Rio Grande recebe alta após psicose financeira
08/05/2008
O poder público estadual deitou-se, ao longo de 2007, no divã da verdade. A neurose diagnosticada há pelo menos 10 anos extrapolou para uma psicose financeira. Por isso foi necessário um choque de gestão, com maciças doses de antidepressivos, ansiolitícos e diazepínicos administrativos para acalmar o paciente crônico e fazê-lo aceitar a dura realidade do Tesouro estadual. O Rio Grande do Sul era caso típico de esquizofrenia financeira. Vivemos na bipolaridade, passando da euforia por um passado com glórias e abastança econômica para a mais profunda depressão. Gaúchos têm uma tolerância baixa às frustrações. O Estado foi tomado pelo terror sem nome, que é um estado de ansiedade o qual o paciente não consegue descrever. Ora, é a linguagem que determina o sentido e gera as estruturas da mente. Pois a governadora Yeda Crusius, a psicanalista que trata do paciente há 16 meses, conseguiu trazê-lo à realidade. Ao lado de uma safra excelente de grãos, foram anunciadas obras rodoviárias, mais o primeiro trecho recuperado da Baltazar de Oliveira Garcia, e divulgado o novo mínimo regional, reajuste de 10%. Criticado pelos empresários, aliás. Enfim, nada espetacular, mas uma agenda positiva que tende ao crescimento. O choque não foi mais aquele de eletricidade de baixa voltagem, praticado em manicômios até os anos de 1940. Foi mesmo de gestão, de qualidade para que o paciente saísse do surto. Falta muito, mas a terapia não pode ser do tipo breve. Dará resultados até 2010.
O Rio Grande está em recomeço. Com a ajuda geral, o paciente receberá alta proximamente. Terá fase de readaptação e voltará à vida normal. Yeda Crusius custou mas conseguiu, por ser mulher, uma comunicação recíproca com o seu bebê administrativo, o Estado. Recíproca, com a sensorialidade. Com visão para enxergar a realidade. Auditiva para ouvir as verdades. Com olfato para sentir o cheiro fétido dos problemas e tato para tocar nas feridas de décadas. Finalmente, através do sabor, para sentir a melhora do humor pampeano. O tratamento mostrou resultado e o paciente respondeu aos medicamentos e à terapia intensiva. As palavras não formam uma autêntica salada de boas intenções, sem resultados práticos. Yeda Crusius interage pois soube discriminar os diferentes significados nos sinais simbólicos emitidos pelas finanças estaduais. Foram choros e gritos que externavam desconforto, mal-estar generalizado e mesmo a folclórica "manha". A governadora aboliu todos os tipos e funções que a mentira possa ter na condução do Estado. Desde a mentira comum, que faz parte da inevitável hipocrisia social, passando pela mentira piedosa para que se evite sentir tipos de vergonha. Ou a mentira do impostor, onde uma situação falsa é criada para ser vivida como verdadeira, enganando milhões de pessoas. Finalmente, a mentira psicótica, onde a realidade é ignorada. Mas os psicanalistas ensinam que todas as pessoas, de alguma forma e com maior ou menor intensidade, têm uma parte mentirosa. O engano geralmente é o preferido, pois nos deleita. Assumir a verdade incomoda. Normalmente são os temores, e não a virtude, que mantêm a ordem na sociedade. O Rio Grande não foi uma exceção, mas tem tudo para reerguer-se, mesmo que entre dificuldades. Porém, é um trabalho coletivo. Quanto mais crescer a economia, maiores os problemas. É preciso a união das entidades, do Legislativo, do Judiciário e da população. Ou a governadora, ela mesma, entrará em surto caso as situações críticas do ano passado voltem a ser postas diante do Piratini.
Fonte: Opinião - Jornal do Comércio
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