Correio Braziliense: Servidores públicos federais vão parar em junho
24/05/2005
Em assembléia realizada ontem, sindicatos de funcionários públicos marcam greve a partir de 2 de junho próximo. Eles querem reajuste de 18% e governo acena com aumento de apenas 0,1%, que custará mais R$ 72,3 milhões
Luís Osvaldo Grossmann
Da equipe do Correio
Ressabiados com o resultado da greve do ano passado, os servidores públicos federais estão cautelosos. Na Plenária Nacional realizada ontem, com a presença de representantes de 11 categorias, duas entidades confirmaram greve por tempo indeterminado a partir do dia 2 de junho. Entre as demais, ainda há dúvidas. Algumas farão paralisações de 48 horas. Outras vão aguardar o desenrolar do movimento.
Em números, porém, as duas categorias que já decidiram parar podem incentivar outros colegas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) reúne uma base de 360 mil servidores em ministérios e órgãos públicos. A eles se juntam os 260 mil funcionários, liderados pela Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social - que, além dos ministérios da Saúde, Trabalho e Previdência, inclui o pessoal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
"No nosso caso, já temos diversos setores confirmados", diz o secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa, ao alinhar na greve os funcionários do Ibama, Incra, DRTs e dos ministérios da Fazenda, Agricultura e Cultura (esses últimos, em greve desde 4 de abril). "A greve sai no próximo dia 2, mas os trabalhadores vão aderir paulatinamente, conforme as condições de cada categoria", explica Costa.
O mesmo acontece nos ministérios da Saúde e do Trabalho. Servidores da Previdência e do INSS têm reunião amanhã com o ministro Romero Jucá. "A princípio vamos parar no dia 2, mas tudo depende do que será apresentado nessa reunião, em resposta ao que levamos ao ministro na semana passada. De qualquer forma, Saúde e Trabalho vão parar", diz o diretor-executivo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSSS), Pedro Luis Totti.
Fragmentação
Outras duas entidades, o Sinasefe, que reúne as escolas federais técnicas e agrárias, e a Fasubra, que tem servidores das 46 universidades federais, vão suspender as atividades por 48 horas a partir do mesmo 2 de junho. "De imediato, não entraremos na greve, mas ao longo do mês de junho vamos ver como as coisas acontecem. Podemos parar ainda na primeira quinzena", explica o coordenador-geral do Sinasefe, Ewaldo Silveira.
Essa fragmentação reflete o resultado do processo desencadeado pelos servidores em 2004, quando uma greve começou unificada, mas foi gradativamente esvaziada à medida em que cada categoria começou negociações em separado com o governo federal. Ainda assim, os sindicalistas não vêem divisão no movimento deste ano. "Não caracteriza uma divisão, porque cada categoria tem seu próprio ritmo. Algumas já estão com o processo mais adiantado que outras, por isso têm condições de parar agora", avalia o coordenador-geral da Fasubra, Paulo Henrique Rodrigues Santos.
Ele reconhece, porém, que as manifestações dos sindicalistas na assembléia de ontem apontam para uma greve em que as categorias vão sentindo aos poucos se há chances de ampliação do movimento. "Com as entidades entrando aos poucos, a sensação de crescimento funcionará como um incentivo para outras categorais. Aprendemos com a experiência do ano passado", diz Paulo Henrique. Para o secretário-geral da Condsef, essa mesma experiência reforça a necessidade de garantir a unidade. "Ao contrário de 2004, faremos uma negociação unificada", diz Josemilton Costa.
O que une essa negociação são as reivindicações comuns a todos os servidores federais. Eles querem reajuste de 18%, incorporação de gratificações e um plano para a recuperação de perdas com a inflação nos últimos dez anos, além da paridade entre funcionários públicos ativos e aposentados. O governo, no entanto, acena com apenas 0,1%, conforme prevê o projeto de lei com o reajuste dos servidores para este ano enviado ao Congresso Nacional.
Sem verbas
O Ministério do Planejamento evita comentar as movimentações para a greve. "O governo insiste que a previsão de aumento no Orçamento deste ano para o serviço público, de quase R$ 9 bilhões, representa recursos de ganhos negociados no ano passado. Ou seja, sem previsão de verbas, qualquer negociação que fizer conosco será para 2006", reclama Marcos Dorval Schmitz, do Sinasefe.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara a opinião do governo. "Demos um forte ajuste aos servidores no ano passado. E só posso dar na medida em que eu olho o caixa e percebo que eu tenho. Se não tiver, eu vou dizer por que não podemos dar", afirmou, ao defender o reajuste de 0,1%. Nas contas do governo, os gastos com pessoal passaram de R$ 75 bilhões para R$ 98 bilhões com os acordos dos últimos dois anos - um crescimento de 30%.
Fonte: Correio Braziliense
Data: 24/05/05
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