Sindicatos resistem a mudança em carreiras
28/04/2008
Piratini planeja implementar metas de desempenho
Na empreitada pela implantação de mudanças nas carreiras do funcionalismo, a governadora Yeda Crusius não vai encontrar apoio da grande maioria das entidades que representam servidores. As propostas, que mudam a forma de ascensão no serviço público, foram vistas com resistência pelos sindicatos.
Uma das alterações previstas, a premiação por desempenho, foi recebida pelo Cpers-Sindicato como uma tentativa de desarticular o plano de carreira da categoria, de 1974.
- O que é desempenho? É o número de alunos aprovados? Isso foi feito em São Paulo e não resolveu - diz Simone Goldschmidt, presidente do Cpers.
Simone alerta para dificuldades no desafio de impor os sistemas de avaliação para todo o Estado. Ela teme que os critérios desconsiderem diferenças regionais no Rio Grande do Sul - muitas vezes percebidas entre bairros de uma mesma cidade.
Outro ponto da proposta incomoda os professores: na tentativa de assegurar resultados práticos, o Piratini pretende monitorar cursos realizados por servidores em busca de promoção.
- Os cursos feitos são de áreas específicas. Os discursos do governo são extremamente rasos, só para deixar a imagem dos profissionais abaixo do desejável - complementa Simone.
Associação alerta para possíveis distorções
Inicialmente, o governo deverá propor as novas regras para as carreiras da educação, segurança pública e saúde. Entre os profissionais da Brigada Militar, a falta de diálogo e de clareza na construção das mudanças provocam queixas. A possibilidade da criação de metas no combate à criminalidade pode provocar distorções no atendimento à sociedade, avalia o soldado Leonel Lucas, presidente da Associação Beneficente Antônio Mendes Filho dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar (Abamf).
- A segurança é uma área sensível. O pessoal pode querer mostrar serviço - afirmou, referindo-se a possíveis excessos em operações policiais.
A idéia de premiar servidores por produtividade, porém, não é uma novidade. O expediente é adotado na Secretaria da Fazenda que gratifica as equipes quando metas de arrecadação são alcançadas. Para o presidente da Associação dos Fiscais de Tributos Estaduais (Afisvec), Renato Salimen, o método pode ser interessante, dependendo das características da carreira. No caso dos fazendários, o problema, avalia ele, é a falta de regularidade: alguns governos implantaram o benefício, e outros o suspenderam.
- Não é uma maneira fixa de remuneração - assinala.
( adriano.barcelos@zerohora.com.br )
ADRIANO BARCELOS
O que está em jogo
O governo Yeda Crusius pretende instituir a meritocracia no serviço público, o que significaria exigir dos servidores critérios claros de competência e cumprimento de metas como condição para a ascensão hierárquica nas carreiras.
Atualmente, a progressão de padrão no serviço público se dá por tempo de serviço e pelo acúmulo de cursos e seminários. O governo argumenta que os resultados desses cursos, principalmente na educação, pouco se aplicam à realidade das salas de aula - ponto de vista contestado pelo Cpers.
As principais mudanças
1) Premiação por desempenho
O que o governo quer:
A mudança seguiria os moldes do que já é oferecido para carreiras como a dos fiscais fazendários. Professores e diretores poderão ser gratificados de acordo com a evolução de aprendizado dos alunos, por exemplo.
O que os servidores pensam:
O Cpers questiona os critérios que serão utilizados para avaliar o desempenho. A entidade dos funcionários da educação entende que experiência semelhante já foi colocada em prática em São Paulo, sem sucesso. Servidores da segurança defendem que é impossível aplicar a premiação com salários básicos considerados baixos.
2) Ascensão profissional
O que o governo quer:
O governo quer ter maior controle sobre a qualidade dos cursos de qualificação e seus resultados práticos. A idéia é monitorar estes cursos, que seriam oferecidos por meio de parcerias com universidades, faculdades e ONGs.
O que os servidores pensam:
Segundo os professores, os cursos válidos para promoção são definidos pelo plano de carreira. O Cpers avalia que os cursos realizados têm impacto positivo na qualidade do trabalho realizado pelos educadores.
3) Concursos públicos por área
O que o governo quer:
Hoje, os professores ingressam no magistério em concursos gerais. O governo pretende que uma vaga para professor de matemática seja avaliado por sua especialização.
O que os servidores pensam:
Os professores não vêem novidade na proposta do governo. Os concursos específicos, conforme o Cpers, já existem.
Simone Goldschmidt, presidente do Cpers-Sindicato
"Os discursos do governo são rasos, só para deixar a imagem dos profissionais abaixo do desejável."
Fonte: Zero Hora
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