Martini avisa que 2008 será o ano de colher resultados
17/03/2008
Delson Martini é um dos homens fortes neste segundo ano de gestão Yeda Crusius. Depois de comandar a CEEE em 2007, com uma atuação que chamou a atenção da governadora, ele foi chamado para ser secretário-geral de Governo, com a missão de promover a integração da nova equipe do primeiro escalão. Menos de dois meses depois, Martini recebeu uma nova missão: cuidar da Comunicação. Economista, ele não vê problemas em exercer a função, porque foi gestor na iniciativa privada, podendo atuar em qualquer setor. Terá um papel fundamental na virada pretendida pelo Piratini: transformar a imagem do governo, arranhada em 2007, e garantir melhores índices de popularidade.
Entusiasmado com os rumos do governo, ele destaca que 2008 será o ano de colher resultados e que a gestão Yeda Crusius está "preparando o Rio Grande para ser um Estado melhor para se viver". Nesta entrevista, concedida em seu gabinete, no 21º andar do Centro Administrativo, Martini explica como pretende fazer do Estado uma fábrica de boas notícias. Ele destaca os programas estruturantes, que serão lançados em abril, e aponta três objetivos principais. Além de melhorar a comunicação instituicional, quer tocar a agenda estratégica do governo, integrando todas as instâncias, e administrar o complexo do Piratini. Confira os principais trechos da conversa.
Jornal do Comércio - Como surgiu o convite para assumir a Secretaria-Geral de Governo?
Delson Martini - Foi pelo trabalho desenvolvido na CEEE. Adotamos diversas medidas muito próximas à situação do governo do Estado, pois a companhia também sofre com problema de déficit, dificuldade de pessoal, e tinha deixado de investir nos últimos anos. Na medida em que os resultados aconteceram, a governadora passou a acompanhar os passos da CEEE, participar de eventos, inaugurações. Então, ela disse que eu já havia ajustado a casa na CEEE. Assim, comunicou que eu teria a nova missão de formar a equipe de secretários e ajudar a melhorar a integração entre as secretarias.
JC - Qual sua avaliação neste primeiro período?
Martini - É visível a maior aproximação da governadora com poderes, partidos, Assembléia, Judiciário e com os diversos segmentos sociais. Com a criação da Secretaria-Geral, a governadora está mais liberada de atividades burocráticas e administrativas do Palácio Piratini. Tem maior disponibilidade para conversar com os poderes. Isso é fruto de todo trabalho realizado ano passado. O governo começa a colher, permitindo uma modificação no olhar da população.
JC - E o desafio de dar uma imagem para todas ações do governo?
Martini - O governo é uma estrutura gigantesca, com os mesmos problemas de comunicação das empresas privadas. Por isso, é necessário buscar uma unidade, por meio do interlocutor. A Secretaria-Geral tem essa função. O governo deve ter uma linguagem única, demonstrando o que está fazendo. Não adianta existir um determinado programa sem divulgação para os cidadãos. A Secretaria-Geral tem em suas funções a agenda estratégica, que proporciona o alcance necessário entre governo e população, desenvolvendo as políticas sociais. O segundo aspecto é a comunicação estratégica, que não corresponde apenas à publicidade, significa o governo traduzir a linguagem dos projetos, para tornar os cidadãos conscientes das ações. Também faz a melhor comunicação entre as demais secretarias, porque o governo só se comunicará bem com a sociedade se tiver boa integração interna. O terceiro aspecto chamamos de "administração do Complexo Piratini", uma estrutura cheia de departamentos, suficientes para ocupar o espaço de um gestor ou de um administrador. Essa organização passa para a Secretaria-Geral e libera a governadora das atividades burocráticas.
JC - Não é estranho um economista à frente da Comunicação do governo?
Martini - Meu perfil na iniciativa privada foi de consultor especialista em reestruturação de empresas. Trabalhei nas mais diversas áreas. Um profissional com informações e formação em gestão pode atuar em qualquer área. O setor da comunicação não é o fim do governo, é o meio. O fato de a comunicação se integrar na Secretaria-Geral de Governo é um modelo gerencial público, desenvolvido pela governadora. Não está se substituindo a função de um jornalista ou comunicador na Secretaria de Comunicação Social. A formatação muda: a Comunicação passa a ser um órgão da Secretaria-Geral de governo.
JC - Como ficou a posição do secretário Paulo Fona?
