A avalancha da família Berro
26/03/2007
Enquanto o governo do Estado se prepara para enfrentar a bola de neve de dívidas acumuladas nos próximos meses, a técnica do Tesouro Márcia Capaverde Berro, 48 anos, está certa de que viverá uma experiência parecida em sua própria casa.
Com a experiência de quem trabalha há 30 anos na Secretaria da Fazenda e já passou por outros atrasos de salário, a servidora não tem dúvida de que a metáfora é a melhor para descrever o que os juros e multas farão com sua economia doméstica.
- É uma bola de neve que vou levar não menos de dois anos para correr atrás e alcançar - define ela.
Basta elencar despesas e investimentos que uma família de classe média costuma ter para se perceber a dimensão do estrago. Com um rendimento líquido mensal de R$ 4 mil, Márcia, viúva, sustenta dois filhos e ajuda a mãe, de 72 anos, que recebe dois salários mínimos de aposentadoria. No dia 31, quando receber os R$ 2,4 mil prometidos pela governadora, Márcia terá de pagar R$ 2 mil referentes às mensalidades da PUCRS e da Fargs, onde estudam os filhos. O mais velho, de 25 anos, cursa Informática e precisa de Internet banda larga em casa para estudar. O serviço se soma a outras três contas de telefone celular, além do transporte e alimentação de todos os três integrantes da família na lista de contas com vencimento no início do mês.
Mas antes que Márcia pense em tocar nesse dinheiro, pelo menos R$ 1,2 mil serão descontados diretamente na fonte, e justamente por uma empresa do Estado, o Banrisul. O valor se refere ao financiamento da casa própria.
- Eu não esperava por isso. E quem tem dois filhos na faculdade simplesmente não tem como fazer reservas - lamenta a servidora, que diz não ter poupança para custear os dias de prejuízo.
Técnica terá de optar entre se endividar ou atrasar contas
Para Márcia, mesmo que o atraso seja breve, os juros pagos enquanto o pagamento integral não vem serão os principais vilões de suas finanças. Só a prestação do carro usado que adquiriu em 36 parcelas deve lhe render pelo menos R$ 100 de multa por 10 dias de atraso - a mensalidade costuma ser de R$ 300.
Os próximos dias serão de muitos cálculos na casa dos Berro.
- Vou pôr na ponta do lápis para ver se vale a pena se endividar ou atrasar as contas - afirma a técnica.
O único dinheiro intocado deve ser mesmo a remuneração dos estágios dos filhos estudantes. O cheque especial e seus juros proibitivos podem ser a salvação da família Berro - ou o início de outra avalancha ladeira abaixo.
Fonte: Zero Hora de Sexta Feira - 23/03/07
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