O moderno abigeato assusta o campo gaúcho
09/02/2009
Um dos crimes que mais atormenta o campo gaúcho, neste momento, é o abigeato, o roubo de animais. Ele vem crescendo de forma assustadora e as autoridades responsáveis pelo seu combate - a Brigada Militar e a Polícia Civil - pouco podem fazer. Primeiro, porque os efetivos policiais e os recursos financeiros são escassos; segundo, porque é impossível estar presente em todas as estradas do interior e campos das fazendas onde os ladrões agem à noite e, até mesmo, durante o dia. Não há, sequer, números confiáveis, porque muitos criadores de gado, desiludidos sobre providências oficiais, não registram mais as ocorrências. Mas, segundo números anotados por entidades do setor, é possível constatar o crescimento da atividade criminal. Em 2004, teriam sido mais de 13 mil casos de abigeato, contra cerca de 11 mil em 2003. No ano passado, teriam chegado a 15 mil ocorrências. Além do mais, o que acontece hoje não é o abigeato tradicional, aquele em que alguém carneava uma vaca ou levava uma ovelha na garupa do cavalo para alimentar a família. Era crime, sem dúvida, mas passava um pouco despercebido na imensidão das fazendas gaúchas. Hoje, verdadeiras quadrilhas roubam tropilhas de vacas, bois e novilhas. Derrubam as cercas, encostam caminhões ganadeiros e carregam 40 ou 50 animais. Ou, então, além de carnearem e roubarem, cometem vandalismos como aconteceu em Candiota, recentemente, quando, além de levarem ovelhas de alta qualidade genética da Fazenda Fortaleza do Seival, mataram 29 animais a tiros, causando um prejuízo incalculável, pois as borregas estavam sendo preparadas para venda no grande leilão anual da fazenda. A situação se tornou tão grave que até o governo federal, através do ministério da Justiça, resolveu intervir. O ministro Tarso Genro realizou reuniões, em Porto Alegre, com os representantes de setores interessados e ofereceu tropas da Força Nacional de Segurança Pública para que o Rio Grande do Sul tenha melhores condições de combater tais criminosos, verdadeiras quadrilhas que estão aterrorizando a área rural e trazendo prejuízos para os criadores e para a economia do Estado. Os homens da FNSP não atuariam diretamente no campo para evitar os roubos e prender os criminosos, mas prestariam serviço em outras áreas da segurança pública, liberando soldados da Brigada Militar e funcionários da Polícia Civil para que agissem contra os abigeatários. O governo gaúcho ainda não se manifestou sobre o oferecimento. Pode ser, sem dúvida, um grande auxílio. A presença da autoridade no campo, certamente, intimidará os ladrões, que hoje não respeitam os peões das estâncias nem os próprios proprietários. Sabe-se de casos de peões que, ao fazer o trabalho de campo, encontram quadrilhas abatendo e carneando vacas, bois e ovelhas e nada podem fazer, porque se sentem intimados pelos invasores, geralmente bem armados, enquanto ele não tem arma alguma. O que faz é voltar à sede da fazenda e comunicar que havia pessoas carneando animais. Quando se consegue avisar a Brigada Militar ou a Polícia - nem todas as fazendas têm acesso a telefones - já é tarde e os ladrões foram embora levando, muitas vezes, o lucro de um ano de trabalho se o produtor é de pequeno porte. Mas, além do reforço do policiamento ostensivo, é preciso buscar e debelar as causas principais do moderno abigeato. Estes animais roubados são destinados a abatedouros que fornecem a carne para os revendedores distribuírem ao consumidor, muitas vezes sem os necessários cuidados de higiene. Uma curiosidade apontada por entidades de criadores é que o crime vem crescendo em regiões onde a população rural tradicional está sendo substituída, através de programas oficiais, por pessoas estranhas ao meio.
(Fonte: Editorial - Jornal do Comércio)
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