Palácio Piratini: O mais quente dos duelos
27/09/2006
O Piratini como meta
ALEXANDRE ELMI E IARA LEMOS
O estúdio da RBS TV foi, das 22h38min de ontem até as primeiras horas da madrugada de hoje, o palco do mais quente dos debates promovidos até agora entre os pretendentes ao Piratini. Dos 10 candidatos, apenas Pedro Couto (PSDC) e Guilherme Giordano (PCO) não participaram. Durante duas horas e 20 minutos, os candidatos discutiram a administração pública, trocaram gentilezas e grosserias e mostraram facetas pouco conhecidas dos eleitores.
Logo na largada, os três candidatos que lideram as pesquisas puderam duelar entre si. No primeiro tema sorteado, infra-estrutura, a candidata Yeda Crusius escolheu Olívio Dutra (PT), deixando claro o alvo que pretendia atingir na luta por uma vaga no segundo turno da disputa. Yeda perguntou o que Olívio pretendia fazer para recuperar a capacidade do Estado de atrair empresas, mas, ao argumentar na réplica que o essencial era solucionar o problema da crise do Estado, recebeu um contragolpe:
- O governo que a senhora apoiou destruiu a capacidade do Estado.
Olívio optou por questionar as realizações de Germano Rigotto (PMDB) no tema da habitação. Houve um conflito de números. Rigotto garantiu ter construído 18.648 casas, nas quais teriam sido investidos R$ 32 milhões, enquanto no governo anterior teriam sido aplicados R$ 7,7 milhões. Olívio rebateu, garantindo ter construído 12 mil casas.
Privatização
Quando questionou o fato de o governador ter aprovado às pressas a lei que criou o Fundo Estadual de Precatórios e ter sacado R$ 250 milhões para pagar salários, Yeda permitiu que Rigotto criticasse as posições do vice da tucana, Paulo Afonso Feijó (PFL). Ao dizer que teve de administrar o Estado sem alternativas como a venda de estatais, Rigotto lembrou que Feijó é defensor da privatização do Banrisul.
- A privatização não consta no nosso programa de governo - respondeu Yeda, acrescentando que Rigotto havia feito muito pouco na para controlar as finanças.
Finanças tucanas
Ao comentar a réplica, Rigotto fez a primeira das ironias em relação às dificuldades financeiras enfrentadas por Yeda. Disse que costuma administrar a sua família e sua campanha da mesma forma como administra o governo. Mas foi Alceu Collares (PDT) que tripudiou diretamente sobre o episódio. O ex-governador leu trecho da entrevista do ex-marqueteiro da campanha tucana Chico Santa Rita a Zero Hora na qual ele recomenda que os eleitores gaúchos não votem no PSDB.
- Se ele diz isso, é porque tem razões profundas para alertar - atacou Collares.
- Depois que ele saiu, os programas melhoraram muito e os índices cresceram. Eu assumi a responsabilidade (de administrar a campanha), cortei gastos - retrucou Yeda.
Santa Rita abandonou a campanha do PSDB por falta de pagamento, sem receber R$ 700 mil, pagos com cheques sem fundos.
Guerra fiscal
Na vez de perguntar sobre finanças públicas, Rigotto pediu a Collares que expusesse sua opinião em relação à guerra fiscal. O governador disse que defende incentivos fiscais para empresas de fora se instalarem no Estado. Collares criticou a administração do peemedebista:
- Sem desenvolvimento econômico não tem solução, tem de resolver a crise financeira que se agravou na sua gestão. Não estamos aqui para fazer firulas.
Rigotto enumerou empresas que se estabeleceram em solo gaúcho na sua gestão. Entre os investimentos, lembrou o centro de distribuição da Toyota em Guaíba, no terreno que seria destinado à fábrica da Ford.
- Só tem estacionamento em Guaíba. Não dá para falar que é investimento - disse o ex-governador.
Dois blocos depois, Rigotto disse que o centro de distribuição da montadora japonesa gerava uma arrecadação de R$ 70 milhões em impostos aos cofres gaúchos.
Provocações
Sempre provocativo, o candidato Roberto Robaina (P-Sol) atacou a forma como os governos do PT e do PMDB administraram a dívida com a União. Disse que ambos não souberam enfrentar o governo federal, que estaria "roubando" recursos do Rio Grande do Sul. Robaina questionou o que Francisco Turra (PP) pretendia fazer na área de segurança, que foi administrada pelo PP no governo Rigotto.
O candidato do P-Sol disse que a administração do ex-secretário e hoje deputado federal José Otávio Germano (PP) havia sido um desastre.
- Desastre é a segurança do país, inclusive em Estados governados pelo seu partido anterior ( PT) - respondeu Turra.
( alexandre.elmi@zerohora.com.br )
( iara.lemos@zerohora.com.br )
Como eles se saíram
ALCEU COLLARES
Mais apagado do que em debates anteriores, o candidato do PDT mostrou desatenção, como ao esquecer a pergunta a Roberto Robaina (P-Sol) e lhe indagar sobre finanças. Brilhou ao provocar Yeda Crusius sobre a crise financeira de sua campanha.
BETO GRILL
O candidato do PSB teve uma apresentação sem grandes vôos. Prometeu aumentar salários do funcionalismo quando houver aumento de arrecadação. Em vários momentos lembrou sua experiência de ex-prefeito e criticou Roberto Robaina, do P-Sol.
EDISON PEREIRA
Com voz empostada, Edison Pereira procurou dar um tom dramático a suas intervenções. Quando falou sobre um dos temas mais caros ao PV, o ambiente, condenou a plantação indiscriminada de eucaliptos, que sugam água até das áreas vizinhas.
FRANCISCO TURRA
Com a vantagem de não ser alvo preferencial dos adversários, Francisco Turra manteve o tom sereno. Só levantou a voz quando Roberto Robaina (P-Sol) o questionou sobre "o caos na segurança", administrada pelo PP de 2003 até março deste ano.
GERMANO RIGOTTO
O governador e candidato do PMDB à reeleição abandonou o estilo doce e desafiou Yeda e Olívio sobre, respectivamente, privatizações e fim do Fundopem. Provocativo, disse a Yeda que costuma administrar a campanha como governa o Estado.
OLÍVIO DUTRA
Foi atencioso com Collares e Turra, potenciais aliados num segundo turno. Foi pouco exigido no terreno que mais afeta seu partido em nível nacional, o da ética. Sobre o real supervalorizado, disse que o dólar baixo não é um problema real para o Estado.
ROBERTO ROBAINA
Manteve o estilo contundente. Atacou desde a iniciativa da Assembléia para tentar cortar gastos do Estado à aposentadoria para ex-governadores. Qualificado de "CC" (detentor de cargo em comissão) e "trânsfuga político" por Olívio, disse que nunca foi CC.
YEDA CRUSIUS
Em ascensão nas pesquisas, a tucana foi a mais atacada. Num tom mais informal do que o habitual, disse que não se assusta "com fala grossa" nem se engana "com fala mansa". Ressaltou que subiu nas pesquisas após demitir o marqueteiro.
Fonte: Zero Hora
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