ZH: Rosane de Oliveira - Sobre a coceira
20/05/2005
Depois que o presidente do Tribunal de Justiça, Osvaldo Stafanello, chamou o Centro Administrativo de Monstrengo e insinuou que os servidores do Executivo são vagabundos, o verbo \\"coçar\\" se incorporou ao vocabulário dos funcionários públicos. A pergunta que mais se faz entre os servidores que trabalham no Centro Administrativo é por que Stefanello não falou dos que se coçam no Judiciário.
Criou-se até uma espécie de valor de referência: o minuto-coceira em cada poder. Pela média salarial, é no Ministério Público que o minuto-coceira custa mais caro. Depois vêm o Tribunal de Contas, o Judiciário e a Assembléia. A diferença começa pelos estagiários.
Se a briga continuar, daqui a pouco vai começar a discussão sobre quem tem mais horas dedicadas à arte de não fazer nada. Como todas as generalizações são perigosas, convém desde logo esclarecer que os três poderes têm funcionários dedicados, mas cada um tem seus desocupados de estimação.
A manifestação deselegante de Stefanello tem o mérito de suscitar um bom debate sobre produtividade no setor público. Não se trata de criar um exército de fiscais da coceira remunerada, mas de cada poder adotar mecanismos para melhorar a gestão e garantir que todos trabalhem o número de horas para as quais foram contratados. À sociedade que paga não convence o argumento de que se alguém está insatisfeito com o salário tem o direito de trabalhar menos.
Quem não conhece casos de repartições em que se todos cumprirem a jornada de trabalho faltarão mesas e cadeiras?
O Judiciário acaba de ganhar autorização para contratar mais 635 funcionários em cargos de confiança. Ainda que exerçam funções técnicas, a opção pelo CC é justificada por magistrados com o argumento de que servidores em cargos de confiança são mais produtivos e menos onerosos do que os concursados, porque não pesam para o Estado na aposentadoria. Em outras palavras, os magistrados querem preencher os cargos sem concurso porque suspeitam que quem tem estabilidade no emprego se coça mais.
Fonte: Zero Hora
Data: 20/05/05
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