O “déficit zero” em risco, por José Paulo Dornelles Cairoli*
30/06/2009
Enfrentamos
uma conjuntura marcada pelos efeitos da crise financeira internacional,
que já provocou a retração do PIB brasileiro por dois trimestres
consecutivos. Embora o impacto da crise no Brasil seja menor do que
aquele observado na maioria dos países emergentes e desenvolvidos, ela
deixa sua marca nas reduções da produção, do emprego e da arrecadação
de tributos no país. Nesse cenário, o equilíbrio das contas públicas
gaúchas está em risco.
O chamado “déficit zero” ainda se
constitui numa conquista que precisa ser consolidada. O equilíbrio
obtido ano passado deveu-se à combinação de medidas como ações de
modernização, controle de gastos e o empréstimo obtido junto ao Banco
Mundial, com o aumento da arrecadação derivado do crescimento da
economia. A pujança e a potencialidade da economia gaúcha, como sempre
defendemos, acabou sendo o fator decisivo para o reequilíbrio das
contas públicas.
Sabemos que um item importante para o
equilíbrio das contas é a redução dos gastos. Mas eles continuam
elevados e em expansão. Por esta razão, não podemos fechar os olhos
diante do risco que a crise traz. Com as despesas crescendo e a
arrecadação praticamente estagnada, a conta deve fechar no vermelho em
2009. Nos primeiros cinco meses deste ano, o ingresso de receita via
arrecadação de ICMS cresceu apenas 3,4% em termos nominais em relação
ao mesmo período do ano anterior, abaixo da média brasileira e muito
aquém do desempenho observado em 2008.
Soma-se
a esta realidade outro fator preocupante: a pressão para novos gastos.
Recentemente, a Assembleia aprovou aumentos para alguns setores do
funcionalismo sem qualquer questionamento da base governista,
estimulando novas reivindicações por reajustes salariais no serviço
público.
Pensamos que o governo não deve ceder diante das
pressões corporativas por aumentos salariais. E, para resistir, precisa
demonstrar rigor ainda maior no controle dos seus gastos. Espera-se dos
outros poderes a mesma atitude para evitar retrocessos que nos remetam
a uma situação de déficit orçamentário crônico. A preservação do
equilíbrio das contas é uma responsabilidade de todos os poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário) para com as futuras gerações. Por
esta razão, espera-se, de modo compartilhado, um rigor ainda maior no
controle dos gastos públicos.
*Presidente da Federasul
(Fonte: Zero Hora)
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