Martini - Isso havíamos acertado desde o início da formação desse novo conceito de Secretaria-Geral. A governadora já tinha comunicado ao secretário Paulo Fona sobre quais seriam as funções da Secretaria-Geral. Não houve nenhum problema, ele estava absolutamente consciente de que seria o porta-voz. E nesta posição ele é brilhante, ninguém questiona a competência e a seriedade com que o secretário desenvolve seu trabalho. No início houve um pouco de reação, porque ele é de fora. No entanto, o Fona conquistou a atenção de todos, que reconhecem uma pessoa extremamente competente para seu trabalho.
JC - O que mudou na comunicação desde a sua entrada?
Martini - Se avaliarmos os motivos de a governadora estar mais próxima e acessível, concluiremos que é conseqüência de estar mais aliviada de algumas tarefas que a mantinham por muito tempo no Palácio. O fato de conversar e de ter contato direto é algo que a governadora gosta, a deixa mais realizada, justamente porque se aproxima mais dos cidadãos.
JC - Quando o governo será "uma fábrica de boas notícias"?
Martini - Está sendo e será o ano inteiro. Na redução dos custos do setor público chegamos ao limite. O governo fez tudo que podia. Outra questão é a eficiência administrativa, um dos itens fundamentais do novo modelo de gestão implantado em 2007. Por que o governo conseguiu terminar a Rota do Sol, por exemplo? Porque conseguiu concluir alguns dos investimentos e pagar uma parte do passivo que herdamos. Na Consulta Popular, o governo débitos de 2003, 2004, 2005, na ordem de R$ 54 milhões. O ano passado também serviu para pagar diversos débitos com fornecedores, que não participavam mais de licitações. Outro item fundamental é o déficit público, reduzido em 50%, um dos melhores resultados que o Rio Grande do Sul já teve. Tudo isso se traduz na retomada de confiança do governo federal, do setor privado e dos organismos internacionais. A viagem da governadora para o Banco Mundial é o coroamento de todo trabalho no primeiro ano de governo. Organismos internacionais apostam na coragem do Estado em enfrentar seus desafios. Havia dúvida sobre o que o governo faria com as estatais. A resposta da governadora foi fortalecer essas empresas, como o Banrisul, a CEEE, que bancou um dos maiores programas de investimentos na área de energia feitos na história da companhia. Com a Sulgás vamos firmar em maio um contrato na expansão do gasoduto de 33 quilômetros. Todas empresas tiveram melhores resultados. Os recursos do Estado para empresas estatais estão sendo repassados com muita eficiência.
JC - O governo errou em 2007 e admitiu isso. Qual foi o maior erro?
Martini - Não diria que foi erro. O ano anterior foi necessário para conscientização da crise do Estado, para enfrentar o problema das finanças públicas. Isso se traduziu para a opinião pública como erro, falta de comunicação ou conflito. Na verdade, não há como reduzir o déficit pela metade, fazer uma reestruturação do setor público, reduzir os cargos de confiança, cortar benefícios e reduzir o custeio sem que haja descontentamentos. O que apareceu como um ano de erros e de conflitos, na realidade foi um ano de enfretamentos de desafios, fundamental para colher os benefícios agora. Não há como um governo dizer não e as pessoas ficarem satisfeitas. O governo cortou 30% do custeio, cortou 30% dos cargos de confiança, porque precisou enfrentar o orçamento da verdade. Claro que houve reação no meio político, que não estava preparado para que o governo dissesse não ao aumento de custo. Hoje a situação muda, visto que colheremos os frutos.
JC - Por que a governadora teve uma avaliação ruim em 2007?
Martini - O tipo de enfrentamento que se fez não chegou à toda população. Se falarmos para as classes "C" e "D" que é fundamental enfrentar o ajuste fiscal, elas perguntarão o que é o ajuste fiscal. Para a população que não tem idéia do funcionamento do setor público, o ajuste fiscal só é importante para pagar servidores. A realidade é distante de muitos cidadãos, principalmente no interior e naqueles setores que não conhecem a máquina pública. A avaliação que se teve é conseqüência da reestruturação que se levou ao longo do ano. Não tenho dúvida que, em 2008, haverá uma reversão desse conjunto de indicadores de avaliação. O governo pediu um aumento de capital para a sociedade, e esta disse que o tamanho do estado é esse que está estabelecido, que o governo deve se ajustar dentro das receitas que já tem. Assim, ficou determinado como prioridade o programa fazer mais com menos. O normal seria fazer grandes campanhas publicitárias, explicando para a população porque o governo tinha que enfrentar o ajuste fiscal. O que ocorreu em Minas Gerais, que teve um ano inteiro de publicidade, sem dinheiro para gastar. Embora saibamos que é importante fazer campanhas esclarecedoras, não tínhamos como pagar em 2007. O governo assumiria compromissos e talvez não conseguisse honrar.
