Para Wenzel, chegou a hora da virada do governo do Estado
07/07/2008
Com o fim da CPI do Detran, o novo chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel (PSDB), entende que chegou o momento da virada do governo.
Com o fim da CPI do Detran, o novo chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel (PSDB), entende que chegou o momento da virada do governo. Para ele, a crise política no Palácio Piratini é uma oportunidade para o Estado dar um salto de qualidade, resolvendo o problema da corrupção em órgãos públicos como o Detran. Para Wenzel, a parte administrativa do Estado vai muito bem. O que falta é a articulação política, desafio que ele acredita que poderá resolver. Para aliar desenvolvimento econômico e estabilidade política, o tucano aponta o estabelecimento de uma agenda positiva e o diálogo com o Parlamento. Também destaca ações de fiscalização e transparência. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio, o ex-prefeito de Santa Cruz do Sul fala ainda da questão ambiental, já que foi titular da pasta no governo de Germano Rigotto. E também aborda o trabalho do gabinete de transição e a Carta Compromisso.
Jornal do Comércio - Como o senhor avalia as perspectivas do governo em termos políticos e econômicos?
José Alberto Wenzel - Deve haver uma junção. Não pode o aspecto econômico andar separado do político, porque, quando se dá um problema político, principalmente de grandeza igual ao que está acontecendo, o resto pode ser afetado. A administração está indo bem, agora, a visibilidade dessas ações e a articulação política devem ser aprimoradas. Até o final do governo, a gestão e a questão política estarão juntas. Passada a CPI, é importante que se implementem com mais solidez instrumentos de averiguação - e talvez essa seja uma das questões da Carta Compromisso. Temos a Procuradoria-geral do Estado, as sindicâncias, tudo isto que está acontecendo. Mas os controles diários devem ser um pouco mais aprimorados. Isto não vai parar, não podemos ficar na fase da CPI, isso é um degrau da escada. Temos que subir esta escada e partir para a virada, para fazer o desenvolvimento econômico integrado com a política.
JC - A Cage (Contadoria e Auditoria-geral do Estado) fez apontamentos de irregularidades no Detran nos anos da fraude. Cópias de seus relatórios vão para a Assembléia Legislativa, Tribunal de Contas e Casa Civil. O senhor pretende estar mais atento a esses relatórios do que seus antecessores?
Wenzel - Não quero fazer julgamento sobre quem me antecedeu. O que ficou para trás tem que ser resolvido, mas com outro tempo. Quero olhar para frente. Tudo que vier aqui vai ser rigorosamente averiguado. Não vai ter um documento que não tenha uma avaliação adequada.
JC - O senhor assume a interlocução política no momento mais agudo da crise do governo. Quais as perspectivas para essa tarefa?
Wenzel - É realmente um momento agudo da política rio-grandense. Ao mesmo tempo, percebo que essa crise não deixa de ser uma grande oportunidade para o Rio Grande do Sul dar um salto qualitativo muito importante. Coube à governadora Yeda Crusius um espaço na história rio-grandense de, além de fazer um ajuste fiscal, também passar por essa fase da averiguação de todos os fatos até suas últimas conseqüências. A partir disso, vai se construir uma proposta de grandeza do Rio Grande do Sul.
JC - A própria governadora já admitiu que falta solidez na sua base de sustentação na Assembléia, onde enfrentou a CPI do Detran. Como será seu relacionamento com o Parlamento?
Wenzel - Uma das tarefas fundamentais é essa articulação política com o Parlamento. Já fizemos um almoço com o PMDB, um café-da-manhã com o PTB, com o PSDB e assim vamos passando de bancada em bancada, buscando essa articulação. Partido por partido, mas também individualmente com cada deputado. Estamos fazendo uma aproximação para ter um bom resultado. Estabelecer esse apoio e criar uma agenda positiva.
JC - E a parceria com a secretária-geral de Governo, Mercedes Rodrigues?
Wenzel - Existe um desenho novo da Casa Civil. A Mercedes fará a parte administrativa, da infra-estrutura, permitir que a Casa Civil tenha condições de andar e que possa fazer a articulação política para dentro, mas essencialmente para fora, para o Parlamento, para a sociedade, assim como para os colegas secretários.
JC - Vai haver mudanças no secretariado?
Wenzel - Disse numa reunião do secretariado, assim como na minha posse, que a governadora soube escolher muito bem o secretariado. São pessoas dedicadas, abnegadas. Evidentemente que cabe a ela fazer as modificações que ela entender que sejam necessárias, no tempo e no modo certo.
JC - Como foi a conversa até o senhor ser convidado para chefiar a Casa Civil?
