presidente estadual do PPS) e Zilá Breitenbach (presidente estadual do PSDB). Também com PSB e PCdoB. Mas, institucionalmente, PMDB e PT não conversaram conosco. O que nos atrai é a candidatura própria, faltando um nome, que será discutido a partir de agora.

JC - Os partidos relutam em abrir mão de ser cabeça de chapa.
Goergen - Não temos um nome, o que nos mantém em condição de igualdade de diálogo. A prioridade para o PP é uma candidatura própria a governador, com alianças. Hoje o PP não aparece nas pesquisas porque não tem candidato. Isso é positivo, pois os nomes atuais estão num processo de ranço político, radicalismo, denuncismo.

JC - O PP não consegue em eleições estaduais o mesmo êxito que tem em disputas municipais. Por quê?
Goergen - Porque tínhamos um processo de precipitação no lançamento da candidatura, o que nos isolava. Quando o PP já tinha lançado, o PMDB dava o espaço de vice a um partido menor, ganhava tempo de televisão e visibilidade. E, na hora do voto, o eleitor do PP via que o seu candidato não ia ganhar, pois tínhamos um minuto de televisão, e dava o voto útil. Por que o Turra perdeu (em 2006)? Porque a estrutura de campanha o inviabilizou. E entrou o voto útil. Em 2006 foi para Yeda.

JC - A aliança com os partidos deveria ter acontecido em outro momento?
Goergen - Houve o debate de que se Turra tivesse sido o vice de Yeda ou de Rigotto, teríamos ganho. Mas, não discutimos isso e o partido acabou no isolamento. Em vários municípios, Mônica Leal (do PP, que concorria ao Senado) foi a primeira, e Turra, o terceiro. Os votos do PP apareceram na senadora, e no Estado para Yeda.

JC - Vale para esta tese o PP ser o vice de Beto Albuquerque (PSB)?
Goergen - Nossa prioridade é a construção de candidatura própria.

JC - Ao assumir a presidência do partido no Estado, o senhor falava em reinventar o PP. Foi possível?
Goergen - Sim, corrigimos erros que vínhamos fazendo. Precisávamos de uma relação mais próxima da base, estávamos distantes. Quando o (secretário estadual de Relações Institucionais) Ceso Bernardi era o presidente estadual, tínhamos 174 prefeitos. Na gestão de Francisco Turra, ficamos com 134 prefeitos. Hoje subimos para 149. Começamos a fazer congressos, debates regionais. Foi a única juventude partidária que cresceu em número de vereadores. Considero que atingimos o objetivo de estabeler um bom relacionamento com a base.

JC - Para sua sucessão no PP, ficou acertado que os candidatos não podem concorrer nas eleições de 2010?
Goergen - Foi uma proposta dos deputados federais, que entendem que eu tenho visibilidade no cargo. Mas não enxergam as dificuldades que encontramos. A preocupação do PP não deve ser o seu presidente ou um projeto pessoal, mas sair bem na eleição para o governo do Estado. Quis deixar a presidência, pois sou candidato a deputado federal e não é fácil cuidar de uma candidatura e de um partido do tamanho do nosso. Então, convoquei a convenção. Isso foi importante pois evitou desgastes.

JC - Há consenso?
Goergen - Sim, vivemos novamente em harmonia e, em 26 de setembro, teremos a convenção estadual. O bom senso aponta a indicação de um nome que, não sendo candidato, cuide da vida do partido e suas alianças para a eleição de 2010.

JC - Para que alguém que não concorra assuma o PP...
Goergen - Caso contratário, eu poderia ficar. É preciso que o partido se concentre não na presidência, mas na necessidade de ter candidato ao governo. E não isolado, mas em uma aliança, corrigindo a falha de lançar um nome sem uma composição. Quando o PP faz isso, afasta outros partidos. Agora vamos debater para chegar com um nome na vitrine em setembro.

JC - E se o senhor for indicado ao governo do Estado?
Goergen - Terei orgulho de representar o partido. Meu projeto é ser deputado federal, porém, tenho condições de amanhã ou depois ser candidato a governador. Vamos ouvir a base.

JC - Qual é a sua opinião hoje sobre o nome do PP?
Goergen - Não quero encontros regionais com um nome pré-direcionado. Temos vários: Francisco Turra, Celso Bernardi, Luiz Carlos Heinze, Frederico Antunes. Mas não se pode dizer que são estes ou outros. A intenção é chegar aos encontros dando liberdade para a base.


Perfil
Jerônimo Pizzolotto Goergen tem 33 anos e é natural de Palmeira das Missões (RS). Cresceu em Santo Augusto (RS) e veio a Porto Alegre aos 15 anos para estudar. Formado em Direito pela Ulbra, tem pós-graduação em Direito Empresarial na Pucrs. Mas exerceu a profissão por apenas um ano. Interessado em política, filiou-se em 1995 ao então PPR (depois PPB, atual PP) - mesmo partido do pai e do tio, que também foram políticos. Logo se destacou na juventude do partido, assumindo cargos na direção e sendo por duas vezes presidente da Juventude Progressista. "Assumi com 22 diretórios e entreguei 251", lembra.
Aos 25 anos, foi convidado para ser assessor do ex-ministro da Agricultura Marcus Vinícius Pratini de Moraes. Em 2002, concorreu pela primeira vez a um cargo público, sendo eleito deputado estadual. Assumiu na Assembleia Legislativa aos 27 anos. Em 2006, foi reeleito. Chegou a aceitar o convite da governadora Yeda Crusius (PSDB) para ser secretário da Agricultura, mas desistiu e optou pelo Parlamento depois que o Palácio Piratini encaminhou um projeto de aumento de impostos.
Hoje, ele coordena a Frente Parlamentar do Agronegócio. Também é presidente estadual do Partido Progressista, cargo que assumiu em 2007. Seu mandato, que terminava em maio, foi prorrogado até o final de setembro, quando acontece a convenção estadual do partido.



(Fonte: Jornal do Comércio)

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