FSP: OPERAÇÃO CEVADA: PF apura ação de outras cervejarias
24/06/2005
Documentos apreendidos por investigadores federais na Malteria do Vale S.A., no interior de SP, podem vincular outras cervejarias brasileiras, além da Schincariol, em um amplo esquema de sonegação fiscal e evasão de divisas.
Segundo a Polícia Federal, a malteria fornecia insumos para fabricação de cervejas para outras indústrias do setor, agindo por meio de empresas fictícias, subfaturando notas fiscais.
De acordo com o delegado federal Cassius Valentim Baldelli, a Malteria do Vale, instalada em Taubaté, emitia notas fiscais subfaturadas em nome de empresas fictícias, que depois emitiam notas no valor correto para o grupo Primo Schincariol. No entanto, ao emitir a nota com valor mais baixo para a empresa de fachada, a Malteria do Valle sonegaria impostos e dividiria, depois, os lucros da operação com a Schin.
"Os computadores e documentos apreendidos indicam, em uma análise preliminar, que a Malteria do Vale também fazia esse tipo de operação com outras cervejarias brasileiras. Contudo, precisamos aprofundar a investigação nesse sentido", disse à Folha o delegado, que não quis citar o nome das outras empresas que também compravam insumos.
A Folha tentou entrar em contato, ontem à noite, com a Malteria do Vale nos números telefônicos que constam do catálogo. Nenhum deles atendeu a chamada.
Hoje, o Ministério Público Federal decide se pedirá à Justiça a prisão temporária de diretores e funcionários da Schincariol e de distribuidoras e fornecedoras da empresa, entre eles os donos da Malteria do Vale, que foram presos durante a Operação Cevada, deflagrada dia 15. Eles tiveram sua prisão temporária renovada por cinco dias, e o prazo para que deixem a cadeia termina hoje.
Lojas temem concentração de mercado
Os riscos de que um eventual enfraquecimento da Schincariol possa elevar a concentração no mercado de cervejas preocupam os supermercados e parte do setor de bares. O grupo Schincariol tem 12,7% das vendas. A AmBev, 68,3%.
Ontem, o presidente da associação dos supermercados, João Carlos de Oliveira, disse torcer para que a fase delicada que a empresa atravessa não afete os seus negócios. "Temos poucas marcas de expressão então, se essa cervejaria ou qualquer outra tiver dificuldades, podemos ter uma ampliação na concentração, e isso é ruim para o consumidor."
Em segmentos com poucos concorrentes, existe a possibilidade de que os líderes de mercado tenham maior poder de barganha na hora da negociação de compra e venda. A questão é que, na prática, uma possível concentração deverá atingir mais o setor de bares e restaurantes do que os supermercados. A razão é simples: os supermercados se fundiram nos últimos anos e ganharam poder de pressão nas negociações.
A Associação dos Bares e Restaurantes de São Paulo disse ontem temer práticas monopolistas. Já o sindicato do setor não vê problemas.
Fonte: Folha de São Paulo
Data: 24/06/05
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