CPI termina sem resultados concretos
05/07/2008
Palco de disputa partidária entre simpatizantes e adversários do governo Yeda Crusius, a comissão da Assembléia que investigou fraude milionária aprovou relatório que repete fatos conhecidosDepois de cinco meses de depoimentos e holofotes, a CPI de maior repercussão já realizada pela Assembléia Legislativa teve um desfecho sem avanços na noite de ontem.
Ao fim de cerca de 11 horas e meia de sessão, que se iniciaram com bate-boca entre os deputados, a comissão responsável por investigar a fraude no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) aprovou um relatório que não contém avanços significativos em relação às conclusões da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). As 425 páginas do documento, aprovado por nove votos contra três, têm repercussão prática próxima de zero.
Como todas as sessões da CPI, a última foi palco de uma disputa partidária entre deputados de siglas integrantes do governo Yeda Crusius (PSDB, PMDB, PTB e PP) e de legendas adversárias (PT, PDT, PC do B e DEM). O confronto já se anunciava na quinta-feira, quando o relator Adilson Troca (PSDB) divulgou o texto do relatório e passou a ser fustigado pelo PT por não ter indiciado a governadora e integrantes do primeiro escalão da administração. Troca também foi acusado de supostamente ter usado documentos que não eram do conhecimento da comissão. O presidente da CPI, Fabiano Pereira (PT), indicou pelo menos três pontos do relatório que citavam materiais aos quais os deputados não teriam tido acesso oficial.
Parte dos deputados pediram continuidade de investigações
Entre os documentos questionados pelo PT, estava a íntegra da sindicância feita pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Troca explicou que o documento era público e que tinha sido obtido no blog da colunista Rosane de Oliveira, em zerohora.com. Perdeu a paciência durante fala da petista Stela Farias (PT), que insistia em afirmar que os documentos tinham sido protocolados.
- A senhora não está sendo justa - chegou a gritar.
Às 10h44min, Fabiano suspendeu a sessão para que os deputados se reunissem na sala ao lado do plenarinho. A sessão, que começara com meia hora de atraso, às 9h30min, foi reaberta às 11h4min, quando o presidente anunciou que fora feito um acordo para que os documentos sob suspeita fossem suprimidos do relatório durante a leitura. O acordo foi cumprido. Troca começou a ler o material às 11h15min.
Gripado, com a voz rouca, o relator se revezou na missão com os deputados Cassiá Carpes, Alexandre Postal, Gilberto Capoani e Zilá Breitenbach, que encerrou a apresentação do texto às 19h27min.
Durante a tarde, houve momentos em que apenas o deputado que fazia a leitura e mais um representando a presidência estavam no plenarinho, contrariando o clima da manhã, quando havia mais deputados e inclusive o espaço reservado ao público estava lotado. Houve até manifestações de aplausos por parte de pessoas que usavam camisetas da CUT.
Enquanto era lido o relatório, deputados construíam um acordo para aprová-lo. O acordo para a aprovação envolveu o acréscimo, em justificativas de voto, da sugestão de que as autoridades seguissem investigando pessoas citadas no relatório.
- Mostramos as falcatruas. Foi dada publicidade às pessoas envolvidas. Só nos cabe encaminhá-lo à Justiça para que faça o processo todo - disse o deputado Alexandre Postal (PMDB).
- O relatório lavou as mãos e foi contra a resposta forte que a sociedade gaúcha esperava. Contestamos o relatório, foi uma espécie de tese de defesa dos réus - afirmou Fabiano.
O resultado da votação refletiu a divisão da CPI. Dos nove votos favoráveis ao texto de Troca, cinco apresentaram restrições e indicaram a continuidade das investigações por órgãos como o Ministério Público Federal e o Ministério Público de Contas. Os três votos contrários foram do PT e do DEM. Ao sustentar o voto contrário, os petistas apresentaram declaração de 300 páginas no qual pedem indiciamento de autoridades e apuração referente à compra da casa da governadora. A sessão foi encerrada às 20h54min, com abraços e felicitações entre deputados, assessores e funcionários da Assembléia.
Fonte: Zero Hora
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