Investigado, presidente do TCE diz que não deixa cargo
11/06/2008
Vargas é citado em escutas interceptadas pela Polícia Federal
Preocupados em resguardar a imagem do Tribunal de Contas do Estado (TCE), seis conselheiros decidiram por unanimidade iniciar ontem uma investigação prévia para averiguar se há suspeita de envolvimento do presidente da Corte, João Luiz Vargas, na fraude do Detran. Apesar do constrangimento no tribunal, ele diz que não pretende deixar o cargo e procura aparentar naturalidade. - Não sinto nenhum mal-estar. Ninguém me pediu para sair - disse o presidente.
Citado em gravações telefônicas por envolvidos e em documentos das empresas subcontratadas pela autarquia, Vargas virou alvo da Corregedoria do TCE, que instaurou o procedimento ontem. O presidente terá 30 dias para se defender e apresentar documentação. No período, será analisado se há indícios de irregularidades. Os conselheiros decidirão em plenário se há elementos para abrir um processo administrativo que poderá levar de uma advertência até a exoneração de Vargas.
- É um acontecimento inusitado. Tomaremos as medidas mais ágeis. Havendo suspeita de ilícito, vamos apurar responsabilidade. Só isso já é um fato muito sério. Alguns dizem que o processo já é uma pena. Por isso, teremos cuidado para evitar injustiça e constrangimentos indevidos - afirmou o corregedor Helio Mileski.
O clima começou a pesar no tribunal na semana passada. No final da manhã de ontem, seis conselheiros se reuniram, sem a presença de Vargas, no TCE. Até mesmo João Osório e Algir Lorenzon, que estavam em férias, participaram da reunião.
A preocupação era dar uma resposta rápida para evitar desgaste à instituição. O momento foi considerado "muito difícil". Após uma hora de avaliação sobre a repercussão de gravações e reportagens, o grupo chamou o presidente para informá-lo da decisão.
- Estou à disposição - afirmou Vargas.
Procurador do MP de Contas conversou com o presidente
Na tarde de segunda-feira, o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino, teve uma conversa reservada no gabinete da presidência. Por lealdade, o procurador informou a Vargas que havia instaurado, na sexta-feira, um expediente para verificar se havia necessidade de representação à Corregedoria para averiguar fatos da Operação Rodin. Motivo: notícias veiculadas e conhecimento das questões relativas à Rodin.
Da Camino avisou que se a Casa não encaminhasse um ofício para pedir a abertura do procedimento, ele próprio apresentaria uma representação à Corregedoria. Da Camino acompanhará o trabalho do corregedor.
No tribunal, há quem espere o afastamento voluntário de Vargas da presidência até o início de julho. Dependendo do resultado da apuração, ele pode ser pressionado a sair antes.
As escutas da Rodin
Em diálogo interceptado pela Polícia Federal, José Fernandes, dono da Pensant e apontado como um dos pivôs da fraude, relata a seu filho Ferdinando a intenção de pedir um favor a "João Luiz". O presidente do TCE visitou Fernandes, de quem é amigo, após ele ter sido preso pela PF.
José Fernandes - Ferdinando, acho que amanhã na visita tinham de ir as duas direções das fundações acompanhar o cara, receber ele no aeroporto.
Ferdinando Fernandes - Sim, a Fatec vai estar lá no aeroporto.
José - Eu tinha pensado de botar mais o Tubias (Calil, vereador do PMDB em Santa Maria), do conselho da Fatec.
Ferdinando - O Gilson está indo.
José - Tá, botar essas pessoas que recepcionam e não dá espaço para nada, a não ser uma visita de... O João Luiz não está em São Sepé?
Ferdinando - Tá.
José - E ele não poderia ir, será?
Ferdinando - Pode.
José - Vamos pedir para ele também. "Vai lá então, acompanha e transforma numa visita de cortesia."
Fonte: Zero Hora
|
|
