A
admissão, pelo ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, de que a
reforma tributária ficará para depois de 2010, portanto no próximo
governo, não chega a surpreender, mas é frustrante. Esta não seria a
primeira vez nos últimos anos em que, depois de dedicarem tempo e
energia a essa que é uma das principais aspirações dos contribuintes no
país, parlamentares e homens do governo simplesmente deixam o tema de
lado, por já não se mostrar conveniente por alguma razão. Ocorre que,
independentemente das restrições por parte de governadores e prefeitos,
temerosos de perder receita com uma eventual mudança, a questão ainda
precisará ser examinada não apenas sob o ponto de vista de quem
arrecada, mas também de quem contribui. Levar a intenção adiante,
valendo-se de uma estrutura enxuta graças ao maior uso de novas
tecnologias, significaria um alívio para os contribuintes, mas também
uma redução da burocracia comumente associada a esta área, facilitando
o desenvolvimento.
A inviabilidade da reforma ainda no atual
governo não é consensual. O próprio ministro do Planejamento, ao
descartar a possibilidade, admitiu sua necessidade ao lembrar o uso de
casuísmos tributários para atenuar o impacto interno da crise econômica
internacional em algumas áreas. Entre as providências inadiáveis para
aliviar o fardo do setor produtivo e das pessoas físicas, está a
redução de alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
em algumas áreas, que impediu uma queda acentuada no consumo e na
produção de determinados bens. Mas um país que precisa crescer num
ritmo continuado não pode prosseguir apenas fazendo de conta que
pretende levar uma reforma tributária adiante ou recorrendo a mudanças
temporárias na área de impostos.
Mais
uma vez, a questão corre o risco de voltar à estaca zero porque o poder
público, nas três instâncias da federação, hesita em cortar custos, o
que implicaria uma necessidade menor de recursos para financiar a
máquina pública. E, além de gastar mais do que deveria, ampliando os
dispêndios mesmo depois da confirmação de uma crise econômica de alta
intensidade, governantes insistem em encarar a perspectiva de uma
mudança na área tributária apenas sob a sua ótica, a das receitas. É
óbvio que qualquer alteração na sistemática de tributos precisa
garantir um financiamento em níveis adequados para a máquina
administrativa. Uma reforma mais próxima das necessidades, porém, só
irá ocorrer se contemplar também os interesses de quem paga os
impostos, baseada numa estrutura ajustada e eficiente. Diante de tantos
recursos colocados à disposição pelas novas tecnologias, essa é uma
mudança que depende apenas de vontade política, mas que até hoje ainda
não se mostrou suficiente para transformá-la em realidade.