Wenzel - De longa data, tenho amizade com a governadora Yeda Crusius. Já formei uma dobradinha com ela quando fui candidato a deputado estadual, enquanto ela era candidata à deputada federal. Temos biografias que vêm andando juntas. Tem nos aproximado muito a questão de projetos importantes para a região de Santa Cruz do Sul - o Duplica RS foi lançado lá. Então, temos vários projetos em comum que estão andando. Como prefeito do PSDB, procurei dar minha contribuição. Eu era prefeito de um município importante, Santa Cruz do Sul. Mas com o chamamento da governadora num momento de crise, não havia nem como titubear. Entendi como uma convocação. Ela impôs que eu aceitasse esse convite, que muito me honra, mas que também me traz uma responsabilidade grande. Graças a Deus, meu povo entendeu isso.
JC - Antes de assumir, o senhor chegou a ser consultado sobre o gabinete de transição?
Wenzel - Não. Depois que vim para o governo é que comecei a participar do gabinete de transição. Uma proposta da governadora, de buscar essa representação da base parlamentar, dos partidos, o que é muito importante e oportuno num momento de dificuldade. Foi entregue à governadora o documento do grupo de transição e ela está em um momento de reflexão para poder, além de colocar o toque pessoal, buscar o que tem que ser feito nesta carta.
JC - Qual será o resultado do trabalho do gabinete de transição?
Wenzel - É a demonstração de uma atitude clara de buscar interlocução com as forças políticas. Porque a parte administrativa está muito boa. O ajuste fiscal é impressionante - e aqui não estamos desfazendo nenhum governo anterior. Coube à governadora Yeda Crusius fazer esse ajuste fiscal. Até o final do ano que vem, pretendemos que os R$ 2,4 bilhões de déficit estejam zerados. A vinda de recursos do Bird vai permitir R$ 250 milhões de ganho só na troca de juros. É muito significativo. Então, em termos de gestão, tudo está indo bem. O que falta é uma consolidação das questões políticas. E é para isso que estou aqui.
JC - O Estado era considerado exemplo de ética. O que mudou? A corrupção sempre existiu e foi encoberta? É exagero dizer que somos diferenciados do resto do País?
Wenzel - Entendo que está acontecendo o seguinte: a CPI do Detran foi transformada num instrumento para julgar o governo, não se limitou a fazer averiguação dos fatos pertinentes. Alguns setores quiseram sempre julgar o governo, o que foi injusto e inadequado. A CPI tem que fazer seu trabalho e sempre terá no governo um parceiro. Quem primeiro buscou a sindicância foi a governadora. Ela determinou através da Secretaria da Administração que fossem feitas as sindicâncias no Detran. Quer dizer, a governadora tomou as iniciativas necessárias, isso tem que ficar claro para a sociedade. Em nenhum momento, o governo foi omisso naquilo que lhe cabe.
JC - Havia um consenso de que o gaúcho era diferente, que aqui a justiça era melhor, os parlamentares eram melhores, os partidos eram melhores e agora parece que os fatos estão desmentindo tudo isso. O que o senhor acha?
Wenzel - Vou dizer o inverso. Mais uma vez o Rio Grande do Sul está na frente, porque não quer dizer que em outros lugares não estejam acontecendo coisas indevidas. O Rio Grande do Sul olhou para dentro, olhou para si e está resolvendo os seus problemas. Entendo que mais uma vez é um mérito do Estado - não vou julgar os outros estados. O Rio Grande do Sul está fazendo a sua tarefa de casa, doída, sofrida, porque isso não é bom, mas dói para todos os gaúchos, machuca um pouco a auto-estima de cada um. Mas, por outro lado, daqui a algum tempo, vamos dizer que foi bom termos feito isso, que foi bom que isso tenha acontecido.
JC - O senhor acha que as irregularidades vão diminuir a partir de agora?
Wenzel - Com certeza. Até pelo controle externo. Porque temos que solidificar mais os controles internos, mas também os controles externos serão cada vez mais rígidos. A própria imprensa. Toda essa questão da comunicação que permite hoje que todos saibam de tudo. São controles externos da sociedade que nos ajudam.
JC - O senhor falou que as boas notícias que o governo tem não estão aparecendo. Isso é responsabilidade da imprensa ou problema de comunicação do governo?
Wenzel - Todas as pessoas que vieram aqui apontaram problemas de comunicação. Não culpo a imprensa. Pelo contrário, a vejo nos permitindo o feedback. Se vai para imprensa é porque tinha que ir. E esse governo não tem nada para esconder.
JC - O ex-secretário-geral de Governo, Delson Martini, acumulava também a secretaria de Comunicação. Agora a cadeira ficou vaga.
