Crise: a queda do segundo muro, por Ivar Pavan*
12/02/2009
Mesmo que o Brasil esteja muito melhor preparado para as turbulências da economia mundial, estamos sentindo os reflexos da crise, manifesta na perda de empregos, encolhimento dos orçamentos de municípios, Estados e União e na redução da atividade produtiva em vários setores.
Mas temos que observar o seu simbolismo. Ela tem o mesmo caráter e significado da queda do Muro de Berlim, há duas décadas, que simbolizou a decadência de um modelo. O desmoronamento do estatismo total criou condições para o ressurgimento do modelo neoliberal, do mercado total como alternativa exclusiva de desenvolvimento.
Defensores desse modelo anunciaram o fim da História, já que os mercados garantiriam a estabilidade e o progresso da humanidade. Os que ousavam discordar, propor outra alternativa, eram tidos como retrógrados, atrasados, pré-históricos. Assim, o neoliberalismo se fortalecia no mundo e, especialmente, na América Latina. No Brasil e no Rio Grande do Sul, esta alternativa implicou o desmonte do Estado e a fragilização do poder público em produzir políticas.
Passadas apenas duas décadas, o modelo do mercado total, tido como o único a garantir a estabilidade e o progresso, entra em colapso.
Mesmo os mais radicais paladinos do mercado total, que diziam que o Estado era um entrave para o desenvolvimento, agora pedem socorro aos governos, sem nenhum constrangimento. E, novamente, bilhões em recursos públicos são destinados para resolver seus problemas.
Como se trata da crise de um modelo, o parlamento gaúcho também está desafiado a buscar alternativas e a debater qual será o papel do poder público no próximo período.
Diante do contexto de crise do modelo baseado no mercado total, o parlamento não pode eximir-se de debater questões como: o papel do Estado na elaboração, financiamento, execução e fiscalização das políticas públicas; a importância do Estado no processo de desenvolvimento; as prioridades dos governos no enfrentamento da crise.
É urgente um grande debate com empresários, trabalhadores, poder público e outras organizações da sociedade, para analisar com profundidade os impactos nos diferentes setores e construir alternativas. É inadiável que o parlamento, como espaço legítimo de discussão da política, assuma a responsabilidade de fomentar ações, projetos, eventos e iniciativas que previnam e busquem o enfrentamento à crise. É inadiável, também, que a Assembleia Legislativa se fortaleça para influenciar na definição das ações prioritárias dos governos.
*Presidente da Assembleia Legislativa
(Fonte: Zero Hora)
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