JC - Existe um plano para investir em publicidade?
Martini - Sem dúvida. Começaremos com os programas estruturantes. O governo só conseguirá fazer o que apresentar para a sociedade. Ele está pronto para investir. E a população é muito clara, quer saúde, educação e segurança. Na educação mudamos o debate que era permanente, relativo à necessidade de mais professores. O debate essencial agora, é educação com qualidade. Mudamos o foco de discussão, porque a secretária Mariza Abreu está finalizando um programa de reestruturação em todo o setor educacional no Rio Grande do Sul.
JC - Até o final desta gestão o Rio Grande do Sul será o melhor estado para se viver, como o senhor disse em seu discurso de posse?
Martini - Nesse final de governo seremos o melhor estado para se viver, porque resgataremos a capacidade e confiança para atrair investimentos. O governo conseguirá aplicar muito mais em saúde, educação e segurança pública. O enfrentamento do déficit público tem a finalidade de levar qualidade de vida. O Rio Grande do Sul já foi o melhor estado para se viver, e a reestruturação que se faz é para readquirir essa auto-estima do gaúcho, traduzida em melhores serviços.
JC - E a breve experiência na Casa Civil, como contribuiu para o trabalho na Secretaria-Geral?
Martini - Foi uma experiência fundamental, porque aproxima da Assembléia Legislativa. A oportunidade de conversar com as bancadas, com os líderes políticos é um privilégio que tive, assumindo a função durante um mês. Conhecer o funcionamento do Legislativo é essencial para qualquer secretário.
JC - A governadora foi criticada por não manter uma aproximação com os parlamentares. A escolha do secretário Cézar Busatto foi para resolver esse problema?
Martini - A reversão do quadro começa quando a governadora determina a ampliação do Conselho Político, com uma articulação mais forte com partidos e Assembléia. A Casa Civil e a Secretaria-Geral de Governo são conseqüências dessa estratégia da governadora. O ano passado foi difícil pela implantação de um novo modelo gerencial, que exigiu que o governo se voltasse para ele mesmo. Consolidado esse novo modelo, a governadora fica liberada para se voltar externamente. A ida na Assembléia Legislativa foi um exemplo disso, assim como a ida ao poder Judiciário, a Famurs. A governadora reiterou essa busca permanente de integração de todos poderes.
JC - A escolha do deputado Márcio Biolchi como líder do governo veio fechar essa blindagem da governadora?
Martini - O Márcio Biolchi é um jovem extremamente determinado, que sabe que o Rio Grande do Sul irá superar os desafios. A função dele é fazer a articulação. E é importantíssimo o papel da Assembléia nesse momento, por causa da reafirmação de um conjunto de mudanças estruturais, que passam pelo Poder Legislativo, como a reformulação do IPE, por exemplo.
JC - O que se pode adiantar sobre os programas estruturantes?
Martini - Vamos concluir a formatação em março. Mas os programas serão lançados somente na volta da governadora, da viagem ao Banco Mundial, provavelmente em abril. Com a Casa arrumada, o foco será nos programas estruturantes, objetivando melhor qualidade de vida do cidadão.
JC - Quais projetos de empresas privadas serão reformulados a partir dos programas estruturantes?
Martini - Readquirir a confiança dos investidores e dos empresários se faz demonstrando a posição firme do governo em ajustar a Casa. Nesse ano, o governo traz uma pauta de desenvolvimento, que não fazia sentido em 2007. Ninguém confiaria que o governo seria capaz de bancar programas de investimentos em estrada e em energia. Agora, há consciência de que o Estado está pronto para dar um salto qualitativo na área de infra-estrutura. Outra questão é a disposição do governo em bancar o embargo legal para dar estabilidade aos investimentos. A questão do licenciamento ambiental e investimento nas florestas constitui basicamente isso, a estabilidade do marco regulatório fundamental, principalmente no zoneamento ambiental.
JC - O senhor concorda que a CPI do Detran tem um viés político para atingir o governo?
Martini - A CPI sempre tem um papel político, evidentemente, uma vez que se trás um debate político dentro de uma Casa que é política.
Fonte: Jornal do Comércio
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