ZH: Rosane de Oliveira - Primo pobre
03/08/2004
Está para se repetir uma história bastante conhecida dos servidores públicos estaduais: os colegas do Judiciário e do Legislativo terão os salários reajustados e eles ficarão, mais uma vez, a ver navios. O presidente da Assembléia Legislativa, Vieira da Cunha, quer dar o aumento de 10,38% com base na norma constitucional que manda corrigir os salários anualmente.
Para não falar em reajuste, o Judiciário vai aumentar os salários dos seus com base em uma decisão judicial que deu, a quem já teve ações julgadas contra o Estado, o reajuste da Unidade Real de Valor de 1994. A idéia é estender essa correção a todos, partindo do princípio de que cedo ou tarde todos conquistariam o dinheiro. Na prática, o contracheque terá um acréscimo de 11,98%.
Em vão, o governador Germano Rigotto vem tentando convencer Vieira da Cunha a não dar o aumento. Rigotto apela para a solidariedade dos demais poderes, já que as finanças do Estado não suportam um reajuste geral de salários. Aliás, sem aumento mesmo, o funcionalismo vive sob ameaça de atraso nos salários e a prioridade do Palácio Piratini é evitar que se repita o cenário de fevereiro, quando faltou dinheiro para quitar a folha.
Os salários no Legislativo e no Judiciário são superiores aos do Executivo mesmo para funções idênticas. A comparação das médias salariais mostra que o Executivo é o primo pobre - e cheio de filhos - entre os três poderes. Enquanto os outros dois poderes vêm concedendo aumentos periódicos, algumas categorias do Executivo estão há 11 anos sem receber reajuste.
Os chefes do Legislativo e do Judiciário costumam dizer que os poderes têm orçamento próprio e que suas contas suportam os aumentos salariais que vêm dando. É verdade que a Constituição garante autonomia financeira, mas o dinheiro que abastece essas contas sai da mesma fonte: o bolso do contribuinte. O Estado é um só e está falido.
Fonte: Zero Hora
Data: 03/08/2004
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