Wenzel - A governadora deve anunciar mudanças na área de Comunicação nos próximos dias. Ela vai trabalhar essa questão de forma diferenciada.
JC - O que o senhor pode adiantar da Carta Compromisso?
Wenzel - É um documento de exclusiva prerrogativa da governadora e seria prematura qualquer coisa que eu falasse sobre o assunto. Posso dizer que a Carta está sendo olhada pelo resto do País. Já vi várias manifestações de outros estados, curiosas e ansiosas por saber o que vai ser essa Carta Compromisso, porque ela não deixa de ser, nesse momento, um divisor de águas. É uma forma nova de enfrentamento dos problemas e de busca de uma responsabilidade compartilhada do ponto de vista político.
JC - Como o senhor avalia o episódio ocorrido com seu antecessor Cézar Busatto e o vice-governador Paulo Feijó?
Wenzel - As pessoas em geral, mas especialmente os gaúchos, gostam da transparência total, assim como vocês estão fazendo aqui comigo. Vocês me disseram que estão gravando. Então, não é o fato de gravar ou não gravar, é a relação de transparência. Mas não gostaria de me manifestar sobre o vice-governador neste momento, porque meu olhar é para a frente e todos são bem-vindos.
JC - O vice-governador é um dos principais críticos do governo. O senhor pretende se encontrar com ele?
Wenzel - Minha relação é institucional. A governadora do Estado se chama Yeda Crusius. No impedimento dela, assume o vice. Assim, a relação se estabelece institucionalmente.
JC - Fora dessa possibilidade o senhor não pretende procurar o vice-governador?
Wenzel - A não ser por determinação da governadora.
JC - Qual sua avaliação sobre o relatório da CPI do Detran elaborado pelo deputado Adilson Troca (PSDB)?
Wenzel - Prezo muito a soberania e independência dos poderes. Então, não gostaria de me manifestar. O que posso dizer é que o Adilson Troca é um grande deputado, uma pessoa decente, que luta muito pelo Estado.
JC - A crise no Estado pode interferir no resultado das eleições de outubro para os partidos da base aliada ou a repercussão só acontecerá em 2010?
Wenzel - Os partidos da base aliada poderão levar uma boa mensagem aos seus eleitores e militantes, de que o Estado está enfrentando a situação. A governadora é uma pessoa determinada e corajosa e isto é um exemplo para os municípios. Então, é uma mensagem positiva, que cada candidato pode levar aos seus cidadãos. É uma mensagem corajosa, otimista e que vai render bons frutos.
JC - Vai repercutir positivamente nas urnas?
Wenzel - Sim. Se não tivéssemos feito as sindicâncias, se tivéssemos influído para que não acontecesse a apuração dos fatos, aí sim seria negativamente. Mas foi o contrário. A governadora foi a primeira que disse para fazer sindicância, para apurar os fatos até suas últimas conseqüências. Isso vai ser muito positivo.
JC - O presidente da Assembléia Legislativa, Alceu Moreira, apresentou projeto para elevar os salários da governadora, do vice e dos secretários. Qual sua avaliação? Foi um momento oportuno para essa proposta?
Wenzel - Esse é o momento da depuração, da reflexão, da busca de soluções. Mas é também o momento da verdade, de dizer que o salário da governadora é altamente injusto. Uma governadora do Estado do Rio Grande do Sul ganhar R$ 7 mil... Não orgulha nenhum gaúcho. Quero parabenizar o presidente da Assembléia, Alceu Moreira, pela coragem de sua iniciativa em um momento como este. Este é o momento (adequado) sim.
JC - O senhor foi secretário de Meio Ambiente do governo Germano Rigotto. Como avalia a gestão ambiental no Estado hoje?
Wenzel - Está se construindo ambientalmente um desenvolvimento sustentável no Estado. Assim, começam a cair alguns mitos, que se construíram ao longo do tempo. Por que não fazer o consorciamento de eucalipto com criação de gado e de ovelha? Passamos por pelo menos duas fases na área ambiental. A primeira foi de alerta, com José Lutzenberger, Magda Renner, Augusto Carneiro. Eu mesmo subi em árvore, uma Timbaúva, em um terreno lá em Santa Cruz do Sul, onde queriam fazer um loteamento. Com minha atitude impedi o loteamento. Eu era vereador. Esta fase foi bonita. Depois vieram a Conferência de Estocolmo e a Eco-92, da qual participei. Ali decidi ingressar na vida pública, no Rio de Janeiro. Agora, estamos em uma fase das soluções ambientais. Então, nesses 30 anos, houve uma construção. Agora as pessoas querem saber o que podem ou o que não podem fazer. Mais do que isso, como podem fazer.
Fonte: Jornal do Comércio
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