Diplomacia no final da gestão Feijó
03/04/2008
Em seu último dia como governador em exercício, o vice recebeu parlamentares da base e da oposição em um almoço inédito em que tentou reforçar a imagem de homem aberto ao diálogo.
Numa cortesia inédita desde que Yeda Crusius tomou posse no governo do Estado, deputados e assessores de PT, PDT, PSB e PC do B compareceram em peso ontem ao almoço de despedida do governador em exercício, Paulo Feijó, após 15 dias à frente do Palácio Piratini.
Assim como os aliados de Yeda, oposicionistas tinham recebido o convite do próprio Feijó, na véspera, em passagem pela Assembléia.
Em meio a carreteiro e feijão, houve troca de afagos.
- Feijó diz que não é do ramo, mas nos deu aula de política. Estamos conhecendo-o melhor - elogiou o chefe da Casa Civil, Cézar Busatto (PPS).
O vice recebia cada convidado na porta e o conduzia até a mesa, preocupado em não atrasar a confraternização, que começou ao meio-dia. À vontade, o líder da bancada do PT, Raul Pont, sentou-se ao lado de Busatto e do então governador, roubando o lugar do líder do governo, Márcio Biolchi (PMDB). Houve brincadeiras.
- Não adianta, Pont. Tu não conseguirás assumir a minha função. Não vou deixar. Quem sabe tu viras nosso vice-líder? - provocou Biolchi.
Pont riu. No final da tarde, no entanto, preferiu marcar posição:
- Fomos porque éramos convidados. Mas entramos e saímos do Piratini como oposição.
No Galpão Crioulo, petistas aproveitaram para alfinetar Yeda em conversas reservadas. Indagado se era a primeira vez que governistas e opositores almoçavam juntos no Piratini desde o início da gestão, o deputado estadual Elvino Bohn Gass (PT) afirmou:
- Nunca fui convidado por Yeda. Estou almoçando com o governo Feijó.
Empolgado, vice pensou em reeditar Simples Gaúcho
A aproximação interessa aos dois lados. Depois de um primeiro ano de mandato marcado por choques com Yeda, Feijó cultiva a imagem de homem de diálogo. Além de explorar fissuras no governo, os oposicionistas aproveitaram a gestão do vice, que é empresário, para tentar reeditar o Simples Gaúcho. O programa prevê renúncia fiscal para aumentar a competitividade. Após a rejeição do pacote de impostos de Yeda no ano passado, a iniciativa foi sepultada.
Pela manhã, integrantes da Comissão Parlamentar da Pequena e Média Empresa pediram a Feijó para encaminhar o projeto à Assembléia. O governador em exercício se empolgou:
- Não vou ser o entrave. Eu defendo isso. Vamos fazer.
Feijó chegou a acertar o envio do projeto às 11h30min ao Legislativo, e a decisão repercutiu pela manhã. Uma hora antes, o chefe de gabinete de Yeda, José Carlos Breda, comunicou o fato a Busatto, que tratou de frear a iniciativa. Qualificados pelo próprio Feijó como "bombeiros", Busatto e o secretário-geral de governo, Delson Martini, convenceram o governador em exercício a esperar Yeda.
- Os dois ponderaram que a minha atitude poderia não ser bem interpretada pela governadora - explicou Feijó.
O reenvio da proposta estimulou deputados a prestigiar a despedida de Feijó. Ao dar as boas-vindas, ele explicou o recuo:
- Talvez isso tenha ocorrido pela minha inexperiência e pragmatismo em ver o problema e querer resolvê-lo. Isso poderia gerar rompimento.
Fonte: Zero Hora
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